CAP 24 - Garotas bonitas

60 12 1
                                    


Coréia do Sul
GWANGHJU
5 anos Antes

Mal consegui dormir aquela manhã. Estava com a cabeça cheia de ideias. Tinha encontrado a resolução dos meus problemas, tudo que me faltava era idade e eu finalmente teria a minha irmã comigo.
Em pouco tempo eu conseguiria dinheiro suficiente para tirar ela daquele orfanato. De trazê-la para perto de mim. E foi então que eu me perguntei se Jimin se encaixaria no mundo que eu estava criando para mim. Se meus dois mundos poderiam existir juntos.

Engraçado como eu me sentia próxima a minha antiga eu, aquela que eu julgava ser boa, mas que naquele momento tinha certeza não merecer Jimin. Não teria como ser a irmã e a ilusionista. Eu precisava abraçar a oportunidade que estava tendo, se seguisse aquela vida estaria segura financeiramente para criar minha irmãzinha.
Só que eu não conhecia os perigos daquela vida naquela época, não sabia o preço caro que tinha que pagar se saísse da linha. E foi por isso que eu tive certeza que se Jimin não soubesse logo o que eu estava fazendo teria que acabar contando toda a minha história a ele. E eu não queria aquilo.
Não queria ter que escolher entre minha irmã e ele.
Mas no fim das histórias eu deveria saber que um dia essa escolha aconteceria.

O bom do meu trabalho é que eu era minha própria chefe. Então podia fazer a minha própria hora, assim como tirar folga sempre que quisesse. Tinha dinheiro guardado para seguir com meus planos, mas não era isso que estava me fazendo sorrir, mas sim imaginar o sorriso de Jimin quando eu contasse que comprei uma moto simples para ele.
Ele sempre reclamava da demora para se deslocar, e eu sabia que seu aniversário estava chegando. Aquele devia ser o presente perfeito, ainda que adiantado ele não poderia recusar um presente. Então ele não tinha opção se não aceitar.

Estava bem arrumada quando cheguei ao trabalho de Jimin. Vestia o habitual visual "não me barrem na entrada por ser menor de idade". Na minha outra vida eu sabia dirigir diversos tipos de moto, todas que meu pai me permitia pegar. Então não tive dificuldade para pilotar.
Antes de estacionar em frente o trabalho de Jimin parei em uma rua pouco movimentada para amarrar um topo no guidão. Um laço vermelho de presente, para dar ênfase no meu pretexto aniversário.

Pulei da moto, segura que estava tudo bem se alguém pedisse minha identidade, porque Min Chease, a garota da minha identidade falsa, tinha idade suficiente para pilotar.

Apoiei o capacete sobre o espelho e quando fui ajustar os cabelos, até que fui pega desprevenida por uma voz que eu conhecia muito bem. E ele não estava sozinho.

-Nem acredito que não vou estar aqui para o seu aniversário. – disse a garota.- Você vai me perdoar por isso algum dia?

Jess. Meu coração pareceu despencar assim que eu a reconheci. E o sorriso que estivera a pouco em meus lábios tinha se dissipado no ar.

-Talvez.- disse Jimin com a voz divertida.

Dei as costas para eles, me escondendo de baixo no capuz do meu estiloso casaco de camurça. Então comecei a andar para longe deles, tentando por na minha cabeça que eu tinha aceitado aquilo tudo. Que eu tinha aceitado estar perto, mesmo que se o coração de Jimin não fosse meu.

-Você tem planos para hoje?- perguntou Jess.

Parei onde estava, esperando por um segundo que ele pudesse lembrar de mim. Mas ele não lembrou.

-Não.

Não voltei para casa aquela noite. Arranquei a fita de presente da moto, e subi em cima dela dirigindo a toda velocidade para o mais longe que eu conseguia. Lagrimas lavavam meu rosto, e eu me sentia ridícula por isso. Parei perto do cassino, mas em menos de dez minutos soube que estava triste de mais para conseguir ser a jogadora que ali precisava ser.
Então me afastei da mesa de jogos, desistindo muito antes do esperado. E me direcionei para o bar. Até aquele dia eu nunca tinha ingerido bebidas alcoólicas, por mais estranho que isso poça parecer. É o que acaba acontecendo quando se tem uma mãe alcoólatra.

