Eu não merecia aquele sorriso

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"Lhong?" Senti meu coração quase parar por alguns instantes, tive que me segurar para não por a mão sobre o peito. Minha primeira reação foi sair dali o mais rápido possível.

"Porque está me evitando?" Ele segurou meu pulso, por sobre a cicatriz. Pude sentir minha pulsação latejar em sua mão. Ele havia me segurado, presumi que me seguiria caso tentasse ir embora. Então apenas juntei minhas mãos em wai e o saudei respeitosamente.

"Você está com tempo? Queria conversar?".

"Eu..." Tempo era o que mais tinha. Tempo e medo de ouvir o que ele poderia me dizer.

"Como você pode recusar quando não nos encontramos em anos? Achava que eu era como um irmão pra você...". A primeira coisa que notei foi que ele sorria pra mim, um sorriso honesto, como me recordava. Mas isso era muito estranho. Não era o tipo de reação que esperava de qualquer pessoa que me conhecesse daquela época e por alguns instantes tive a esperança de que ele não soubesse tudo o que eu havia feito. Mas era impossível, a relação de Thron com seus irmãos é de muita amizade. Thorn sempre foi a pessoa de confiança para Tharn. Ele com certeza saberia cada detalhe do que havia acontecido. Acenei em concordância, ele nos levou até uma mesa e pedimos bebidas. A todo momento sorrindo para mim.

"Como tem estado depois de todos esses anos?"

"Eu... Tenho estado bem." Preferiria estar morto, era o que queria dizer.

"Fico feliz em ouvir isso." Tentei identificar sarcasmo em seu tom de voz. Mas não, não havia.

"Como estão os estudos?"

"Eu não moro mais na Tailândia. Depois do que aconteceu... Eu me mudei para fora do país, pra morar com minha irmã. Eu voltei para cá semana passada." Não era verdade, no entanto ele não precisava saber disso.

"Então eu sou muito sortudo de ter te encontrado hoje." Sortudo... Porque ele está dizendo isso? Não faz o menor sentido.

"Ahhh... Como...?".

"Tharn? Ele está bem".

"Bom".

"Ele está bem. E ainda está junto de Type". Eu nem precisei perguntar, sou ridiculamente óbvio.

"Só saber que ele está bem é o suficiente pra mim". Também era doloroso, mas saber que não estraguei sua vida já é alguma coisa.

"Se você está mesmo bem, então porque a cara triste? Você é um adulto, sabia?" Thorn tocou minha cabeça gentilmente e isso me deixou mais assustado do que se tivesse me batido. Além da minha irmã, ele era a primeira pessoa a me tocar dessa forma em muito tempo e isso me fez sentir miserável. Tão miserável que eu não consegui mais me segurar.

"P'Thorn, sério. Por que você não fica bravo ou só me odeia mesmo? Depois de tudo que fiz com Tharn..."

"Como eu posso te odiar ou ficar bravo com você?" Se eu não estivesse me segurando pra chorar, certamente teria rido, essa pergunta parece ridícula.

"Por como você está, deve estar se punindo. Você mudou, certo?" Ele se curvou para que seus olhos pudessem ver os meus e eu entendi. Ele não sentia raiva, mas sim pena e isso doeu mais do que eu poderia imaginar.

"Eu não sei. Mas nos últimos anos eu tenho sofrido tanto".

"Deixe que seu sofrimento sirva de lição. Não faça isso de novo. Você entendeu?". Sua mão pousou firmemente em meu ombro.

"Obrigado por não me odiar".

"Lhong, eu te disse, não foi? Você é como um irmão pra mim. Então como eu poderia te odiar?". Thorn segurou meu pulso, seus dedos tocavam exatamente o local onde haviam suturado o corte. O medo que ele pudesse sentir as marcas em minha pele me fez tocar sua mão.

ThornLhong - Uma História do Universo LBCOnde histórias criam vida. Descubra agora