O pai monstruoso

67 34 21
                                    


Galera, segue mais um capítulo extra, este na visão do nosso querido Gael. Lembrando que os capítulos extras podem estar ou não na ordem cronológica do restante do livro. Esperamos que vocês gostem!!!

- Por favor podemos fazer uma pausa? - eu perguntei depois da milésima tentativa de transformação.

Minha cabeça estava rodando e meu corpo implorava por um descanso, mesmo sem ter tido êxito uma vez que fosse. Talvez se eu conseguisse me sentiria bem menos cansado. Mas a essa altura eu achava que nunca iria conseguir me transformar.

- Você está bem? - Zarak perguntou parando ao meu lado.

- Sim, só acho que me concentrar demais está me deixando tonto. - respondi me sentando na grama e abraçando meus joelhos.

Zarak era meu instrutor pessoal, visto que em todos os meus 17 anos eu não havia me transformado uma vez sequer. Normalmente os metamorfos descobrem seus animais antes mesmo de sair das fraldas, e eu já estava quase indo para o último ano escolar e não fazia idéia de qual era minha outra forma. Quando meus pais me mandaram para cá eles esperavam que o famoso Vincent Zarak fosse capaz de forçar a minha transformação, mas já se passaram anos e eu continuo no zero.

- Você precisa parar de forçar Gael, sua forma animal tem que fluir de sua alma. - Zarak disse com aquela cara de paciência que me dava nos nervos,

- É fácil falar, já sabe a sua. - eu respondi baixinho enquanto apoiava a cabeça nos joelhos. A verdade é que eu precisava forçar. Eu precisava me transformar o quanto antes, e já que de forma natural não estava acontecendo, eu sentia como se eu fosse um grande fracasso.

- Já conversamos sobre isso. - ele disse respirando fundo. - Você precisa relaxar.

Eu não respondi, ele sabia a resposta, eu não podia relaxar.

Zarak sabia qual era o meu bloqueio e também o motivo que provavelmente barrou a minha transformação, o famoso senhor meu pai. A minha família tinha uma longa linhagem de grandes metamorfos. E quando eu digo grande não tem a ver com o quão importante eles eram, e sim com o tamanho de sua forma animal.

Todos eles foram treinados da forma mais rígida possível, e afirmam que esse é o motivo de serem tão grandes. Hoje eu sei que isso não interfere em nada, e que quando nascemos nossa forma já está decidida, mas claramente ninguém acredita nisso. Quando meu pai percebeu que seu método não estava funcionando, ele me mandou para a Ilumin e deixou bem claro que não queria envolvimento com o mais fraco da família. Ele suspeitava que eu jamais fosse me transformar, que eu era humano, e não queria ter um humano associado ao seu nome. Meus tios mais próximos sempre colocavam a lealdade de minha mãe aos seres da luz a dúvida, e eu precisava provar a todos eles - meu pai e meus tios- que estavam errados.

- Vamos continuar. - eu levantei fazendo polichinelos para me aquecer, e alongando o pescoço com movimentos circulares. Enquanto isso Zarak apenas assentiu, eu sabia que ele estava chateado. Não por eu ainda não ter me transformado, mas por eu ainda tentar forçar isso ao invés de deixar minha força "aflorar intuitivamente".

- Respire fundo e esvazie sua mente. - começou meu diretor, obedeci e ele continuou. - Sinta as criaturas ao seu redor, se imagine sendo envolvido pela luz de todos animais de nossa floresta, e então deixa essa luz fluir para dentro de sua alma.

Com os olhos fechados eu tentei deixar de lado todos os anos de treinamentos violentos e exaustivos para trás. Eu me concentrei na luz da lua sob a minha pele, na grama sob meus pés descalços e no vento chicoteando no meu peito nu. Me concentrei nos sons que meu corpo fazia, no meu coração batendo, e no som da floresta ao nosso redor. Eu coloquei todo o meu passado em uma pasta e a cataloguei bem no fundo na minha mente, para abrir espaço para a Luz e então eu implorei para que ela me mostrasse o caminho.

As crônicas de Anuê - Os filhos da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora