02. O VELHO DAS ARMAS

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O dia mal amanheceu e os portões do celeiro já estavam abertos e os guardas gritavam. Ersoh acordou assustado limpando as remelas enquanto corria junto dos outros garotos para o lado de fora. Seu corpo doía menos, era melhor não pensar sobre. Estava frio, o vento rasgava seus finos braços. Assim que o silêncio foi instaurado, Gizur iniciou seu novo discurso.

— Bom dia futuros guerreiros e guardas reais. Nosso trabalho hoje começa cedo. Estiquem seus músculos, pois teremos mais um desafio antes do início dos treinos. Uma pista de corrida foi montada com obstáculos. O primeiro a chegar ganha. Então se encaminhem para a pista e se preparem para a corrida. O rei espera o melhor de vocês sempre, então deem a ele o que ele espera.

Ersoh foi, ainda um pouco tonto, para o que seria a largada dessa corrida. Não ouviu o sinal de Gizur, mas percebeu que todos já estavam correndo, então repetiu o movimento. Seu olho esquerdo latejava, ele o mantinha fechado pois doía menos.

Os fenos chegaram, ele viu os outros corredores pulando, e assim o fez. Ficou surpreso que conseguira pular sem ter que parar de correr. Não queria ser o último, e ao olhar para trás não viu mais ninguém. Correu com ainda mais ferocidade e conseguiu ultrapassar alguns competidores.

Seu sorriso era enorme, não se sentia assim havia muito tempo. A parede de caixotes se aproximava. Como vou passar disso? Viu outros tentando escalá-la e a estudou a fim de encontrar os melhores lugares para subir. Se jogou no primeiro caixote e seu pé se firmou onde queria. Ótimo. Deu um impulso para agarrar o próximo caixote, mas sentiu sua perna puxada. O céu estava limpo e azul escuro, o chão, maciço e nada confortável. A queda tirou de vez o que restava de ar em seus pulmões. Sua cabeça bateu no chão com tanta força que o soco de Reyr pareceu um simples peteleco de criança. Sua visão turvou, mas era o suficiente para ver Reyr subindo. Filho da mãe. Era o suficiente também para ver que entre dois caixotes havia um pequeno buraco. Eu entro ali. Seu corpo pesava uma tonelada a mais do que antes, o mundo girava incessante. A última vez que se sentiu tão tonto foi quando tomou seu primeiro porre de vinho com Bragi, com seus quatorze anos. Agora aos dezesseis sabia controlar seus passos com maior maestria. Cambaleou até seu objetivo.

— Onde o Ersoh está indo? — perguntou Gustaf a Tyr, ambos parados em frente à parede de caixotes. — Ele vai conseguir passar ali mesmo?

— Não, ele já conseguiu. — confirmou Tyr.

Ersoh passou por debaixo de um caixote, limpou a terra e a lama e percebeu seu feito. Sorriu novamente. Viu Reyr chegar ao topo da parede, a tempo de ele também o ver. Sorriu, mas não como antes, agora com desdém. A chegada estava logo ali. Juntou o que restava de energia em seu corpo e partiu. Ouviu alguns palavrões berrados por Reyr, ignorou e partiu para sua vitória.

Depois do caminho descoberto por Ersoh, mais alguns passaram por debaixo do caixote, e conseguiram terminar o teste. Outros fizeram o percurso mais complicado passando por cima da parede e não estavam muito contentes com quem havia optado pelo caminho mais fácil. Gustaf passou por cima, e Tyr por baixo.

— Ele trapaceou, isso não vale! — alguém gritou.

— É verdade, quem ganhou foi o Reyr, ele foi o primeiro a passar por cima. — concordou o amigo de Reyr.

— Esse filho da mãe acha que é espertinho, mas trapaceou! — berrou Reyr.

— Ele só foi mais inteligente que você — disse Tyr.

— Todo mundo calado! — vociferou Gizur. — Ele foi o primeiro, ele ganhou. Aceite sua derrota, garoto. E você, magrelo. — Virou-se para Ersoh — Espertinho, né? Hoje à noite terá seu prêmio pela vitória. — Prêmio? É, agora sim meu dia está muito melhor. — Vão para o celeiro. Digo, o alojamento, e esperem a convocação para o treino da manhã.

Batalha de Nyrm - Uma Fantasia MedievalOnde histórias criam vida. Descubra agora