capitulo 4

602 23 2
                                    

O alarme tocou as oito horas. Me encolhi debaixo das cobertas e abri os olhos aos poucos. A janela estava aberta e um vento gelado vinha do lado de fora. Sentei na cama e percebi que Carlo não estava.

- Carlo, seu puto. - Passei a mão nos olhos e sai da cama. Tomei um banho rápido e fui pro restaurante tomar café da manhã.

- Bom dia. - Carlo apareceu por trás e me deu um beijo na testa.

- Bom dia? Você me abandonou. - Brinquei. - E esqueceu a janela do quarto aberta.

- Desculpa. - Fez careta. - Como posso me redimir?

- Pega café pra mim?

- Tá. - Ele riu e foi até a máquina de café. Peguei torrada e umas frutas enquanto isso.

Assim que me servi, Carlo me chamou até uma mesa perto da janela. Ali havia Carlos e um outro rapaz.

- Oi, Helena. Bom dia. - Carlos sorriu.

- Oi, pessoal. - Cumprimentei eles.

- Oi, acho que ainda não nos conhecemos. - O rapaz puxou a cadeira para eu sentar - Sou o Fábio. Faço parte da equipe do Nomegusta.

- Ele ajuda nos efeitos sonoros e visuais. - Carlos disse e tomou um gole do café.

- E são só vocês três? Digo, na equipe. - Perguntei curiosa.

- Aham. - Fábio respondeu enquanto terminava o suco. - Todos fazem algo específico, mas de vez em quando acontece de um ou outro aparecer nas gravações também.

Conversamos um pouco sobre o trabalho deles e Gusta chegou logo em seguida. Acabamos falando do projeto da mini série de terror que faríamos assim que chegássemos em São Paulo. Depois de um bom tempo conversando, a van veio nos buscar e nos deslocamos até o evento.

Ficamos na mesma sala nos bastidores e nos dividimos cada um em seu posto. Fiquei falando com os youtubers nos camarins e os outros ficaram lá fora com o pessoal. Combinamos de nos encontrar no almoço.

- Helena! - Ouvi alguém me chamando. Olhei pro lado e Gusta vinha pelo corredor cheio de gente. - Que tumulto. - Ele estava um pouco ofegante. - Vamos comer?

- Estava tentando falar com os outros pra gente comer juntos, mas acho que não vai dar. - Comentei e guardei o celular no bolso. - Quer ir aonde?

- Tem cachorro quente ali no setor C. - Disse depois de pensar um pouco.

- Tá, pode ser. - Dei de ombros. - Mas não sei onde é.

- Eu te levo lá. - Me puxou pela mão e fomos andando pelo corredor.

- Gusta! - Uma menina veio e o abraçou, fazendo-o tirar a mão da minha. - Eu te amo, Gusta. - Começou a chorar. - Posso tirar uma foto? - Perguntou já pegando o celular do bolso.

- Claro, claro. - Ele sorriu e tirou a foto abraçado na menina.

- Obrigada. Você é um amor. - Ela estava vermelha. - Você é a Helena? - Perguntou olhando pra mim, com os olhos brilhando e umas lágrimas caindo nas bochechas.

- Sim, sou. - Sorri.

- Tira uma foto comigo? Adoro seus videos com o Carlo.

- Pode ser. - Ri fraco. - Deixa que eu tiro. - Peguei o celular da mão trêmula da menina e tirei uma selfie com ela.

- Obrigada! - Ela me abraçou. - Até mais! - Se despediu e foi embora.

- Eu sou um amor. - Gusta sorriu tirando sarro.

- Ainda não me acostumei com esse tipo de situação. - Olhei pros lados, meio envergonhada. Gusta voltou a andar e fui acompanhando ele.

Foi um pouco demorado até chegar na lanchonete que Gusta queria ir. Ele pediu um cachorro quente com quase tudo. Fiz o meu pedido e levamos a comida até uma mesa onde o movimento era mais tranquilo.

