Capitulo 20

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Quando acordo, não tenho certeza se estou no agora ou no passado.

Luzes fortes queimam minhas retinas. O clarão demora a se dissipar em imagens coerentes. Uma lâmpada florescente pende, parcamente presa, do teto, manchado pelas infiltrações. Inspiro; tem cheiro de cloro e urina, uma mistura nojenta que me deixa imediatamente desperta.

Caleb. Onde está Caleb?

Levanto rápido, e me encontro em uma cela. O ambiente é familiar, de dois por dois metros, e não tardo a descobrir que o cheiro de urina vem de mim. As paredes são claras, acolchoadas, manchadas pelo tempo e pelo uso. Há uma ventarola aberta na porta de metal, grande o bastante para que meu braço passe por entre as grades. Ponho a mão para fora e bato na porta com todas as forças.

-- EI! TEM ALGUÉM AÍ? EI!

É infrutífero e infantil, mas não sei o que mais posso fazer. Grito a plenos pulmões, insistindo nas pancadas até sentir o braço arder e acabar me recolhendo para dentro da cela. Olho em volta -- há uma câmera num canto, alto demais para que eu consiga alcançá-la. Do outro lado, estou certa, alguém me observa.

Mas não por muito tempo. Sem que eu precise pensar, fecho os olhos e acesso o poder dentro de mim. Ele deixa a cela completamente imersa no breu em questão de segundos.

Torno a me sentar. Não sei por quanto tempo conseguirei sustentar, mas pelo tempo que for, já basta.

****

Adormeço em algum momento, e desperto com o barulho alto de chaves na tranca da cela. Quando reabro os olhos, a luz foi restabelecida -- levei a escuridão comigo quando peguei no sono.

Um homem alto e largo, vestido em roupas de enfermeiro e usando um capacete engraçado entra, carregando uma bandeja. É a minha única chance, percebo, e repito o truque, cercando a sala de sombras. Mas tudo que arranco de meu carcereiro é uma risada rouca.

-- É, moça, esse truque aí não vai dar muito certo. -- ele dá dois toques no capacete -- Equipamento especial. Agora vê se come.

Ele coloca a bandeja nas minhas mãos com brutalidade e sai, fechando a porta atrás de si. O minuto que perco antes de reagir é precioso, e quando me lanço de novo contra a ventarola, ele já está se afastando.

-- ONDE EU ESTOU? -- grito, mesmo sabendo que é inútil -- CALEB ESTÁ BEM?

Por algum milagre, o carcereiro para. Vejo apenas parte dele, girando nos calcanhares para me encarar, sem retirar o capacete.

-- Ele vai ficar legal, se você se comportar direitinho. -- diz -- Agora coma. Mais tarde temos testes a fazer.

Observo-o desaparecer no corredor, e engulo em seco, encarando a bandeja em minhas mãos. Quando estudo seu conteúdo -- pão seco, sopa, alguma mistura nojenta de arroz e carne -- sinto-me ao mesmo tempo faminta e enojada. Mesmo assim, como. Ainda não tenho um plano, mas sei que precisarei de todas as minhas forças se quiser tirar Caleb daqui.

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