Prólogo

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"Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue"


✞ ✞

Senti sua presença antes mesmo de vislumbra lo. Um segundo depois ele surgiu, de canto de olho percebi que usava a mesma jaqueta jeans velha de sempre, só que desta vez ela estava fechada, não consegui absorver mais nenhum detalhe pois ele foi rápido em se sentar e ficar de perfil. Seu cheiro de chiclete de menta misturado com nicotina veio forte pelas pequenas aberturas quadriculadas que nos separavam e eu fechei os olhos brevemente.

Sua presença era quase palpável, assim como o efeito que ele exercia sobre mim. Mesmo sabendo ser inútil, tentei não cair na tentação. Foi uma luta rápida e em vão. Com ele todas as minhas barreiras se partiam com uma facilidade odiosa. Todas as orações, todos os apelos feito mais cedo evaporaram na velocidade da luz e, naquele instante, ele se tornava meu único Deus.

Após alguns instantes de silêncio mútuo arrisquei uma olhada em meu algoz. Barba curta por fazer e um sorriso insolente nos lábios. Ele me encarava com aqueles olhos negros como a noite e eu me sentia como uma presa hipnotizada por uma serpente. Comecei a suar e senti o confessionário esquentar uns 2 graus de uma hora pra outra.

O silêncio se prolongava a ponto de ficar insustentável. Minha vontade era sair dali correndo, fugir, sumir. Minha vontade era abrir a tela que nos separava e me entregar pra ele. Minhas vontades eram muitas, mas eu não conseguia mover um músculo. E nesse tempo todo eu não conseguia tirar os olhos dele.

Ele passou a mão em seus cabelos tão negros quanto seus olhos e, sem tirar os olhos de mim ou o sorriso do rosto, lentamente abriu o zíper da jaqueta. Percebi que ele  viera sem camisa por baixo.

A tela quadriculada não conseguia esconder todo o esplendor de seu peito magro, pálido e definido.
A diferença de idade parecia mais gritante enquanto eu secava aquele corpo sem pêlos, salvo aqueles que surgiam a partir do umbigo no conhecido "caminho da felicidade". Minha respiração forte denunciava o meu desejo e eu sentia meu pecado cada vez mais latente por dentro da batina.

Ele me presenteou com mais alguns momentos de pura lascívia antes de falar, baixinho:

- Padre, eu pequei.

Estremeci ao ouvir sua voz. Lembrei com vergonha que eu também havia pecado. Muito. Em pensamentos, em atos, de corpo e alma. Eu pequei, eu pecava neste momento e eu queria continuar pecando.

Tentei responder algo mas minha voz virou um chiado entrecortado ao ver ele se levantar e encostar seu tronco nu na tela ao lado do meu rosto. Seu cheiro de pele e de perfume barato mexeu com meus sentidos e por um momento eu fiquei zonzo.

- Padre - ele sussurrou. Sua voz era perdição - me ajude padre, eu pequei.

Senti lágrimas rolando por meu rosto ao fita lo.  Ele me olhava de cima, como deveria ser e seu sorriso manso era quase paternal. Colei meu nariz e minhas mãos na tela tentando absorver um pouco do seu cheiro.

- Você quer pecar comigo, padre? - ele perguntou manhoso.

  Sua mão desceu lentamente por todo seu torso nu e ele abaixou levemente a frente de sua calça jeans, revelando o começo de seus pelos pubianos. Sem pudor ou amor próprio eu colei meu nariz na direção de seu sexo e funguei ruidosamente. Ouvi seu riso baixo e solucei baixo. Eu era patético e ele sabia disso.

- Quer pecar comigo ou não, padre? - ele tornou a perguntar, dessa vez mais sério e perigosamente mais alto.

  Eu não me importava mais se estava dentro de um confessionário, na sacristia ou no próprio púlpito. Eu precisava daquilo, eu precisava pecar. Minha mão entrou dentro da minha calça com violência e senti meu sexo gritar de ansiedade. Ia começar a me tocar mas fui impedido por suas palavras, inesperadamente ásperas.

- Calma, Padre. Ainda não. - Ele também colocou sua mão dentro da própria calça - Eu quero ouvir você me falar. Você quer pecar comigo?

Limpei a garganta e sussurrei.

- Que... Quero...

- É assim que se fala com um fiel, padre? - ele perguntou, provocando. - Olha que assim vou ter que pecar em outro lugar.

Eu já tinha passado por isso antes e sabia o que ele queria. Por mais doentio que fosse eu obedeci cegamente

  - Quero... - hesitei mas acabei gagejando a forma de tratamento usual entre padre e um cristão. - Quero pecar, meu filho. Por favor, quero pecar com você, meu filho...

Ele sorriu satisfeito e sua mão começou a fazer movimentos lentos por dentro da calça. Segui seu exemplo de uma forma bem mais febril e desesperada.

  - Oremos... - ele anunciou baixo, entre risos.

E o pecado se fez.

E o pecado se fez

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PAI, Afasta de mim este Cálice (conto gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora