Então esse é você?!

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Ágatha desce as escadas sem ânimo algum, esse seria seu primeiro dia na faculdade dali, a mesma que Tomas estudava. Ela considerava sorte não ter que começar do zero, sabia que tinha dedo do Cien no meio, mesmo que seus resultados do teste tenham sido os melhores.

- Bom dia, irmãzona! Nossa você está muito bonita! - Anne a recebe com um sorriso e olhos cheios de admiração, e seu comentário faz a mais velha ficar sem jeito - Bom dia... E obrigada!

A jovem nota que só a mais nova e ela estão bem ali os outros ainda não chegaram - Você está ansiosa pela escola nova? - a caçula indaga curiosa - Não acho que já passei dessa fase! - ela responde sorrindo.

- Bom dia meninas! - Marta entra às cumprimentando, e logo após obter uma resposta vai para a cozinha. Os três homens chegam juntos, Sam se senta ao lado de Ágatha, Cien em uma das pontas da mesa e Tomas de frente a garota.

- Bom dia Ágatha, espero que goste da universidade, tenho certeza que você será uma das melhores em sua turma, os professores estão com grandes espectativas em você! - o patriarca fala sem ao menos esconder seu orgulho - Tomas, você deveria seguir o exemplo dela! - ele completa.

Um silêncio segue e Sam é o primeiro a o quebrar - Você é realmente demais Ágatha, eu vi seu resultado no teste, você gabaritou! Parabéns! - ela cora com os elogios dele - Obrigada, eu vou tentar não decepcionar ninguém! - ela responde de cabeça baixa, e não vê o olhos orgulhosos do pai sobre ela.

|Na faculdade|

Ágatha tinha ficado perdida todo o tempo, mas agora que suas aulas acabaram parecia pior, ela teve dificuldade para achar as salas, mas a saída parecia impossível. Ela se sentia num labirinto, ela tinha o número de Tomas, Marta os fez trocar contato para que isso não acontecesse, mas ela recusava a ajuda dele.

Quando dobrou mais uma esquina de corredores, ela ouviu barulhos, barulhos que indicavam que alguém estava apanhando. "Bullying, sério?" foi o que pensou. Sua razão lhe mandava sumir dali rapidamente, mas seu corpo já estava indo em direção aos ruídos.

De frente a uma porta ela ouviu uma conversa abafada - Eu te dei um prazo... Depois ainda adiei... Mas agora já passou dos limites! - a cada pausa na voz ela ouvia um baque, ela hesitou por um momento já com a mão na maçaneta, porém mesmo assim abriu.

Seus olhos se arregalaram com a cena, Tomas estava de joelhos segurando o abdômen, enquanto um cara estava a sua frente pronto para dar lhe mais chutes, e uma garota observava a cena com um sorriso sarcástico.

A cacheada que observava foi a primeira a notar a sua presença, e sem aviso avançou em sua direção - Você é a novata né? Quer uma lição pra aprender não bisbilhotar?! - a outra tinha cabelos compridos, cacheados e cor de mel, usava uma maquiagem extravagante e uma roupa no mesmo estilo.

Ela tenta enfrentar Ágatha, mas a diferença entre as duas era enorme. Logo a morena já estava marchando em direção ao loiro, esse a olhava como se ela fosse um pedaço de carne. Tomas só a notou naquele momento quando ela entrou entre os dois.

- Que foi? Você é namorada dele ou algo assim? Ou apenas quer bancar a defensora da pátria? - ele fala mantendo contato visual com a moça - E quanto a você hein, Erika? Uma joelhada e você já cai? - ele olha para a outra rindo.

- Sai daqui, não se mete na minha vida! - Tomas fala mas Ágatha o ignora, e encara Dean - Qual é o seu problema? Quer matar ele? - ela pergunta - O meu problema é que ele não pagou meus cinquenta dólares, e eu não tô nem aí com ele, não é como se ele odiasse apanhar! - ao ouvir as palavras dele, ela retorce o rosto.

Sem avisar ela puxa uma nota de cem dólares e enfia na boca do loiro, lhe acertando depois um soco no estômago. - Eu tenho nojo de pessoas como vocês! - ela diz, o outro se recupera e começa a sair olhando a nota contra a luz como se verificasse se é verdadeira.

- Gosto de garotas agressivas como você, talvez podemos sair algum dia desses! - Só quando o inferno congelar! - ela responde já se virando para Tomas. Ele está sentado a olhando feio, e ela se ajoelha diante dele. A mente dela está a mil, era assim que sua mãe e seus amigos se sentiam? Era assim que Yago se sentia quando separava as brigas dela?

- Por quê? - é a única coisa que ela diz enquanto olha para as próprias mãos - Não é da sua conta! - ele responde grosseiramente, mas quando a olha vê a tristeza que ela emana - Você está triste? Chateada? Chocada? - ela o interrompe - Quem mais sabe disso? O que ele disse sobre apanhar é verdade?

Tomas a encara, que nesse momento observa a porta como se tivesse perdida. Em seu perfil ele vê um mix de sentimentos, e algo dentro dele quebra. - Eu vou te contar, só vamos sair daqui! Temos que voltar juntos de qualquer maneira! - ela concorda e ambos saem da universidade.

Ele tenta disfarçar a dor, mas é surpreendido com ela lhe entregando um remédio e uma garrafa de água - Ele é para cólicas, mas vai aliviar sua dor, acredite é experiência própria! - Obrigado! - ele agradece e toma o comprimido. Alguns metros são feitos em silêncio, até Tomas decidir falar.

- Aquele era o Dean, ele é pau pra toda obra, ele consegue tudo, desde drogas a alguém para fazer seus trabalhos. - ele pausa, ela continua olhando para frente - Recentemente eu pedi pra ele uns entorpecentes e favores com o curso, mas eu atrasei o pagamento, e aconteceu aquilo que você viu!

- Que curso você faz? - a pergunta dela o surpreende - Psicologia, igual você! - Ótimo, eu te ajudo quando estiver com alguma dúvida! E por que não conversa com o Cien para ir a um psicólogo ou coisa assim? - ele para e a observa, ela faz o mesmo - Por quê essa mudança? - ele suspira e volta a andar.

- Eu entendo você, eu acho! - isso o induz a contar mais de sua vida - Eu já fui a psicólogos, psiquiatras, já fiquei internado por problemas com drogas. Todos me deram diagnósticos parecidos, dizendo que, eu tenho depressão, bipolaridade, insônia, tendência a suicídio e violência e nenhuma vontade de viver...

Ágatha o encara, e ele continua - O quê ele falou sobre apanhar não tá tão errado, a dor me faz sentir vivo, me dopar, ficar alto, também! Eu sei que se eu tirasse minha vida agora, pra mim seria um alívio, mas tem todos aqueles que eu deixaria, e isso me faz querer ficar na farsa de querer viver!

- Tomas, encontre um motivo para ser melhor por eles, faça deles um objetivo para viver, e não apenas como uma forma de suportar, faça o melhor para superar pensando neles. Não vai ser fácil, mas não custa tentar, é o que eu estou fazendo, pela minha mãe. - ela o olha com um sorriso verdadeiro e com lágrimas nos olhos - Vamos recomeçar, me desculpa pelo que disse no outro dia, eu não entendia você, agora eu entendo e estou aberta a te ajudar caso queira!

Ágatha foi incrivelmente verdadeira, e aquilo fez algo dentro de Tomas se aquecer, talvez ela poderia o ajudar e ele fazer o mesmo por ela. Mas ainda faltava ele a entender.

LOST SOULSOnde histórias criam vida. Descubra agora