Capítulo 2

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Às vezes, o amor é como pular de um precipício, você conhece os riscos, mas mesmo assim não se importa.

AMANDA:

Isso é loucura! Meu Deus! O que estou fazendo? Meu subconsciente sabe melhor do que a porra do meu coração que isso é loucura, mas mesmo assim, eu entro no carro após olhar nos olhos dele e ouvir em alto e bom som, confia em mim. Meu Deus! Eu não confio nem em mim nesse momento. Sempre pensei nas coisas de uma maneira perigosa, isso pode ser a melhor ou pior escolha da minha vida, mas de algum modo me dar coragem, embora eu tenha consciência que é loucura. Estou indo contra todos os princípios básicos da sobrevivência feminina.

De repente, minha respiração está ofegante, minhas pernas balançam involuntariamente, minhas mãos estão suando e eu não sei mais o que fazer. Calculo a possibilidade de aproveitar que eles estão conversando e fugir, mas toda vez que eu olho nos olhos dele, é mais forte que eu, é um mistério que eu quero muito desvendar. De repente, Henrique abre a porta do carro e sorri para amenizar o clima.
— Esqueceu isso — ele diz, e me entrega o envelope.
Ele percebe que eu estou assustada, e toca meu rosto bem devagar, segurando meu queixo com delicadeza.
— Eu prometo que isso não é nenhuma piada, ou nenhuma brincadeira de mal gosto, ou um truque para te levar para cama.
— E o que é então?
— Um jeito criativo de te chamar para sair.
Bem criativo mesmo.
Eu sorrio e balanço a cabeça negativamente, pois não sei o que dizer. Eu queria dizer muitas coisas, eu queria dizer que isso é loucura, que ele é louco, e que eu sou louca, mas acho que as nossas loucuras combinam.
— A gente se vê mais tarde — ele diz com um lindo sorriso no rosto, mas eu não digo nada. É para dizer alguma coisa?

Ele fecha a porta e Fred finalmente entra no carro, é cordial e silencioso. Silencioso demais, o que me deixa inquieta e ainda mais nervosa. Não faço ideia de onde estou indo, e sinto meu estômago embrulhar. Depois de alguns minutos na estrada, ele pede que eu abra o envelope.
Eu o seguro com um enorme frio na barriga, mas para minha surpresa, o envelope tem o meu nome impresso em papel cartão, fonte times new Roman, tamanho 20, na cor dourada, o que é estranho, porque acabamos de nos conhecer. Rapidamente imagino que não fui "escolhida" por acaso, e que talvez ele tenha planejado tudo isso, e das duas uma, ou ele é muito criativo, ou é um psicopata.
Por enquanto, estou apostando no psicopata.

No envelope tem três endereços, um deles até que é familiar, então eu deslizo os dedos pelo papel de cheiro adocicado e noto que em baixo de cada endereço, há etiquetas segurando pequenos envelopes na cor preta, então eu abro o primeiro.

"Oi Amanda, não se assuste, está tudo bem, eu só quero que você tenha um bom dia, antes do nosso primeiro encontro que eu chamei carinhosamente de dia de princesa, mas como você não gosta, pode chamar de dia de Amanda.

"Te quero, até mais. "

Te quero? Primeiro encontro? Como assim? Mil coisas passam pela minha cabeça nesse momento. Mãos gélidas, o frio na barriga, o medo de não saber o que estou fazendo, para onde estou indo, a vergonha de possivelmente, transar com um homem por dinheiro, ou sabe-se lá o que mais, conversar? Digo isso para mim mesma para tentar me acalmar, então logo percebo o porquê de não conhecer o endereço.
É de uma loja que eu nunca entraria levando em consideração meu pequeno salário, então Fred para o carro e logo abre a porta para mim.

— A senhorita Bruna está te esperando, ela vai ajudá-la — ele diz de um jeito tão natural, que parece o Henrique falando com uma voz calma e viril.
— Me ajudar? Em quê? — Pergunto.
Estou tão nervosa, que sinto que vou vomitar a qualquer momento.
— Vai entender — ele diz, me poupando de qualquer detalhe.
Eu respiro fundo, saio do carro e caminho até a porta da loja, e por um momento, me envergonho da minha roupa de brechó barato. Uma moça de olhos verdes e cabelos castanhos abre a porta sorridente e eu não sei como devolver o sorriso, me sinto uma espécie de aproveitadora barata.
É isso que eu sou?
— Bem-vinda, Amanda, estávamos à sua espera, meu nome é Bruna, e hoje eu vou te ajudar a escolher as suas roupas.
Pera aí, todo mundo me conhece?
— Minhas roupas?
Ela sorri.
— Sim, no plural. O que posso te servir? Champanhe, suco, café, o que quiser, é só pedir.
Quero ir embora.
— Pode ser água?
— Claro, querida.
Começo a policiar minhas ações, mas me sinto estranha, como se o fato de estar em uma loja luxuosa, confirmasse que eu não passo de uma garota de programa e que talvez, Henrique tenha costume de fazer isso, e que eu seja só mais uma, numa lista infinita de mulheres que fazem parte de algum fetiche bizarro e milionário.
Respiro fundo porque ainda me impressiona a velocidade que a minha mente anda.
A água é servida numa linda taça de cristal, que eu só bebi porque pedi, e até parece que o gosto é diferente.
— Tá tudo bem querida?
Deixo o ar sair dos meus pulmões antes de falar.
— Eu não sei o que estou fazendo aqui.
Ela sorri de uma maneira amigável e acolhedora, na verdade, ela não parece me julgar.
— Olha tá tudo bem, não precisa se preocupar.
Preciso sim.
Controlo minhas feições e me vejo sendo cuidadosamente analisada, e por incrível que pareça, eu nunca havia me sentindo mal por causa do ambiente em que me encontro. No fundo, eu sei que se trata da culpa e de toda pressão que a proposto do dinheiro me trouxe. Já estive em casas luxuosas, já participei de festas luxuosas da editora, já usei vestidos caros — alugados é claro, mas usei. Já fiquei com caras bem ricos, já andei no carona de carros caros e luxuosos, mas agora, com Henrique, tudo parece exageradamente errado, embora eu tenha plena consciência de que não estou fazendo nada disso pelo dinheiro, é pela irrealidade em que me encontro, o que é muito tentador.
— Me acompanhe, por favor — disse Bruna.

NÃO ME CHAME DE PRINCESA!Onde histórias criam vida. Descubra agora