Prova Final

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A descida para a sala de controle é longa e escura, como se eu estivesse a descer um túnel para adentrar o núcleo do planeta Marte, mas, na realidade, estou para entrar no núcleo da cidade de Jardines. A escuridão é tanta que a luz acesa da lanterna é o único que consigo enxergar.

Eis que os meus pés tocam o chão. Com a lanterna na mão, viro-me de costas e ilumino o caminho à frente: um largo e extenso túnel metálico, cujo teto alto está oculto na escuridão. Caminho pelo túnel em passos calmos, cercado de silêncio. Mórr... Um murmúrio ecoa à direita e eu me viro. Nada. Vejo apenas a parede cinza e metálica. Múrr... Múrr... O murmúrio soa no caminho a frente e eu volto a me virar. Também não vejo nada. Nhurrrr... Ecoa atrás de mim. Meu coração dá um pulo. Meu corpo tenta me mover para olhar para trás contra a minha vontade, mas eu resisto e fico olhando apenas para frente.

— Não é nada, Gilson — murmuro. — É só alucinação...

Volto a andar em frente, agora um pouco mais apressado. Em menos de um minuto, chego a um espaço amplo todo envolto de preto. Ilumino ao redor e não vejo absolutamente nada. A escuridão é tanta que nem a minha lanterna está jorrando luz suficiente para poder enxergar alguma coisa com clareza. Se apagar a lanterna, a escuridão me preencherá por inteiro, vai ser como se estivesse de olhos fechados, incapaz de ver até mesmo o meu próprio nariz.

Tchórrrrrr! Paro de andar quando o fone volta a chiar. Coloco o dedo em cima do fone para ouvir com atenção.

— Quem diria que você chegaria tão perto, não é mesmo? — é Alexia Mederin. — Está pronto para a prova final?

— Prova final?

— Sim, prova final. Este será o momento em que os seus instintos de sobrevivência serão colocados à prova. Tente me encontrar, Gilson Fernandes. Tente descobrir a entrada para o meu esconderijo. Esse é o seu último desafio, mas tome cuidado, pois você não está sozinho. Eles estão indo atrás de você agora: o forte, a ligeira e o escalador. Eu vou ficar aqui assistindo de camarote com a expectativa de qual deles irá te matar primeiro. Reze para a sua morte chegar logo, pois, no que depender de mim, ela não vai ser nem um pouco rápida — ela desliga.

Abaixo o dedo lentamente do fone. Movimento-me para frente. Olho para um lado, para o outro... Apenas escuridão. Tudo que é possível enxergar com a lanterna é um chão cinza e liso. Póc... póc... póc... Esse é o som dos meus passos, o único que evita o lugar de estar mergulhado na mais absoluta quietude. Rodo os olhos ao redor, sem mover a lanterna. Só vejo o preto puro. O jeito como os meus passos ecoam repetidamente no ar indica que este lugar é extremamente amplo, semelhante a um grande estádio de futebol, porém maior. Posso estar errado, mas estou me sentindo um peixinho minúsculo nadando em um oceano.

Os segundos passam e nada mais ouço, porém não resisto em olhar rapidamente para um lado e outro. Mederin disse que eu não estou sozinho. Ela estava se referindo às sombras de olhos brilhantes ou... Claro... O forte, a ligeira e o escalador. Só pode ser o Trio Pátria Mundo. Eles estão aqui, e em breve irão aparecer para me perseguir.

Mais segundos passam e nada acontece. Será que ela mentiu? Será que ela quer que eu chegue até o centro de comando para me emboscar? Mesmo que seja isso, eu não posso deixar de ir até ela. Mesmo que eu tente, não tenho mais como voltar atrás. Se faço isso é morte certa. Posso ter uma vontade grande de viver, mas o meu medo de morrer é muito maior. Foi pelo medo que eu cheguei até aqui. Não será por ele que eu vou fugir.

Põ põ põ põ põ! Passos ligeiros se aproximam pela direita. Viro-me num giro e vejo Irmã Garra correndo. Aperto o botão de ligar e desligar a luz da lanterna repetidamente tic tic tic. Irmã Garra para de correr, dá meia volta e corre na minha direção oposta. Respiro fundo, estremecendo. Viro-me para seguir caminho e me deparo com dois olhos vermelhos brilhando, balançando para cima e para baixo, aproximando-se. A luz da lanterna revela Fortitude andando a passos largos na minha direção bung bung bung. Viro-me para a esquerda e corro.

Jardines - Tragédia Utópica (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora