Capítulo 3 - Gael

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- Boa noite. - eu disse enquanto Kai e Frida se afastaram. Kai olhou para trás uma última vez antes de desaparecer no corredor, seus olhos pareciam distantes, como se ela estivesse em pé por milagre. O que não seria de surpreender, tendo em vista tudo que tinha acabado de acontecer, misturado com o álcool ingerido. Ela deveria estar um caco. Todos eles deveriam.

Ainda assim, Éden parecia mais incomodado do que cansado enquanto caminhava em direção a ala onde ficavam nossos dormitórios. Meu quarto ficava poucas portas depois do quarto dele, então sem querer eu acabei seguindo-o por todo o caminho. Vi quando ele parou em frente a porta de seu quarto, e se virou para onde eu vinha.

-E aí Peixinho! - Éden falou dando dois tapinhas em meu ombro - você se deu bem caindo no encanto da Sereia hoje. Achei até que sua praia fosse outra.

-É cara, posso até ser um Peixinho, mas aquela Sereia ficou louca por mim, já por você... - eu tinha dito aquilo sem pensar com toda a certeza do mundo. Em nenhuma realidade paralela eu teria coragem de enfrentar um Vampiro adulto sozinho, ainda mais sem ter como me transformar. Por isso ele não me surpreendeu quando se atirou na minha direção me colocando contra a parede.

Éden era muito mais forte do que eu pensava e eu pude sentir meus pés deixarem o chão enquanto ele me erguia contra a parede de madeira.

- Você não vai mais falar nada parecido perto de mim, ouviu peixinho? - disse ele entre dentes trazendo o rosto para muito perto do meu. Eu senti meu rosto queimar, não era medo, era vergonha. Eu realmente estava com vergonha do que tinha dito.

- Me desculpe, eu não devia ter dito isso. - respondi encarando o chão.

Ele não se moveu, ficou ali me segurando suspenso, enquanto eu olhava para o padrão florido do carpete do corredor. Quando levantei a cabeça para ver aquele que me segurava pude ver que sua mandíbula ainda estava travada, mas seus olhos me analisavam cuidadosamente.

- Sabe peixinho, - ele me soltou e começou a falar enquanto eu ajeitava minha camisa social novamente. - eu entendo a sereia.

- Como assim? - perguntei sem ter a menor ideia do que ele estava querendo dizer.

Ele se aproximou de mim novamente e eu estava pronto para ser suspenso outra vez, mas ao invés de me erguer, sua mão segurou meu braço firmemente, porém sem me machucar, e ele aproximou os lábios do meu ouvido.

- Se por acaso quiser experimentar uma nova praia, pode vir falar comigo. - ele disse com o que as garotas chamavam de tom sedutor e então se afastou de mim dando uma leve piscadinha de flerte ao entrar no seu quarto e fechar a porta atrás de si, enquanto eu ficava estagnado no corredor tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer.

Meu quarto não era longe, mas eu me apressei para ele, ansioso por finalmente poder apenas relaxar. Entrei e tranquei a porta, não que fosse uma necessidade, as trancas dificilmente eram usadas na Ilumin, mas devido ao que acabou de acontecer achei melhor garantir meu pescoço.

-Melhor prevenir do que remediar - eu sussurrei para mim, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar meu colega de quarto.

Os quartos dos alunos da Ilumin tinham basicamente o mesmo formato. Na parede onde ficava a porta haviam dois guarda-roupas, um para cada residente do quarto, e na oposta ficavam as duas camas de solteiro com uma enorme janela entre elas. O piso era um carpete sobre a madeira e as paredes eram pintadas de uma cor creme sutil, o resto da decoração era nossa responsabilidade.

Eu havia trazido a cortina, o nascer do sol tornava o quarto muito mais iluminado do que quando acendemos a luz, o que fazia ser difícil dormir depois do amanhecer. A cortina pesada vinho escuro resolveu o problema. Ravi, meu colega que estava preso em seu sétimo sono àquela hora, foi o primeiro a ocupar o quarto, quando cheguei as paredes estavam cobertas de imagens coloridas das coisas que ele gostava. Isso nunca me incomodou, e ele fez questão de limpar uma parede para que eu pudesse acomodar todos os meus inúmeros livros.

As crônicas de Anuê - Os filhos da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora