O ato de levar comida para Levi acabou se tornando rotineiro para Hanji. Ela arrumava uma farta sacola de tecido com alimentos e um copo cheio de chá, levava até a porta do rapaz e ali ela deixava. A noite ela voltava para retirar o tecido, o copo e as sobras, que quase nunca existiam. De vez em quando, a menina se sentava ao lado da porta e conversava com o rapaz sobre como havia sido o dia no Corpo de Investigação, contava as novidades e as coisas cômicas que ocorreram, mesmo nunca recebendo uma resposta.
Aquele dia estava sendo igual a todos os anteriores. A rotina da tropa estava sendo mais monótona que o usual. Por conta das diversas mortes ocorridas na última expedição, o Corpo estava com dificuldades para conseguir verbas para a próxima, sendo assim o cotidiano dos soldados e recrutas continuaria maçante por mais um tempo.
Hanji havia acabado de se banhar e se dirigia para o quarto de Levi, para recolher o que havia deixado de manhã como estava fazendo há uma semana e meia.
Entretanto, esse dia foi diferente.
Quando Hanji chegou no início do corredor pôde ver uma figura masculina em pé em frente à porta que ela tanto conhecia. Ao se aproximar, a jovem pôde ver um ser de rosto pálido e com olheiras; estava mais magro desde a última vez que ela havia o visto:
-Oi.- A voz de Levi saíra grave e profunda, e fez o coração de Hanji palpitar por um instante - talvez pelo anseio desse momento que enfim havia chegado.
-Olá.- Ela respondeu encarando o mais baixo.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, o que deixou Hanji cada mais nervosa; a quietude não era a melhor aliada da garota:
-Você... quer entrar?- Levi a questionou de cabeça baixa.
-C-Claro.
O rapaz havia notado o vacilo na fala da garota contudo não dera muita importância. Ele saiu da frente da porta e a abriu para que Hanji pudesse adentrar o quarto. Já dentro, a mulher notou que o quarto estava muito mais arrumado do que em seu mundo imagético:
-O seu quarto é bem organizado.- Ela pensou alto analisando o espaço com os olhos.
-Eu não gosto de bagunça.- Ele disse atrás da jovem. O barulho da porta se fechando fez Hanji se assustar e virar rapidamente. Estava intrigada com o rumo que essa conversa poderia tomar.- Pode se sentar na cama.- Ele apontou para a cama arrumada.
-Certo, com licença.- Ela sem demora se sentou na cama e Levi, numa cadeira próxima.- Sua cama é bem confortável. As beliches do dormitório não são tão confortáveis!- Ela dizia enquanto tentava fugir seu olhar do dele.- Fico feliz que em breve eu vou ter o meu próprio quarto com uma cama confortável tamb...
-Hanji.- Levi interrompeu a garota de forma serena.
-Sim?- Hanji respondeu, engolindo saliva.
-Eu... queria agradecer você.
-Agradecer o quê?- Hanji franziu o cenho, confusa.
-Tudo o que você tem feito.- Ele inclinou a cabeça.
-Ah, a comida? Isso não foi nada, Levi! Não se preocupe.- Hanji sorriu genuinamente para o garoto mas logo sua afeição se tornou séria.- Você está melhor? Para voltar à tropa.
-Acredito que sim. Por isso quis falar com você. Não vai mais precisar ficar me trazendo comida.- Ele coçou a própria nuca aparentando incômodo.
-Isso é ótimo! Eu quero dizer, a parte de você voltar a ação. Não me incomodava trazer comida para você todos os dias.- Ela deu de ombros e voltou a sorrir.
-Entendo.
Os dois ficaram em silêncio por um pouco mais de tempo até que Hanji se levantou da cama e se dirigiu à porta:
-Bom, eu preciso ir agora. Em breve as meninas vão apagar as luzes do dormitório e eu não quero deitar no escuro.- Ela riu pelo nariz.
-Claro.- Levi concordou com a cabeça.
-Espero te ver amanhã!- Ela abriu a maçaneta e foi saindo do quarto.
-Hanji.- Levi a chamou uma última vez e ela se voltou para ele.-... Obrigado.
Hanji apenas sorriu em resposta e se retirou do quarto.
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A manhã seguinte trouxe consigo um dia ensolarado e um céu praticamente inteiro azul. Hanji e Nanaba conversavam enquanto faziam suas camas para ir para o refeitório:
-Você entrou no quarto dele?! Só vocês dois?!- Nanaba exclamou surpresa.
-Quieta! Mas sim. A gente só conversou. Não sei o porquê do escândalo.- Hanji revirou os olhos com um pequeno sorriso no rosto.
-Mhm. Claro...- Nanaba apoiou os braços na cama de Hanji e olhou para a amiga com um olhar malicioso.
-Você não devia me olhar assim!- Hanji ergueu uma sobrancelha e desceu do beliche.- Não sou eu que consegue transar em todo e qualquer lugar desde que "um certo bigode" esteja comigo.- Ela disse para Nanaba e começou a caminhar em direção ao refeitório.
-Olha aqui!- Nanaba respondeu boquiaberta e apressou o passo atrás de Hanji.- Nós não transamos nos dormitórios.- Ela cruzou os braços, convencida.
-Sim, vocês transaram.
-É verdade, nós transamos.- Respondeu Nanaba coçando sua cabeça com vergonha.
Ao chegarem na cantina, Hanji e seu grupo de amigos se sentaram em uma mesa e começaram o café da manhã. Nesse dia, mais do que nos outros, Hanji procurava com seus olhos uma pessoa específica que há algum tempo não aparecia em público. Foi fácil saber quando Levi chegou, pois os olhares de todos foram para ele, inclusive o da jovem.
Ela levantou-se para vê-lo melhor e ele estava claramente desconfortável com a situação. A mulher então, acenou para ele, fazendo um sinal para que viesse sentar com ela e os outros. Após pensar um pouco, Levi caminhou até a mesa de Hanji e se sentou na frente da mulher:
-Você veio.- Ela deu um leve riso.
-Eu disse que viria.- Respondeu com sua seriedade natural.
-Nesse caso, bem vindo de volta.- Ela disse olhando para ele e tomando um gole do chá em seu copo.
-...Obrigado.- Ele olhou para baixou e sorriu ligeiramente.
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A Incumbência de Hanji
RomansaApós a morte de seus amigos, Farlan e Isabel, em uma expedição da tropa de exploração, Levi se exilou de todos ao seu redor. A mando de Erwin, Hanji começou a visitá-lo diariamente para levar-lhe comida. O que uma incumbência poderia mudar na vida d...