Sua vontade era de surrar o velho. Mas ele era um velho, isso não era o certo a se fazer. Não estava na sua melhor condição, estava quase desidratado, banhado em seu próprio vômito e assustado com tudo aquilo.
— Olha, o chá ainda está quente, se quiser tomar... — sugeriu Aldar.
— Você quase me matou do coração, Aldar! Ele está morto, muito morto! — gritou Ersoh.
— E você disse que não tinha medo de nada. — riu.
— Eu não quero chá, eu quero o Tyr de volta. Eu o matei, Aldar. A culpa é minha! — seus olhos encheram-se de água.
— Olha, pelo que eu sei, depois que morre não tem como voltar. Então, posso tomar o chá?
— Toma! Faz o que quiser com ele! Eu não me importo! — vociferou num berro misturado com choro.
— Mas o chá faz bem, se você tomar vai ficar mais relaxado. Aí depois pode se culpar pela morte do garoto.
— Me dá isso aqui. — Puxou a xícara da mão de Aldar e virou a bebida num só gole.
— Não, não, droga! Você fez tudo errado!
— Eu sei! Eu devia ter me escondido dos Pássaros Azuis quando foram me buscar e não ido até eles!
— O chá! Se toma devagar, você deve sentir o gosto! Não é remédio para se tomar de uma vez só! Por isso maenas não tomam chá, vocês não sabem.
— Desculpa, eu só faço as coisas errado, aparentemente. — Sentou-se numa pedra próxima ao corpo de Tyr.
— É o que parece mesmo. Mas não se culpe por isso. Todos fazemos coisas erradas, sabia? Foi você quem bateu nele até ele, enfim, você sabe, morrer? Você o obrigou a passar pelo mesmo lugar que você durante a corrida?
— Não. — Quase não conseguiu responder, estava difícil conter as lágrimas.
— Então não foi culpa sua, não totalmente. As coisas acontecem, como um dia após o outro.
— Como sabe que bateram em nós porque trapaceei? Como sabe meu nome? Não lembro de ter falado.
— Eu... sei. — confessou o velho. — E seu nome eu sei porque ouvi o seu amigo grandão falando, ele tenta sussurrar, mas falha miseravelmente.
Ersoh não disse mais nada. Observava o corpo morto de Tyr. Ele merecia um enterro e Ersoh o fez. Com a ajuda de Aldar, que curiosamente havia trazido uma pá, cavaram uma cova rasa e o enterraram.
— Você tem alguma religião? — perguntou Aldar.
— Não sei. Mas acho que a Ordem de Yorohr basta. Por quê?
— Geralmente fazem algumas preces para que a alma seja recebida onde quer que seja, não sei, eu não acredito nessas coisas. Enfim, que Yorohr possa cuidar dele, onde quer que ele esteja. É o suficiente?
— Acho que sim. — concordou o pastor.
— Então vamos, você perdeu o almoço servido na casa vermelha, eu preparo algo para nós.
O silêncio de vozes permanecia, somente o barulho dos talheres de Aldar era audível. Em alguns minutos o velho saiu da cozinha com duas cumbucas. A aparência não era nada apetitosa, um liquido viscoso e alaranjado borbulhava e exalava um aroma incomum.
— Espero que goste. — disse Aldar esperançoso.
— Espero que eu não morra. — confessou Ersoh.
— Esse não é o melhor elogio que se possa fazer.
Ersoh descobrira que a aparência não estava de acordo com o gosto, este estava muito melhor. Comeram.
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Batalha de Nyrm - Uma Fantasia Medieval
Fantasy"A vitória ainda é uma opção àqueles que estão dispostos a arriscar tudo". O escravo Ersoh Drazir, pastor de ovelhas, recebe uma oportunidade de escapar do chicote e servir ao rei na Batalha em Nyrm, talvez a única chance que alguém como ele tem de...