Se você conhece o Tharn ou TharnType - afinal é impossível conhecer um, sem conhecer o outro - a probabilidade de que me despreze, odeie, sinta nojo ou todos esses sentimentos de uma só vez, é quase que 100%. Eu não te culpo, fiz por merecer. Nem eu gosto de mim mesmo.
Três anos haviam se passado desde que Tharn descobriu tudo o que fiz. Ele me bateu naquela noite, mas nada doeu mais que suas palavras. Mesmo que na verdade, em algum lugar que tentei suprimir por tantos anos, eu já soubesse que os meus sentimentos jamais fossem ser retribuídos. Mas aquelas palavras, ouvi-las tornou tudo insuportável.
Tão insuportável que não consegui voltar a faculdade, me apavorava a simples ideia de ter que encarar Tharn, qualquer colega de classe ou da banda. Medo e vergonha foi tudo o que me restou. Eu não sabia até que ponto as pessoas ficaram sabendo dos atos que cometi, não queria ser visto ou apontado por ninguém. Então abandonei tudo. Foi um empregado da minha família que buscou meus pertences e organizou minha transferência para outra faculdade. Pouco mais de um mês e já estava morando em Dublin, com minha irmã e seu namorado.
Eu achava que havia fugido dos meus problemas.
Mas não consegui, afinal não eram visíveis, não eram problemas palpáveis. Algo que eu pudesse me desfazer. Com o tempo percebi que não fizeram nenhuma acusação criminal, não havia qualquer transgressão perante a lei ou punição pela qual pagar. Estava tudo em mim, por toda parte. Em minha cabeça, dominando meus pensamentos, tirando o prazer de qualquer ação, me fazendo insensível a tudo a minha volta. Em meu corpo, sempre cansado, letárgico. E principalmente em meu coração. Eu nem saberia dar nome ao que sinto, é como um câncer crescendo, me envenenando aos poucos, a dor é física, constante e insuportável, e foi por isso que decidi me livrar dela. Me livrar de mim mesmo.
Faz quatro meses que minha irmã encontrou meu corpo imerso em sangue na banheira, eu havia cortado o pulso direito, mas não tive forças para fazer o mesmo com o esquerdo, então apenas esperei a dor passar. Acabei me acordando em um quarto de hospital, com um enorme curativo e ambos os braços presos a cama por algemas confortáveis.
Minha irmã dormia em uma poltrona colocada ao lado da cama e despertou quase instantaneamente, como se tivesse sentido a minha presença. Ela me abraçou, beijou e xingou, xingou entre lágrimas.
Quanto a meus pais. Nem ao menos uma ligação. Sem surpresas.
Fui voluntariamente - forçado - a ficar internado em observação por cerca de um mês. Tomei remédios que tiraram até minha noção da realidade. Fui atendido por psicólogos e psiquiatras que acreditavam saber a causa dos meus problemas, mesmo que eu me recusasse a pronunciar qualquer palavra nas consultas. Os ouvi falar sobre o abandono que eu julgava sentir, mas que para eles era apenas a forma dos meus pais demonstrarem sua confiança em mim - claramente influenciados pelo ponto de vista da minha irmã - e por isso me davam total liberdade, inclusive morando em um país completamente diferente de seus filhos.
Meu silêncio nas consultas? Apenas desconforto.
Finalmente chegaram à conclusão de que não havia motivos para que eu fosse mantido ali. Pude fazer minha mala e um motorista me levou de volta para casa. Mas lá outras malas me esperavam.
Após uma conversa com seu namorado - onde ele lhe deu um ultimato, eu ou ele - minha irmã chegou à conclusão de que o melhor para mim seria voltar para Tailândia, num ambiente familiar, onde pudesse rever meus amigos.
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ThornLhong - Uma História do Universo LBC
Fiksi PenggemarTrês longos anos haviam se passado, mas para Lhong nada havia mudado, suas atitudes continuavam a lhe perseguir como demônios. Vocês acreditam em redenção? Lhong não. Mas Thron sim.