Se alguém estava se escondendo ali, o mais provável é que não estivesse interessado em companhia, mas aquele som me era familiar demais e eu não conseguia ignorá-lo. Alguém respirava e soprava rapidamente na tentativa de conter as lágrimas.
Não foi preciso ir muito longe, havia alguém recostado no tronco de uma árvore, eu podia ver suas pernas. Me aproximei, mas não fui muito cuidadoso e a pessoa percebeu minha presença, se levantando rapidamente e me encarando.
A primeira coisa que notei foi seu olho esquerdo, uma mancha roxa cobria toda sua extensão, além de ambos os globos oculares estarem vermelhos, ele também segurava o lado direito do corpo, parecia estar sentindo dor.
"Mas o que merda você tá fazendo aqui?".
"O que houve com você?".
"Porra! Me deixa em paz seu idiota!".
"Eu quero saber o que aconteceu com você".
"Não é da sua conta!"
"Quem fez isso com você?".
"Pqp! Você é surdo? Já falei pra sair daqui! Me deixa em paz!".
"Eu posso te ajudar".
"Você tem dinheiro?".
"Dinheiro?".
"Você é retardado? Dinheiro, você tem DINHEIRO?".
"Não".
"Você parece rico".
"Não estou com a minha carteira".
"Então você não pode ajudar em merda nenhuma, vaza!".
"Você está devendo dinheiro a alguém, o que aconteceu?".
"Devendo?! Você é idiota? Eu quero comer".
"Eu tenho comida".
"Então manda pra cá".
"Não aqui, em casa".
"Então trás aqui".
Por alguns instantes eu realmente pensei em voltar em casa e trazer os pacotes de biscoito e salgadinhos que estavam no armário. Se era comida que ele queria eu teria feito a minha parte. Nunca tive o costume de me preocupar com o problema dos outros. Mas aquele garoto...
"Venha comigo, você pode comer o quanto quiser".
"Tá falando sério?".
"Estou".
"Eu posso dormir também?".
"Dormir na minha casa?"
"Só um pouco, depois eu vou embora".
"Tudo bem".
Ele veio em minha direção com dificuldade, abraçado ao próprio corpo e apertando os olhos para fugir dos focos de luz que escapavam por entre as folhas das árvores. Pensei em ajudá-lo a andar, mas ele passou direto por mim.
"Vamos, eu to com fome".
...
"Você não tem móveis?"
"Alguns".
"Tomara que tenha cama".
Liguei a panela de arroz assim que chegamos, o serviria acompanhado com a comida que vovó Daon me deu. Enquanto isso ele comia um pacote de guiozas.
"Se não tem cadeiras aqui, você come em pé?".
"Geralmente sim, às vezes levo pro quarto".
"Me ajuda aqui". Ele tentava sentar no balcão usando apenas um braço como apoio. Segurei por baixo de suas axilas e o impulsionei. Ele pesava pouco mais que nada e pela sua expressão o movimento o fez sentir mais dor, mas ele não se queixou.
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ThornLhong - Uma História do Universo LBC
FanficTrês longos anos haviam se passado, mas para Lhong nada havia mudado, suas atitudes continuavam a lhe perseguir como demônios. Vocês acreditam em redenção? Lhong não. Mas Thron sim.