Sonhando com a morte

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Como dito, assim que cruzou o portão da universidade, Agatha viu seu pai a sua espera. Ele parecia ansioso, qualquer um notaria mesmo sem o conhecer. O homem abriu um sorriso ao ver sua filha - Oi filha, como foram suas aulas hoje?

A moça ficou um momento quieta, pensando nas vezes que sonhou com algo assim quando era criança, - Foram bem, obrigada! - sua voz saiu com uma pequena mágoa escondida. Não demorou para que ambos estivessem no carro, a caminho do consultório de sua nova terapeuta.

O silêncio do percurso era ensurdecedor, os olhos de Agatha estavam distantes e ela não percebeu quando não conseguiu controlar a sua pergunta - Ontem o Tomas me disse que a minha mãe sempre enviou notícias minhas, e que você também a correspondia, é verdade? - Cien olha rápidamente para a filha antes de voltar a atenção para o trânsito.

- Sim, é verdade. Sua mãe me mandava cartas esporádicamente sobre você, e nos últimos três anos ela passou a me mandar emails, no começo por um endereço restrito e impossível de responder, mas depois eu consegui conversar com ela. - ele pausa, e a jovem o encara notando o sorriso dele - Fiquei quase dois anos tentando rastrear aquele endereço de email. - ele continua e ri.

- Joanna me disse que nunca tinha recebido nenhuma das minhas cartas, e eu disse a ela que já suspeitava, visto que todas elas retornavam em picotes. - a expressão alegre do homem quebra - Ambos concordamos que alguém estava pegando essas cartas antes de chegar a vocês.

Naquele momento Agatha sente um misto de emoções que a deixa entorpecida - E como eu posso acreditar em você? - ela pergunta séria - Eu tenho tudo guardado, tudo que sua mãe enviou e todas as que eu enviei, mesmo que estas estejam rasgadas. - ela se surpreende com isso, antes que ela possa fazer mais perguntas, ele estaciona o carro dizendo - Chegamos!

......
Há alguns dias que a Agatha tem se desdobrado entre, ir a terapia, ir ao grupo de apoio, estudar na faculdade com um amigo que ela fez por lá, e mesmo sobre resistência do pai, ter começado a trabalhar alguns dias da semana numa livraria. Ela estava se saindo muito bem na sua mudança.

Tomas, por outro lado parecia melancólico, nem ele conseguia descobrir da onde aquilo vinha. Depois dele e Agatha contarem seus passados um a o outro, eles estavam realmente se dando muito bem, e até tinham virado amigos, mas ele sentia que ela não tinha mais tempo para ele.

James, o novo amigo dela, que fazia praticamente todas as aulas junto com ela, parecia ter ganhado a atenção total dela em seu tempo livre. Até mesmo Dean, que mesmo tendo um "relacionamento" com sua seguidora mais fiel, a Erika, estava a todo custo tentando chamar a atenção da australiana.

Mas aquilo era só a ponta do iceberg depressivo de Tomas, no fundo ele se sentia um fraco inútil por não ter a mesma determinação e vontade da outra. Aquela quinta-feira para ele, estava sendo mais tediosa do que imaginaria. As aulas estavam se arrastando, ele que já não prestava atenção, parecia totalmente ausente. Seus amigos, nem tentaram animar ele, pois sabiam que não davam conta.

Quando o último sinal tocou, ele não demorou em correr para o casebre abandonado que ele tivera frequentando a anos. Chegando lá, procurou pelo armário metálico, cuja a chave sempre estava numa corrente em seu pescoço, e o destrancando, achou o seu "paraíso". Um belo bocado de entorpecentes e morfina.

Como se não tivesse controle, inalou todo o pó branco lá existente e por fim, injetou o remédio em seu calcanhar. Deitou se em um colchão que tinha por lá, e enquanto encarava o teto com seus braços abertos, tentava se deliciar da sensação, mas como se fosse um castigo, seu corpo começou a demonstrar o efeito que ele nunca desejou.

......
Agatha estava ofegante, se castigava internamente por não conhecer tão bem aquela parte da cidade, e principalmente por perder Tomas de vista. Ela notou que ele estava estranho, e especificamente naquele dia parecia ainda pior. Ela conhecia aquilo, era a maldita abstinencia.

Enquanto cogitava se ligava para Samuel, ela notou uma casinha abandonada, "Parece quase invisível comparada às outras!" pensou, e foi aí que houve um clique em sua mente, sem pensar duas vezes correu para o lugar, abriu a porta com um chute eufórico, e quando olhou o lugar, lá estava o rapaz que estava procurando, claramente em processo de overdose.

Rápida e eficientemente ela fez duas ligações rápidas, uma para a emergência, dando sua localização quase exata, visto que estava atenta aos nomes de ruas, e outra para o Samuel, enviando sua localização rapidamente.

"Merda, merda, merda!", enquanto sua mente estava em total desespero, ela atentou se em tentar fazer algo pelo Tomas. Ele ainda estava consciente apesar da situação, e a observava desfocado. Quando ele passou a vomitar, ela o segurou firme para evitar uma possível tragédia, mas por sorte quando estava parecendo que iria piorar, os paramédicos chegaram.

Ela estava nervosa, mas mesmo assim conseguiu explicar o mínimo que sabia da situação e acabou indo com ele para o hospital. Já lá, observou ele sendo levado às pressas enquanto sentia suas pernas presas. Ligou novamente para Samuel, e após informar novamente onde estava, sentou se totalmente entorpecida.

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