-O que vocês tem de mais forte por aqui?- perguntei ao garçom.

O garçom, que sempre era o mesmo de sempre, me deu seu tão belo sorriso quadrado. Era sempre do mesmo, eu fazia meu pedido e ele sorria por ser água, enquanto acreditava que era só uma pessoa difícil.

-Noite difícil?- perguntou ele.

-Do tipo que não deixa você jogar.- disse desanimada.

Ele pegou uma garrafa pequena que estava embaixo do balcão. Continha em uma bebida de cor âmbar, e consistência duvidosa.

-Se alguém que vive como você não consegue jogar deve ser um dia difícil.- disse o garçom servindo o copo.

-Como assim, alguém como eu?- perguntei intrigada.

O garoto arrastou o copo na minha direção.

-Todos os dias você vem, pede água e senta na mesa. É sempre uma das últimas a sair daqui.- disse o garçom ganhando a minha atenção.- A noite toda você só toma uma garra de água. Sem nunca se levantar, nunca ir ao banheiro. Raramente relaxar. Ou seja, não sei se você está nesse mundo pela primeira vez ou se está só tentando transparecer isso. Se é muito inteligente ou extremamente imprudente.

Fiquei pasma ao ouvir o garçom que aparentemente parecia prestar atenção a cada passo que eu dava.

-Você anda me vigiando?- perguntei já me afastando.

-Observando.- disse ele rápido, antes que pudesse levantar do banco. – Nunca te disseram que é comum um rapaz observar as garotas bonitas?

Demorei a entender do que o garoto se referia. E quando enfim percebi que era um elogio que fez meu rosto corar, o garoto já sorria da minha ingenuidade idiota.
A verdade é que os garotos não me diziam aquelas coisas. Não estava acostumada com flertes, não na minha nova vida.

Por isso achei que o garçom escondia alguma coisa. Que era alguém disfarçado, me vigiando enquanto eu entrava dia sim, dia não naquele lugar.

-Já entendi, você é aquele tipo de mulher que desconfia se alguém a elogia.- disse o garçom guardando a garrafa no mesmo lugar.- Mas acredite, provavelmente sou a pessoa mais confiável que tem nesse lugar. Na verdade...- ele se aproximou do meu rosto me fazendo corar.-... a única pessoa que você deveria ficar tranquila quanto a estar te seguindo.

O momento de repente intimo tinha feito um arrepio assustador subir por minha espinha. Sabia que aquilo poderia acontecer, mas não esperava que tão rápido. Rapidamente vasculhei minhas memórias com medo de ter colocado Jimin ou sua tia em perigo.

-Eu estou brincando.- disse o garota tentando amenizar minha preocupação.- Já estão falando dos seus talentos, mas não chegou a isso ainda. Então fique esperta.

Balancei a cabeça séria, concordando com o garoto que estava coberto de razão. Tinha que manter os que eu amava a salvo. Sem nem perceber virei o que lido do copo de uma vez só na boca. E nem preciso dizer o que acontece com quem toma whisky pela primeira vez como se fosse água.

Comecei a tossir como uma louca. Em poucos segundos minha garganta ardia a ponto de me fazer tossir e meus olhos lacrimejarem. Cobri a boca, mas não conseguia parar.

-Hei?- o garçom chamou outro garoto que também servia bebidas no seu lado do balcão.- Pode me cobrir? Preciso ir ao banheiro.

Nem consegui ouvir a resposta, quando dei por mim o garçom me puxava pela mão livre. Na outra segurava uma garrafa de água. Ele me guiou para uma parte externa do cassino, que estava curiosamente vazia para uma noite tão estrelada.
Assim que senti o vento batendo no meu rosto comecei a respirar melhor. Me acalmando aos poucos até que eu estivesse bem para o garçom me oferecer água.

-Você nunca tinha bebido whisky?- perguntou o garoto.

Balancei a cabeça negando, enquanto bebia a agua com rapidez.

-Nunca bebi.- disse assim que afastei o gargalo da garrafa da minha boca.

O garoto arregalou os olhos, completamente chocado com a minha declaração.

-Então espero que você tenha carona para casa.- disse ele.





Olha esse encontro no passado... louca para eles se encontrarem depois de anos na história. ♥

4 - UnilateralWhere stories live. Discover now