Cinco

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"Corra, garoto, corra
Este mundo não foi feito para você
Corra, garoto, corra
Eles estão tentando te pegar"

Run Boy Run- Woodkid

  Uma pintura, era assim que eu via o degradê de cores quentes no céu, através das janelas da biblioteca

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Uma pintura, era assim que eu via o degradê de cores quentes no céu, através das janelas da biblioteca. Fechei o notebook e peguei uma caneta e um post it escrevendo um recado para Mary em tinta preta.

"finalizei a tabela de livros, teve apenas dois que não foram devolvidos ainda, deixarei abaixo o número da matrícula dos alunos para você conseguir avisa-los"

Colo o papel no notebook e pego minha garrafa de água colocando na lateral da mochila, como era época de prova, obrigatoriamente a biblioteca tinha se ficar aberta uma hora a mais, fechei as portas e tranquei deixando a chave em seguida na direção, para no outro dia de manhã Mary a pegar.

Desde o blackout, estou cobrindo o seu serviço, ela costuma sair para ir ao hospital quando chego no estágio, para ficar em seu lugar, não é como se não gostasse, ela está super certa em dar atenção ao seu filho, nem consigo imaginar a dor que ela estava sentindo...acontece que estava um pouco sobrecarregada, além das provas e trabalhos, tive muito mais afazeres na biblioteca, de coisas que nem fazia ideia inclusive.

Olhei para meu celular, eram 19:18 quando cheguei ao estacionamento, abri o carro com a mesma dificuldade e o liguei, meu destino era uma caixa de chocolates na prateleira dentro do mercado mais próximo, após um dia cansativo merecia aquilo. Estacionei o carro em frente e adentrei o local não demorando muito para sair com uma sacolinha cheia de guloseimas.

  Ouvi o celular tocar dentro da mochila.

—Alô? —Falo engatando a chave na ignição.

—Oi filha, como você tá? —Minha mãe disse do outro lado da chamada.

—To bem, hoje saí mais tarde, época de provas —dei uma risada nervosa —Aconteceu algo?

—A tia josy tá aqui, ela viu uma calça que você deixou aqui quando se mudou, e perguntou se pode levar para a Grace —enquanto ela falava, conseguia ouvir um barulho de fritura, um jantar estava saindo.

—Qual calça? —Vesti o cinto me atrapalhando para não tirar o celular da orelha, olhando no retrovisor como reflexo.

Vi uma moto ser estacionada do outro lado da rua, e o cara que estava a pilotando começou a olhar de forma suspeita para o carro.

—E então? —Minha mãe disse, só então voltei a atenção para a conversa, não havia ouvido nada do que ela disse.

—A, pode dar a ela...—vi o homem tirando uma foto disfarçadamente e ligando para alguém, minha intuição gritava que não era boa coisa —Preciso desligar agora, beijos.

Liguei o carro e dei ré evitando olhar para o homem, quando já estava mais à frente na estrada fiquei aliviada por ver que minha intuição estava errada, afinal quem roubaria uma lata velha dessas? Virei na primeira esquina e fui surpreendida ao ouvir o barulho alto de motor e um farol alto ligado logo atrás de mim, pisquei os olhos que arderam e olhei pelo retrovisor, aquele homem estava ali.

Decidi acelerar mais, e virei em outra esquina e assim fiz seguidamente, e agora tinha certeza, aquele cara me seguia,cheguei até a cogitar a ideia de ser Ryan que mudou de ideia e veio me cobrar, mas aquele homem tinha o corpo bem mais cheio e uma moto diferente, movida pelo medo acelerei mais ainda, nem sabia para onde estava indo, mas querendo ou não foi uma péssima escolha de caminho, já que as casas estavam ficando para trás, o carro parecia que iria desmontar a qualquer momento e tudo piorou quando o asfalto se tornou uma estrada de terra.

Peguei o celular porém falhadamente pelo chacoalhar do carro ele caiu logo abaixo do banco do passageiro, me inclinei um pouco e ouvi um barulho alto, olhei novamente para o retrovisor e consegui ver algo metálico refletir em sua mão, um revólver, que não demorou para apertar o gatilho outra vez, acertando a parte traseira, ele queria acertar as rodas, se conseguisse eu poderia dar adeus aos 19 anos que vivi e todos os sonhos que ainda tinha.

E não demorou para acontecer, após dois minutos ele acertou o pneu dianteiro traseiro, fazendo o carro rodar e parar bem próximo a um barranco. Meu ouvido zumbiu e fechei os olhos com força pela dor que senti na cabeça, recuperei os sentidos a tempo de ver o meu perseguidor descer da moto e começar a andar até o carro. Me abaixei e tentei pegar o celular, pensando em correr em seguida mesmo sabendo que as chances de sobreviver eram mínimas.

Quando encontrei o eletrônico e tirei o cinto, um barulho de motos surgiu vindo do lado contrário da rua, "comparsas" pensei e voltei a olhar para o homem que vestiu as pressas seu capacete e correu em direção da sua moto, ele estava com medo.

—O que? —Disse mais como um sussurro e virei a cabeça, três motoqueiros apareceram, um deles atirou contra a perna do homem que caiu antes de chegar a sua única chance de fuga.

O da moto vermelha chegou próximo do corpo e desceu da moto chutando a arma que estava com o cara para longe, e seu colega logo segurou os braços do perseguidor para trás.

—Toc toc —Ouvi alguém dizer e dar duas batidas na janela do carro—Mandou bem loirinha —Aquela pessoa tirou o capacete deixando à mostra o sorriso e o cabelo preto cair sobre a lateral dos olhos.

—Ryan —Eu disse em meio às lágrimas, abri a porta e continuei sentada no banco de couro, meu corpo tremia, aquilo era o verdadeiro medo. —O que tá acontecendo...por que?

—Você precisa se acalmar primeiro —Senti sua mão sobre a minha cabeça, mexendo em meu cabelo —Vou te explicar tudo, só que agora temos que sair daqui, consegue ficar de pé?

—Não —disse por sentir tudo dormente.

—Só não vá se acostumando —Ele disse passando os braços na minha cintura e pernas, me levantando—Ta na hora de um regime né.

Conseguia perceber que ele queria me fazer rir ou ter qualquer reação que eliminasse o meu medo, ele me sentou na moto e vestiu o seu capacete em mim, subindo na frente em seguida.

—Vocês já sabem o que fazer —Disse na direção dos dois colegas, todos usavam a mesma jaqueta, eles fizeram um gesto para Ryan em resposta, empurrando o homem para um canto.

—O que eles vão fazer? E o carro? —Perguntei, Ryan olhou por cima do ombro e fechou minha viseira.

—Se segura firme—Foi a única coisa que me respondeu.

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