7 - Na escuridão

197 53 153
                                    

A madrugada ciciava ao som do vento cortante, e Luthor sabia que estava sendo seguido conforme saltava de telhado em telhado; um borrão na escuridão vasta

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A madrugada ciciava ao som do vento cortante, e Luthor sabia que estava sendo seguido conforme saltava de telhado em telhado; um borrão na escuridão vasta.

A presença das sombras era cada vez mais constante conforme aquela data se aproximava. Sabia que, assim que o dia esperado chegasse, teria que agir, ou todas as chances se perderiam para sempre. Ele podia sentir através dos sonhos compartilhados com a moça de olhos ferinos e lábios tentadores; as sombras não dariam trégua para nenhum dos dois.

Luthor continuou se movendo, tentando camuflar os rastros. Desceu por um cano de escoamento na lateral de um prédio em ruínas, aterrissando em uma poça que esperava ser água acumulada da chuva da estação. Bufou, e soube que o som havia sido alto demais.

A escuridão adensou no beco com o cerco que eles fizeram à sua volta. Poderiam ser facilmente confundidos com humanos, se não fosse pelo aspecto obscuro no olhar.

Luthor contou quatro oponentes enquanto puxava a espada presa às suas costas, a lâmina retinindo na noite.

Ela estava impaciente, para enviar tantos servos atrás dele.

Sorriu para os oponentes e não lhes deu tempo; avançou contra eles, cortando, girando e se abaixando.

Os servos caíram mortos aos seus pés, o sangue negro deslizando dos cortes feitos pela espada. O fedor, feito leite azedo, revirou o estômago dele. Não importava quanto tempo passasse; nunca se acostumaria com aquele cheiro horroroso.

Assim que piscou, os quatro corpos se evaporaram, sumindo.

Névoa subia pela rua, formando uma cortina em torno dele.

Luthor não guardou a espada; sentia mais presenças ali. Sua audição apurada havia detectado os movimentos. Precisava abater todos; não podia correr o risco de que rastreassem Diana.

Diana.

Então aquele era o nome dela.

E ele sabia que a ameaça que ambos ouviram no sonho era real.

O restante dos servos se aproximou.

A ira atemporal de Luthor se tornou uma canção no sangue conforme ele os atacava um a um; cada golpe fazendo-os espirrar sangue negro e se evaporar como se nunca houvessem existido.

Encostou na parede, esperando. Contando.

Mais nenhum apareceu.

Satisfeito, Luthor guardou a espada na bainha das costas, saiu andando do beco e sumiu nos braços da madrugada.


*******************


Diana encontrou a sobrinha na sala de espera do hospital. A adolescente ergueu os olhos marejados, e se atirou em seus braços assim que a viu.

— Tia!

— Estou aqui, meu amor. Estou aqui. Vai ficar tudo bem.

— Os médicos não sabem o que ela tem. — Duda tremia e gaguejava. — Ela está inconsciente. Ela não acorda.

O coração de Diana se afogou em preocupação, na lembrança do dia em que perdera o pai e Diego; ela batalhou contra o sentimento. Precisava ser forte. Precisava ficar em pé por sua sobrinha.

— Eles vão descobrir. Tenho certeza. Vou conversar com eles.

— Eu sabia que ela não estava bem. Falei para ela ir ao médico.

— Não é culpa sua, Duda. — Diana segurou o rosto dela entre suas mãos, desejando expurgar a dor e o medo que a garota sentia. — Sua mãe é teimosa como uma mula.

Lágrimas brilharam nos olhos de Maria Eduarda.

— Preciso avisar a vovó e o vovô.

— Já avisei enquanto vinha para cá. — Ela acariciou os braços da sobrinha; a garota estava gelada. — Eles vão pegar o primeiro voo que conseguirem. Logo estarão aqui também. E você vai ficar comigo até que sua mãe melhore, certo?

Duda assentiu, enterrando o rosto em seu ombro.

— Promete que a minha mãe vai melhorar?

Diana a apertou com mais força.

— Prometo. Prometo. Farei tudo o que estiver ao meu alcance.

Em algum canto da sua mente, como o crepitar de um fogo negro, uma voz provocativa lambia as bordas do riso baixo.

"Eu vou devorar tudo que você ama".


*****************


Ela usava um vestido preto, e o tecido se arrastava pelo chão pedregoso conforme andava à margem do rio subterrâneo. Pequenas rosas negras adornavam seus longos e densos cabelos.

Havia uma fogueira a cada três metros, em ambos os lados do rio, que ardiam sem lenha e sem turfa; um fogo que comungava com a cor das rosas e da escuridão.

Cansada, observou as formas que eram levadas pela água, formando um espelho que refletia o breu dos seus olhos.

Já fazia tempo demais que estava ali embaixo, aprisionada, sem poder alcançar a glória da superfície e tudo o que era seu por direito.

Logo, tudo mudará. Logo, a roda da fortuna girará ao meu favor.

Retorceu a boca ao sentir uma pincelada no peito.

Seus servos haviam sido derrotados.

Mas aquilo não seria um problema para os seus planos. Se ele queria guerra, ela lhe daria a guerra.

Lentamente, retirou algumas rosas negras dos cabelos, jogou-as na água, escutou o rugido e observou com fascínio o despertar dos seus servos.

            Lentamente, retirou algumas rosas negras dos cabelos, jogou-as na água, escutou o rugido e observou com fascínio o despertar dos seus servos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Rosa Negra | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora