EPISÓDIO UM

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"Você não precisa se prender ao passado para compreender que é capaz de guardar uma lembrança" — olhei para tela do celular e meditei nessa verdade. — Até quando somos capazes de lembrar? Ou melhor... Até quando somos capazes de nos esquecer daquilo que preferíamos não ter vivido?

A vida é como um grande espetáculo sem ensaios, não tem rascunho ou passagem de texto. Você não sabe quem será protagonista da sua história nem se ela será um romance ou uma ficção científica, drama ou terror.

É verdade que temos escolhas e precisamos tomar decisões todos os dias, mas muitas das vezes as tomamos sem saber que consequências estas trarão; se nosso final causará emoção, sorrisos ou se verão como perda de tempo.

Eu poderia ter tomado vários rumos, decidido entre tantos caminhos. Talvez a que eu tenha feito não veio a ser a melhor escolha ou a que me faria mais feliz; eu posso ter me arrependido de muitas coisas, mas neste caso preferi me arrepender por ter arriscado mais em mim e investir a minha felicidade em quem realmente posso confiar: eu mesma.

— Não posso ir com você, Débora — Fernando olhou fixamente em meus olhos enquanto soltava aos poucos minhas mãos. Seu semblante era triste, porém firme, parecia irrefutável.

— Não posso ir com você — repeti suas palavras largando-o por completo. Seus olhos azuis não estavam mais tão brilhantes assim, apesar da dor ainda sentia uma vontade enorme de beijá-lo, mesmo que por uma última vez, mas decidi não fazer.

Ele engoliu a seco e virou-se de lado na tentativa de se esconder enquanto uma lágrima disparava em seu rosto. Nitidamente ele sentia muito, deixar o outro ir é uma decisão difícil, mas não parecia existir outra saída para nós dois.

— Tem algo mais a dizer? — Se preparou para levantar e eu fiz em seguida.

— Eu-eu amo você — o choro tomou conta e não consegui dizer mais nada. Ele me abraçou forte, sentia os batimentos acelerados do seu coração, que o fazia tão rapidamente que poderia se despedaçar em uma explosão.

Era doloroso pensar que não o teria mais ao meu lado, seu abraço, seu carinho, sua gargalhada gostosa que só de ouvir me fazia sorrir... Uma parte de nós se vai com o outro.

— Eu também amo — respirou fundo na tentativa de controlar o choro — também amo você — ainda no abraço ele secou delicadamente meu rosto com uma das mãos.

— Acho melhor você ir.

— Sinto muito — ele analisou meu rosto por um último instante e passeou seu dedo nos meus lábios — fique bem. — Ele se foi e quanto mais distante ficava, mais a angústia aumentava em meu peito.

Naquela época eu pensava que não existiria dor maior, será que eu estava certa?

É verdade que cada planta é cultivada e cuidada a sua maneira, mas algo inevitável acontece no decorrer do cultivo: a necessidade de trocar o vaso, podar ou fazer novas mudas. Isso não significa a morte, ao contrário, muitas vezes é a vida de uma nova flor.

Mudanças são necessárias, um novo ciclo se fecha para dar início a outro; uma parte de nós morre para que uma nova vida nasça: com um novo olhar, uma nova perspectiva e com confiança de que o que viveu valeu a pena para se transformar na pessoa que se tornou.

— Mais uma compra feita com sucesso — olhei emburrada do sofá para minha mãe que estava na poltrona da frente exercendo seu papel de consumista compulsiva — o que foi? A Sofia está precisando de uma caminha nova e os brinquedos dela estão todos mordidos.

— A tecnologia para a senhora foi péssima nesse sentido. Antigamente precisava sair para gastar dinheiro, agora faz tudo com um simples click direto da sua sala de estar.

O quanto ele me amavaOnde histórias criam vida. Descubra agora