4 - A metade perdida

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Dezessete anos atrás

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Dezessete anos atrás


Parecia adequado, olhando através da janela, que o céu despencasse naquele momento, que os ruídos e o tilintar da chuva lavassem o silêncio deslizante da casa. Era sempre assim na semana do seu aniversário. Sempre chovia.

Cada gota era como uma nota musical, uma melodia aos ouvidos.

Diana soltou a cortina e foi para perto da cama, onde o embrulho a esperava. Puxou o laço de seda ao redor da caixa, até que a fita cedesse. Colocando a tampa de lado, ela encarou, por um bom tempo, o tecido dobrado no interior. Era um vestido cheio de laços e babados. Torceu o nariz. Para uma garota que, em breve, completaria treze anos, aquela não era exatamente a roupa que queria usar em sua festa.

— Você vai ficar parecendo uma menininha de nove anos com isso.

A garota ergueu o rosto, fuzilando o dono da voz zombeteira. Diego, seu irmão gêmeo, estava recostado no batente do seu quarto, a boca pronta para fazer outra piadinha sobre o vestido.

— Foi um presente da tia Francisca. O que ela te deu?

— Uma jaqueta que parece ter saído do século dezoito. — E mostrou a peça. — Ela disse que é para eu usar na sua apresentação de piano.

Desta vez, foi Diana que gargalhou alto. A chuva batia forte contra a janela. A tia deles morava em outro estado, e sempre enviava alguma coisa quando a data do aniversário dos gêmeos se aproximava.

— A mãe saiu — Diego informou. — Pediu para você ficar de olho no forno. Disse que, da última vez que deixou o assado sob os meus cuidados, comemos carvão.

— É verdade. E o pai?

— No escritório.

Antes que Diana pudesse falar mais alguma coisa, uma pancada seca pareceu atingir o telhado da casa. Os gêmeos se entreolharam, confusos.

— Mas que merda...

Um raio cortou o mundo do lado de fora.

O pai deles surgiu com o rosto temeroso na entrada do quarto.

— No banheiro. Vocês dois! Agora mesmo!

— Mas... Pai...

Os olhos de Diana aumentaram; era uma arma na mão do seu pai?! Ela nem sabia que o pai tinha uma arma!

— Diego, não questione! Cuide da sua irmã! Tranquem a porta. Não façam barulho. Por tudo o que é mais sagrado, não façam nenhum barulho!

Os gêmeos não entenderam o motivo daquela ordem desesperada. Mesmo assim, Diana segurou Diego pelo pulso e o puxou para dentro do banheiro, fechando a porta.

Rosa Negra | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora