capítulo 7

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O aeroporto de Brasília ficava na cidade ao lado, o que fez a viagem de carro demorar uma hora. Chegamos no aeroporto faltando pouco tempo pro vôo, mas conseguimos fazer check-in e deixar as malas na esteira. Fomos pra sala de embarque e nosso portão já estava aberto. Uma aeromoça nos guiou até nossos lugares e logo o avião começou a se mexer.

- Droga. - Afundei meu corpo no assento e prendi a respiração. Olhei pra janela por um segundo e o enjôo veio. O avião pegava impulso pra decolar.

- Tá tudo bem. - Carlo fechou a janela. - Fecha os olhos e respira devagar.

- Hm... - Soltei o ar e tentei relaxar. Respirei devagar e em questão de poucos minutos estava um pouquinho menos tensa.

- Tenta dormir. Daqui a pouco estamos em casa. - Disse.

- Uhum. - Me ajeitei no assento e coloquei as mãos no bolso do moletom. Senti um tecido e peguei pra ver o que era. Nem lembrava que tinha deixado a touca do Gusta ali.

Fiquei segurando a touca durante a viagem, e por algum motivo isso me deixou mais tranquila. Durante as poucas horas dentro do avião, peguei no sono e não acordei em quase nenhum momento até chegar em São Paulo. Era por volta de uma da tarde quando pegamos nossas malas e fomos pra casa de táxi.

Já no meu quarto, desfazendo a mala e colocando no cesto o que estava sujo, meu celular apitou. Fui até a escrivaninha onde deixei ele carregando e vi algumas notificações.

40 novas mensagens

Novo pedido de amizade de Thais Menezes

@gustastockler seguiu você

@cakozera seguiu você

@rickpetelin seguiu você

@user_fabio seguiu você

Fiquei feliz em vê-los me seguindo e os segui de volta. Fui lendo as mensagens no whatsapp de um grupo de amigos e recebi uma mensagem de Carlos.

Oi, é o Gusta. Chegou bem?

Sim :) estão aonde?, mandei.

Num taxi indo pra casa. Tô morto., ele respondeu.

Haha também tô. Vou continuar arrumando as coisas por aqui. Depois nos falamos?

Ok. Beijos., recebi uns minutos depois.

Beijos, disse por fim e deixei o celular na escrivaninha.

Continuei arrumando as minhas coisas e fui pro banho. Vesti um moletom preto, uma calça jeans, all star e coloquei a touca do Gusta. Carlo veio com a ideia de fazer um vídeo falando sobre o evento e assim começamos a escrever o que diríamos no vídeo. Terminamos quando anoiteceu, portanto tivemos que ir até o estúdio já que todo o material de luz está lá.

Terminamos o video e saímos pra comer em algum restaurante por perto. Chovia, e parecia que o tempo só ia piorar. Voltamos pra casa perto das duas e fui dormir depois de editar o vídeo e mandar pro YouTube - ou seja, fui dormir perto das seis da manhã.

Acordei sonolenta e sem vontade de sair da cama. Por algum motivo estava com a mesma roupa de ontem. Olhei no relógio e eram quatro da tarde. Peguei o celular e fui até a cozinha. Peguei açaí do freezer e deitei no sofá da sala. Dei uma colherada no açaí e liguei a televisão.

Peguei o celular do bolso e reparei em várias notificações no Twitter e no YouTube. No YouTube, vários comentários sobre o vídeo. Li alguns e fiquei feliz pelo que as pessoas comentaram. Abri o Twitter e nosso nome e o do canal estavam nos Trends mundiais. Fiquei curiosa em ver o que falavam de mim e Carlo.

Obviamente não eram só coisas boas. Muita gente parecia se divertir as custas da gente. Vi várias piadas sobre homossexuais e não queria que Carlo visse. Ele recém se abriu num dos nossos vídeos e achávamos que estava sendo aceito pelo público, mas pelo visto não foram todos que ficaram do nosso lado.

- O que está fazendo? - Carlo veio pelo corredor. Saí do twitter e abri outro aplicativo qualquer.

- Só... Acordando. - Respondi com a voz rouca.

- O café já está pronto. - Disse ele apontando pra cafeteira e se aproximando. - Quer uma torrada?

- Não estou com muita fome. - Sorri fraco. - Depois queria começar a mini série. Acha que consegue me ajudar?

- Ainda tenho que editar um dos vídeos pra amanhã, mas posso tentar. - Ele dizia enquanto nos servia de café. Peguei a caneca e aproximei do rosto, sentindo o vapor quente com cheirinho de café recém feito.

- Lembra da minha estória sobre o sanatório? Que fiz no último ano de ensino médio.

- Sim, lembro. - Fez uma pausa colocando açúcar no café. - Era bem assustador, mas onde vamos achar um cenário como aquele?

- Você não tem um amigo que é funcionário de um hospital?

- Sim, mas como acha que ele vai conseguir com que uma equipe de filmagem faça algo lá dentro? - Tomou um gole de café e se sentou na bancada.

- Ué... Ele podia falar com os outros funcionários de lá. E vai demorar até conseguirmos arrumar o texto em algo que possamos usar. Além do figurino. - Dei de ombros. A ideia era arriscada.

- Vou falar com ele, mas não crie expectativas. - Abaixou a cabeça e encarou a caneca por uns segundos. - Sabe que eu quero tanto quanto você realizar esse projeto.

- Mas vida de youtuber nem sempre dá certo e podemos gastar mais do que receber. Eu sei disso. Você sempre me lembra. - Me encolhi no sofá. - Você confia?

- No projeto, não. - Respondeu seco. - Mas em você, muito. E vou fazer de tudo pra não te decepcionar. - Deixou a caneca na bancada e veio sentar do meu lado.

- Obrigada. - O abracei. - Já são quase cinco horas. Vou pegar esse texto e trabalhar nele. Vai lá editar o vídeo. - O empurrei e ele riu.

- Ok, ok... Depois vou fazer a janta. - Disse e saiu da sala. Terminei meu café e fui procurar o texto no computador.

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