Yonara narrando
ESTÁ TUDO BEM! VAI FICAR TUDO BEM! VOCÊ É FORTE, YONARA! ATÉ O SEU NOME É FORTE, NÃO FOI ATOA QUE A SUA MÃE ESCOLHEU ESSE, NÃO É?
VAI FICAR TUDO BEM. ELES SÃO IDIOTAS. VOCÊ É INTELIGENTE E MUITO MELHOR QUE ELES.
Vai... ficar... tudo... bem!
Olho-me no espelho me sentindo patética e a criatura mais ridícula do mundo. Bato três vezes no meu rosto e repito em tom alto: Vai ficar tudo bem!
Retiro a minha roupa e sujo ainda mais o banheiro, rapidamente entro debaixo do chuveiro e lá eu deixo a água fazer o seu trabalho: purificar o máximo a sujeira da minha alma.
Me sinto enojada de mim mesma, lembranças ruins de vários clientes com quem eu fiquei percorre a minha mente. Me abraço de forma brusca e sem perceber cravo as minhas unhas na minha pele. NOJO. EU TENHO NOJO DE MIM!
Eu mereço ser tão humilhada?
— Eu odeio eles, e me odeio três vezes mais. — choro copiosamente enquanto a água retira o excesso de sujeira explícita do meu corpo. — eu preciso ser forte, mas como? — digo tão baixo que sai como um sussurro.
Fico talvez por mais de uma hora de baixo da água, só depois que finalmente reajo e realmente tomo um banho de verdade.
Assim que saio do banho, olho para a sala vazia e sem vida. Estava uma bagunça, mas não tenho força para limpar nada agora. Ainda consigo ouvir a gritaria do lado de fora, a risada maldosa e um barulho infernal de crianças mal educadas correndo e gritando. Cerro os lábios e sem perceber sinto o gosto de sangue na minha boca: novamente mordi o lábio com tanta força que ocasionou um ferimento. Isso era o de menos. A dor mesmo estava no meu coração. Vou para o meu quarto e me deito, com os cabelos molhados e com apenas a toalha enrolada no corpo. Tudo bem não se importar hoje em me vestir ou cuidar da minha aparência. Por hoje, está tudo bem.
Deito e abraço o meu urso com tanta força como se aquela coisa fofa fosse um colete salva vida, iria me proteger de me afundar nas minhas próprias lágrimas. Tudo bem eu chorar hoje. Amanhã vou ser mais forte.
***
Já era noite quando despertei, meu estômago roncava de fome, mas não tinha força para levantar. Eu simplesmente só queria ficar deitada e ter força para amanhã me sentir forte e não chorar mais. Precisava ser forte...
Escuto meu celular tocar, ele estava dentro da minha bolsa, que possivelmente está no banheiro, mas não tenho vontade de atender. Deixo tocar. Minha cabeça doía, não sei se era por fome ou pelo choro que me fez sentir dor de cabeça, ou talvez os dois. Aperto com mais força o meu urso e fecho os olhos.
***
Acordo novamente, dessa vez a casa estava mais escura e já não tinha tanto barulho do lado de fora. Talvez fosse muito tarde. Meu celular continua a tocar. Sento-me na cama e cumpro com a minha promessa, talvez já seja de madrugada, um novo dia. Agora sou mais forte que ontem.
Levanto e sinto uma tontura, sento de novo. Fecho com força os olhos e os abro em seguida, respiro fundo e tiro força de onde não tinha e me ponho de pé.
— Eu sou forte. — digo com a voz falha. Dou alguns passos em direção ao banheiro e pego a minha bolsa, ela estava suja, com cuidado pego o celular. Assim que visualizo a tela vejo varias ligações perdidas do Mr. Collins, Zoe e de um numero desconhecido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Duas de mim
RomansaYonara, mais conhecida como Sophia, um nome artístico de uma vida nada comum para uma adolescente de dezessete anos. Yonara estuda em uma escola particular, após ganhar uma bolsa, assim como gosta de dizer, mas na verdade sua mãe implorou para o seu...