Lágrimas de Ferro (Beauany)

Cap.9

A tremer tirei a luva da mão direita e esperei a reação dela. A minha mão estava cheia de cortes e vermelha. Esta semana não tinha sido fácil...

- Jo-Josh... a tua mão... O-o que aconteceu? Quem te fez isto? Foi o teu t-tio?

- E-eu...

- O teu tio maltrata-te?

Senti uma lágrima a escorrer pelo meu rosto. Eu queria desabafar com ela, dizer tudo o que me estava acontecer, mas eu já mantinha isto em segredo á tanto tempo que era difícil falar.

- Josh, podes confiar em mim.

Ela pegou-me na mão e eu dei um pequeno gemido de dor (DE DOR GENTE, SUAS MENTES POLUIDAS). Ela colocou a outra mão dela na minha cara, o seu toque era quente e suave. Olhamo-nos nos olhos e as pupilas dela dilataram. Arrepiei-me quando senti ela a cruzar os nossos dedos.

- Josh... Eu preciso de saber a verdade...

- E-eu... não sei se consigo contar.

Desviei o olhar para o chão com vergonha. Os rapazes têm a reputação de serem fortes, mas eu era tudo menos isso. Eu era fraco, um inútil.

- Tu consegues, eu sei que sim. Eu não te vou julgar. Eu estou preocupada... contigo.

- Ele... ahm.. foi ele... - digo num sussurro

- Ele fez-te isto? Porquê?

- Sim, f-foi ele... Porque eu sou um inútil, não faço nada direito. Ele tem razão, eu nem deveria existir.

Digo aquilo tão rápido que no fim respirei fundo. Sabia bem tirar aquele peso de cima, poder desabafar finalmente.

- Isso é horrível! Tu não és nenhum inútil, todos temos importância.

- Any... promete-me que não vais fazer nada...

- Como assim? Eu não posso simplesmente ignorar o facto de que ele te bate!

- Any por favor... Eu não quero que te metas no meio disto.

- Mas Josh...

- Por favor!

- Okay... Mas se ele te bater outra vez conta-me! Porque não vais á policia?

- Eu já fui o ano passado, mas ele fingiu ser o melhor tio do mundo...

- Com a minha ajuda podíamos apanha-lo! Ele ia para a prisão!

- Já disse que não quero que te envolvas nisto.

- Okay... Desculpa, só queria ajudar...

- Eu sei que sim, mas eu não quero que tu sofras.

Coloco a minha luva de novo e fico a falar com Any até tocar o sinal de saído.

Tivemos juntos a manhã toda, falamos sobre várias coisas e eu fiquei a saber muito sobre ela. Expliquei-lhe a minha situação, pois ela tinha o direito de saber.

No fim das aulas fui com ela passear no parque. Sabia que ia ser castigado quando chegasse a casa, mas preferia mil vezes a companhia da Any do que a do meu tio.

Ela mostrou-me alguns dos seus lugares favoritos, lancha-mos num café e algum tempo depois fui para casa.

Entrei em casa e fiquei surpreso por ver que o meu tio não estava. Provavelmente estava tão bêbedo que andava na rua a fazer figuras tristes. Como se eu me importasse com isso. Subi para o sótão onde eu dormia e fiz os trabalhos de casa.

Já de noite recebi uma chamada de Any e atendi.

- Hey Josh tudo bem?

- Sim e contigo?

- Também. Olha amanhã vou adotar um cãozinho, queres vir comigo?

- Claro que sim! No fim das aulas?

- Sim, mas não vais ter problemas com o teu tio pois não?

- Não te preocupes.

Falamos durante uns minutos e depois desliguei a chamada. Desci e percebi que não havia nada para eu comer, como sempre. Fui até á despensa "secreta" do meu tio e tirei um empadão meio comido. Não era bom, mas servia para matar a fome.

**QUEBRA DE TEMPO**

Alguns meses passaram e nós estávamos finalmente nas férias de verão. Para muitos isso era motivo de alegria, estavam livres da escola e da maior parte das responsabilidades.

Para mim era apenas mais tempo em casa sem desculpas para sair.

A Any estava preocupada comigo, eu não era o mesmo. Ela levou-me a um psicólogo que me disse que eu estava no inicio de depressão. Desde que ela soube isso, ela vem a minha casa todos os dias e ficamos a falar atras da janela da cozinha, quando o meu tio não está.

Se não fosse ela, acho que já teria cometido uma loucura. Quando falava com ela eu sentia-me um pouco mais alegre, mas cada vez custava mais vê-la partir. Sempre que a via ir-se embora sentia que a minha pequena porção de felicidade ia com ela.

Até que um dia não aguentei mais...