4 - Unilateral

CAP 29 - Eu não conseguia dizer adeus

Coréia do Sul
GWANGHJU
5 anos Antes

A verdade é que você nunca sabe o que vem depois da próxima curva. Você até pode planejar, traçar os próprios objetivos, mas nunca saberá o que esta por vir. E comigo não foi diferente.
Eu estava com meu coração leve e alegre quando Jimin foi embora aquela manhã. Sentia que finalmente poderia estar chegando perto dele da forma que eu queria. Finalmente estava fazendo com que ele conseguisse me enxergar.

Troquei de roupa e peguei o primeiro ônibus que me levaria até o cassino. Estava disposta a pegar a moto que tinha comprado e leva-la para casa. Queria presenteá-lo como tinha sido a minha intenção na noite anterior. Mas quando cheguei ao cassino meu celular tocou e as coisas saíram um pouco de controle.

-Eles vão transferir sua irmã outra vez.- disse a advogada fazendo meu coração parar por um momento.- Acho que eles encontraram uma família para ela em Nova York.

Eu temia o dia que aquela noticia chegaria. Sabia que minha irmãzinha era encantadora demais para nunca ser escolhida por uma família carente por filhos. Mas eu não podia deixar aquilo acontecer, se ela fosse adotada eu poderia perde-la para sempre e eu não estava disposta a correr aquele risco.

-Quantos dias eu tenho até que eles a levem?- perguntei com a voz cansada.

-Não mais que dois dias.

Balancei a cabeça concordando e depois desliguei o telefone. Àquela altura eu sabia que precisava fazer alguma coisa, e por muita sorte ainda tinha aquela advogada que me passava informações imprescindíveis, sem ela eu não saberia cada passo que a minha irmã dava.

Conheci aquela mulher quando estava no orfano de onde eu fugi. Sabia que se continuasse lá poderia ficar perto da minha irmã, e de alguma forma cuidar dela. Mas quando percebi que não poderia fazer aquilo para sempre eu fugi daquele lugar. Desesperada para recuperar a minha vida eu me joguei em uma vida que eu não conhecia, mesmo com medo me obriguei a me manter forte. Por mim e por ela. Por nós.

Encarei a moto sabendo que tudo tinha mudado dali por diante. Conseguir dinheiro não seria difícil mais para mim, não importava aonde eu fosse sempre teria cassinos e clubes onde eu poderia jogar. Mas o fato é que em Nova York, minha terra natal, eu não teria Jimin. Ou seja, aquela era a hora que eu teria que escolher, e por mais que eu o amasse eu não poderia virar as costas para a única coisa que eu tinha.

E foi por aquele motivo que eu sabia que era hora de jogar todas as minhas cartas. Eu não esperava que Jimin fosse comigo, não poderia pedir por aquilo sem contar sobre o meu passado. Não sem contar toda a verdade que eu não queria que ele soubesse.

Montei em cima da moto e peguei o caminho mais rápido para casa. Deixei a moto estacionada ao lado da porta dos fundos e entrei desanimada em casa. Estava sozinha àquela hora do dia, por isso sabia que teria bastante tempo para pensar no que faria. Eu não tinha muito tempo, sabia que quando o orfanato tinha uma entrevista para adoção as coisas aconteciam muito rápido. As autoridades responsáveis não queriam deixar as famílias esperando, para que não houvesse uma possível desistência.

O silencio da casa fazia com que todas as lembranças que eu tinha vivido naquele lugar me assombrasse enquanto eu arrumava minhas malas. Não queria ter que ir, não queria deixar tudo para trás, não quando as coisas estavam tão bem. Mas eu não tinha opção.

Escrevi uma carta para a tia de Jimin, agradecendo por tudo que ela tinha feito por mim. Por cada segundo de acolhimento dela, por me deixar ser parte da sua família sem nem saber sobre o meu passado. Definitivamente eu era grata por aquilo.

Mas não consegui escrever para Jimin. Para ele eu não conseguia dizer adeus, mesmo que quisesse.

Demorei cerca de duas horas para embrulhar tudo que tinha acumulado nos últimos meses. Contei cada nota de dinheiro que tinha escondida na minha última gaveta, e havia dinheiro suficiente para cruzar o mundo até a minha irmã. Comprei as passagens pela internet, e despachei minhas malas por uma empresa de transporte, não queria que Jimin descobrisse minha partida antes que fosse inevitável.