Família

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Metawin quis muito ter conhecido a mãe, e tinha inveja dos irmãos por terem passado alguns anos com ela. Algumas vezes sentia-se péssimo e até culpado. Se ela morreu no seu parto, a culpa era sua. Type era sensato o bastante para não deixar o irmão mais novo pensar tolices.

— Não seja bobo. O pai é um homem bom... jamais pensaria isso. Você sabe por que ele é assim. É um homem solitário.

Type sempre fazia questão de proteger o pai, ou falar bem dele, no mínimo. Metawin não entendia. Gostava do pai, mas enaltecer não parecia necessário, sobretudo por ele ser violento. Metawin questionava-se sobre a personalidade do pai. Parecia descontar a raiva nos filhos por não ter uma esposa.

Era domingo, hora do almoço. Estavam todos juntos. Naquele dia, a bebê não chorava na cadeirinha, longe do colo da mãe, e o pai dos rapazes estava de bom humor. Metawin achou que era uma boa oportunidade para falar sobre Fong.

Antes que pensasse em começar o assunto, o pai perguntou-lhe:

— Como estão indo as aulas?

Ele até sorria. Estava mesmo bem-humorado. De repente, lembrou-se de Bright. Sentiu saudades de vê-lo de perto, e não apenas na imaginação. Queria encontrá-lo novamente.

— Gosto da faculdade nova. Tenho um amigo.

— Como conseguiu isso? — Green zombou.

— Fácil. Fui o oposto de você.

— Meninos. — O pai chamou, rindo. — Amigo? Quem é?

— Fong. Acho que, quando ele for mais velho, quer trabalhar com desenhos.

— Um homem inteligente não segue uma carreira que não dá dinheiro.

— Pai, dá pra ganhar dinheiro desenhando.

— Não seja burro, Metawin. Desenhar não tem nada a ver com uma carreira de verdade.

— É. — Concordou em voz alta, discordou por dentro. Detestava brigas. — Temos um trabalho pra fazer. Posso trazê-lo aqui?

— Por tanto que não bagunce a casa...

Metawin sentiu vontade de dizer que não era mais uma criança, e que a última vez que bagunçou a casa tinha oito anos de idade. Quis gritar que o pai não precisava se preocupar, já que, quem arrumava a casa não era ele, e sim, os próprios filhos.

Quando o almoço acabou, Green subiu as escadas e trancou-se no quarto, como fazia sempre quando estava em casa. Sabia que o irmão gostava de ler. Era para ser um segredo. Um dia, porém, ele apareceu na sala se lamentando que precisava de óculos de grau.

Type alimentou a bebê com a sopa de liquidificador que havia feito minutos atrás, e sua esposa tirou a louça suja da mesa, indo lavar logo em seguida, junto com Metawin, que sempre ajudava a arrumar a cozinha. Contudo, naquele dia, Metawin queria passar um tempo com o pai, e conversar com ele sobre música. Não sabia se seria uma má ideia, mas o pai estava de bom humor. Precisava aproveitar o momento.

— Pai, pode me ajudar? — Perguntou, no impulso. Quase desviou o olhar. Se desviasse, o pai não lhe daria moral. O encarou até que ele decidisse.

— Acho que não tenho nada melhor pra fazer.

Ficaram um ao lado do outro. Nenhuma palavra foi dita. Metawin estava nervoso. Sempre ficava nervoso quando o pai estava por perto. Era pior do que sentir as pernas bambas por Bright.

— Pai.

— Sim?

— A mamãe tinha algum toca-discos?

O Fio do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora