Será que eu me distraí tentando evitar o amor, e ele simplesmente entrou na minha vida?AMANDA:
A superfície é o seu lugar.
Venho pensando muito sobre isso, sobre como me sinto no fundo do poço... ou nas profundezas do mar, se você quiser deixar tudo mais poético. Embora, na verdade, eu ache que os dois são a mesma coisa. Acho que dá para entender como me sinto.
Às vezes, penso que não pertenço mais a esse mundo cheio de amores superficiais. Talvez eu tenha sorte por me encontrar nas profundezas do oceano, longe de toda a competição por amores que não existem.Ninguém atende às expectativas de ninguém.
Por isso, continuo jogando minhas expectativas lá para cima, porque morro de medo de alguém alcançá-las. A minha armadura de mulher forte e decidida continua intacta, mas eu... eu não passo de uma covarde....
Ando apressada de um lado para o outro, servindo café no meu saltinho agulha de todos os dias. É um pouco baixo, mas ainda assim capaz de acabar com os pés de qualquer mulher. Eu o odeio, mas sinto-me obrigada a usá-lo, por conta da elegância de todas as minhas colegas de trabalho. Se dependesse de mim, eu estaria de tênis, mas aprendi cedo demais — e de uma forma extremamente necessária — que nem tudo depende do meu querer. Existe um mundo à minha volta, e ele não vai parar para que eu me adapte. Fato!
Dois anos na Editora Mundo, e eu sei de cor como cada um dos meus chefes gosta do café. Um com baunilha e chocolate, outro com canela — que eu não suporto nem o cheiro. Para mim, canela estraga qualquer coisa e deveria ser extinta da humanidade. E, por último, um com leite e bastante açúcar. O meu, o mais simples possível: café puro e forte, o que mais tiver gosto de café.
Eu simplesmente odeio a "gourmetização" do café. Sempre achei isso extremamente trivial e sem sentido. Para mim, ou você gosta de café — do aroma, do sabor e de suas nuances — ou você acumula açúcar em uma caneca suja de um chocolate ruim, onde as pessoas te cobram um rim por isso.
Suspirando de cansaço e desviando de conversas banais, eu volto para minha mesa, quase me jogo na poltrona extremamente confortável, fecho os olhos por alguns segundos para tentar relaxar, enquanto tiro os sapatos com os dedos dos pés.
— De volta ao trabalho — digo a mim mesma.
Coloco os fones de ouvido conectados ao meu computador e dou play na minha playlist. Logo começa a tocar Us, do James Bay, uma música que amo muito.
Na editora, cuido da diagramação dos livros. Adoro ler cada palavra enquanto ajusto as páginas, escolho fontes, cores, capas de capítulos — toda a formatação. Inicialmente, eu era apenas a garota do café, até perceberem que eu levava jeito tanto para ler e identificar algum possível potencial quanto para deixar o livro pronto para impressão. Eu amo esse trabalho, mas, como nem sempre as garotas ou garotos do café têm algum talento especial, acabo substituindo-os até que outro chegue e assuma o posto. Dias assim são sempre cansativos.
Às vezes, penso no quanto a minha versão criança, Amanda Mendes, amaria esse trabalho, porque a Amanda Mendes adulta ama de paixão. Eu amo os livros, mas detesto, com todas as minhas forças, os contos de fadas, histórias de princesas e romances água com açúcar — e, por isso, acabei me transformando numa grande fã do Stephen King.
Tá, eu não odeio totalmente; até leio esses livros. Tá, eu leio muito, todos eles. Só não acredito que qualquer coisa desse tipo aconteceria de fato na vida real. Aconteceria? Tipo, o romance dos livros do Nicholas Sparks? O tal do Atlas Corrigan no livro da Colleen? Ou o amor bonito da Bella e do Edward? Me custa acreditar nisso. Me custa muito.
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NÃO ME CHAME DE PRINCESA!
RomanceEm uma noite, após muita insistência da amiga, Amanda decide ir a uma boate. Lá, ela conhece Henrique Valadares: um jovem atraente, misterioso e absurdamente rico. Para sua surpresa, ele parece já saber tudo sobre ela - e vai ainda mais longe ao lhe...