4 - Unilateral

CAP 12 - Alguém para cuidar de nós

Coréia do Sul
GWANGHJU
5 anos Antes

Jennie

Eu odeio assumir, mas a verdade é que eu odiava ver a pena no olhar das pessoas. Eu odiava toda aquela pena, porque ela era tudo que eu sempre precisava para lembrar o quanto as pessoas tinham motivo para sentir aquilo por mim.
Não era fácil, mas eu não me permitia desistir. Eu não tinha esse direito, ainda que me matasse por dentro ver todos achando que sabiam tudo sobre mim.

E era por isso que eu não queria que ele soubesse qualquer coisa sobre a minha realidade.

Com Jimin era fácil sorrir, e eu adorava interpretar a garota que eu criei só para ele. Amava a forma como os olhos dele ficavam ainda menores quando ele sorria, e ao contrário dele eu achava seu dente torto um charme que fazia meu rosto esquentar.

A primeira vez que eu vi Jimin ele era ainda mais baixo, com bochechas redondas e cabelos bem mais compridos que atualmente. Ele usava roupas grandes demais, talvez por falta do dinheiro que ele tem agora.
Ele era brincalhão naquela época, hoje parece sempre tão focado em algo que só ele consegue ver com tanta clareza.
Mas bem lá no fundo eu sei que existe muito ainda daquele velho garoto que eu conheci, e que eu sonhei tanto ter para mim.

E eu só queria ver um pouco daquele sorriso de menino que eu conheci. Aquele mesmo sorriso que sei que talvez possa não voltar.

Eu definitivamente amava quem eu era com ele. Talvez tenha sido por isso que nem percebi quando comecei a acreditar nas minhas próprias mentiras. No sentimento que Jimin nunca prometeu me dar.

Com Jimin eu deixei todas as minhas regras de lado. Todos os meus medos, tudo aquilo que eu tinha criado para me proteger. Com ele parecia não ter problema desejar um pouquinho daquilo que as pessoas tinham. Por isso eu não sentia remorso depois de dizer mais algumas mentiras. Não sentia medo, porque não dói se não for real.
Mas a verdade é que Jimin foi a coisa mais real que eu já vivi.

Ele simplesmente segurou a minha dor. Me deu a chance de poder parar para respirar. Jimin me viu caída no chão, envergonhada por causa dos homens que cobravam o dinheiro que eu realmente tinha roubado deles. Aquela era a primeira noite que eu fazia aquilo, mas acredite fazemos muitas coisas quando estamos com fome.
Era a segunda noite que eu não comia, que andava de um lado a outro pedindo por qualquer coisa que as pessoas pudessem me dar. O segundo dia que eu batia na porta de qualquer lugar que pudesse me dar um emprego.
Fazer truques de mágica nas praças dava dinheiro, mas não o dinheiro que eu precisava.

Então em desespero, aquela fatídica noite, eu tinha decidido me tornar alguém diferente daquela que eu sempre fui. Eu enganei dois homens, fazendo seu dinheiro sumir, até que pudesse correr para longe deles.
Tinha sido estupida por pensar que aquela era uma boa ideia, eu não tinha tanta força quanto aqueles caras para entrar em uma briga caso eles conseguissem me alcançar.
Eles estavam muito perto quando Jimin esbarrou em mim fazendo o dinheiro, que ele nem viu, cair das minhas mãos.

Já esperava por uma pancada, quando Jimin inverteu nossas posições, levando a pancada por mim. E não posso negar, naquele momento tudo que eu conseguia me perguntar era : "porquê alguém tão bonito como ele estava fazendo isso por mim?"

Não satisfeito ele levantou, arregaçou as mangas do seu moletom, e entrou em uma briga para defender uma ladra. Jimin bateu naqueles homens bem na minha frente. Ele fez com que os homens que eu tinha roubado corressem como culpados.
E eu simplesmente não conseguia fazer nada a respeito. Estava hipnotizada pela forma como Jimin se mexia, e aquilo era ridículo de mais, mas eu não conseguia me controlar.
As vezes penso que aquela foi a primeira vez que Jimin me hipnotizou, porque eu saí completamente de mim com a beleza dele.

-Você se machucou?- perguntou ele, mas eu mal podia ouvir, porque estava focada de mais na cor dos seus olhos estreitos. Na forma como as suas bochechas eram fofas.

Jimin começou a tirar a roupa, o que fez meu coração acelerar. Ele se aproximou pressionando meu cotovelo, que demorei a perceber estar sangrando. E mesmo que eu tenha amado as linhas do seu corpo bem esculpido, foi no segundo que eu olhei para sua mão, percebendo o que ele estava fazendo, que eu me apaixonei por ele.

Ele estava cuidando de mim.
De alguma forma Park Jimin sempre cuidava de mim, mas ninguém além dele tinha feito aquilo antes. E por mais bobo que possa parecer, as vezes é bom ter alguém para cuidar de nós.

Alguém que nos olha com preocupação, ao invés de pena, quando pega você no flagra comendo como a faminta que você está. Se existe uma coisa que eu mudaria na minha história com Jimin, era aquele momento de instinto que não pude controlar. Se eu tivesse me contido, tivesse esperado sair do restaurante de Jimin para comer alguma coisa, eu não teria que conviver com aquela preocupação que se confundia com a pena que eu tanto odiava.
Mas com Jimin eu tolerava, porque eu sabia que ele estava disposto a ignorar aquilo se eu quisesse.