- Eu peguei esse troço... Chilli. - Apontou para o que parecia ser carne moída com molho - A moça disse que era apimentado... - Mordeu o lábio inferior e passou a mão no rosto.

- Não gosta de comida apimentada?

- Não, não. Só sou meio fraco com pimenta. - Explicou. - Ok. Vamos lá. - Respirou fundo, pegou o cachorro quente com cuidado e deu uma mordida grande da parte com chilli. - Hm. - Fez careta. - Hm-mm... - Tomou uns goles do refrigerante. - Adorei. - Disse e tossiu logo em seguida.

- Dá pra ver. - Ri. - Não pode ser ruim. - Dei uma mordida no meu cachorro quente que também havia colocado chilli. - Isso tá muito bom. E você é um fresco. - Tomei um gole de Coca-Cola.

- Fresco? Eu? - Deu uma gargalhada. - Acabei de dizer que sou fraco com pimenta. Nem vem. - Riu.

- E por que pegou a droga do chilli?!

- Sou uma pessoa que gosta de desafios, ok? - Fez uma cara engraçada e arrumou a touca.

- Tá, tudo bem. - Dei mais uma mordida e tomei um gole do refrigerante. Olhei as pessoas caminhando e falando alto, passei a lingua nos lábios e virei o rosto pra ele. - O que? - Ele olhava atento pro meu rosto.

- Nada... - Piscou algumas vezes e se curvou um pouco, sorrindo com o canto da boca.

Terminamos de comer e voltamos aos nossos compromissos. Fui pro camarim e ajudei um pessoal. Gusta foi pra uma sessão de autógrafos com o Chris e outros.

De noite, quando o evento acabou, a van nos levou de volta ao hotel e Carlo e eu fomos direto pro quarto. Tomei um banho longo e fui pra cama. Estava exausta. Carlo foi pro banho assim que saí do banheiro e ficou assistindo televisão comigo. O telefone do quarto tocou e ele atendeu.

- É o Gusta. - Disse e me alcançou o telefone sem fio. Me ajeitei na cama e coloquei o telefone perto do rosto.

- Gusta?

- Oi. - Ouvi a voz dele do outro lado da linha. - Pode se encontrar comigo na piscina?

- Mas estão uns dezoito graus lá fora!

- Na térmica. Fica perto da recepção. - Disse.

- Ahm, tá. Tudo bem. - Passei a mão no rosto. - Alguém mais vai ir?

- Não... - Deu uma pequena pausa - Eu preciso falar contigo. Vai lá? - Pediu.

- Ok. Já estou indo.

- Obrigada. Até daqui a pouco.

- Até. - Me despedi e finalizei a chamada. - Estranho. - Pensei alto.

- O que foi? - Carlo olhou pra mim.

- O Gusta disse que quer se encontrar comigo lá na piscina. - Pensei um pouco. - O que será que ele quer?

- Seja o que for, passe perfume e se previna. - Disse.

- Carlo! - O repreendi. Ele riu alto.

- Tira esse pijama e vai. - Se levantou da cama e foi até a minha mala. - Esse vestido é bonito. - Pegou um vestido lá de dentro.

- Não sei por que ainda te escuto. - Peguei o vestido e fui pro banheiro me trocar.

Passei escova no cabelo e um pouco de maquiagem. Voltei ao quarto e, enquanto colocava a sapatilha, Carlo disse que Rick havia combinado de jantar num restaurante por perto. Ele pegou o celular, a carteira e saiu com um breve tchau.

Desliguei a televisão, apaguei as luzes e me olhei no espelhos antes de sair. Peguei o elevador até o hall e perguntei para a recepcionista onde era a piscina térmica.

- Siga o corredor até a ultima porta à direta. - Disse sorrindo e voltou a o que fazia no computador.

- Obrigada. - Fiz o que ela disse e fui pelo corredor até a última porta. Antes de abri-la, respirei fundo pensando no que Gusta poderia falar. Abri a porta e tudo estava escuro. - Droga... - Murmurei tentando achar o interruptor. - Gusta? - Chamei-o.

HumanOnde histórias criam vida. Descubra agora