Never Be Alone

Capítulo 3.

Já fazem quase dois meses que estou em Los Angeles, mesmo assim não sinto saudade da casa dos meus pais. Era sempre vazia, passava a maior parte do tempo cantando e tocando várias músicas durante a semana, e sem contar das brigas entre minha mãe e eu. Mas ela me tratou tão bem da última vez que a vi que estou reconsiderando o jeito que eu vejo-a. Tenho que admitir que LA está me fazendo bem, pois fora a ansiedade nos primeiros dias, estou muito bem, mais animada do que o normal, nem mesmo a TPM me afeta tanto.

A faculdade está ótima, agora tenho que estudar mais, porque desconfio que ocorrerão testes surpresa ao decorrer desse mês, e realmente espero que tenham, preciso me concentrar em algo realmente produtivo. Todos os dias tenho a mesma rotina na universidade: chego um pouco antes das 9 da manhã e fico sentada em baixo de uma árvore, estudando partituras do violão ou ouvindo alguma música no iPod. Nunca me atraso e até hoje não tive nenhuma mudança na minha rotina, me sinto melhor assim. No almoço sento embaixo da mesma árvore, e passo o intervalo inteiro observando as pessoas, e isso é uma coisa que realmente gosto de fazer. Vou para casa após a aula e vou para a academia, ou andar de bicicleta.

Minha rotina era totalmente normal, até um dito trabalho do professor de técnica vocal. O trabalho era basicamente realizar um cover de alguma música em dupla. A sala ficou eufórica, todos combinando quem seriam suas duplas. E eu, como no primeiro dia, fiquei sentada em meu lugar, imaginando como poderia pedir ao professor para fazer sozinha (fiz isso durante esse mês, e sempre consegui realizar sozinha), mas para cortar o meu barato ele disse olhando diretamente para mim que o trabalho era obrigatório em duplas, nada mais nada menos.

O mesmo menino, ou melhor, Shawn Mendes saiu da rodinha de amigos e veio falar comigo.

-  Oi, ehhh, Lauren? - Ele disse com um sorriso de canto.

- Laura. - Corrigi um pouco seca demais.

- É, isso mesmo, então, você já tem dupla? - perguntou e olhou ao redor, e depois me encarou.

- Hum, tenho? - Sorri fraco.

- Pelo que vejo, não. - Ele deu uma risada curta - quer fazer esse trabalho comigo? 

Acho que nunca fiquei tão envergonhada com algumas poucas palavras. Sinto meu rosto corar e abaixo a cabeça.

- É-é-é, p-p-pode. - Disse gaguejando um pouco, para melhorar a minha situação.

Shawn puxou uma cadeira de alguma mesa próxima e sentou ao meu lado.

O professor explicou o trabalho (que era devidamente simples, mas valeria uma boa nota) e pediu para que todos os alunos passassem os nomes das duplas. Quando falei que minha dupla era o Shawn, uma menina loira me olhou com uma cara de tacho. 

- Você gosta de que tipo de música, Lau? - Olhei com uma cara desconfiada e ele logo disse - Posso te chamar assim?

- Acho que sim - ri um pouco - Gosto de pop, indie, algumas músicas de rock, e clássica. 

- Clássica? Nossa. - Ele fez uma cara de bobo - e que canção tu achas que devemos cantar, senhorita?

Essa imitação de lorde inglês foi patética, não tive como não rir, e mais uma vez aquela loira me olhou torto.

- Pensei em alguma do Fifth Harmony, ou do Ed Sheeran. - falei olhando pra ele, e ele deu um sorriso quando mencionei Ed Sheeran. - Photograph? Brave, Honest, Beautiful?

- Você que sabe - Disse e fez uma carinha fofa.

Escolhemos a música, que foi Photograph , e durante a próxima semana devemos ensaiar, estudar as partituras (a minha de piano e a dele de violão) e apresentar diante da turma.

Me encontrava todo dia depois da aula com o Shawn. Esse tempo era quase totalmente voltado para os ensaios, fora quando Shawn fazia alguma piada ou outra. Acho que ele foi a primeira pessoa que não me olhou com pena, com raiva ou com total indiferença, mas ele me olhava com um jeito diferente, não sei bem como.

No almoço do dia da apresentação ele sentou ao meu lado embaixo da árvore e ficamos em alguns minutos de silêncio.

- 'Tá nervosa, Lau? - Ele disse com uma voz suave, me olhando calmamente.

- Um pouco, nunca cantei para ninguém que não seja da minha família. - Olhei pra seu rosto e ele levantou uma sobrancelha - E pra você, claro. - Dei um sorriso de lado e ele pegou na minha mão.

- Não precisa ficar...

Ele não conseguiu terminar a frase pois uma menina veio correndo em sua direção. Acho que o nome dela era Chelsea, algo parecido.

- SHAWN, SHAWN, SHAWN. - Gritou quando já estava próxima, acho que até ai ela não tinha me visto - Opa, desculpa, não sabia que o Shawn estava acompanhado. - Então olhou para ele maliciosamente, como se dissesse algo sobre mim.

- Não, não, não, é, não é isso, - levantei rapidamente - vou deixar vocês dois conversando, até a aula Shawn. - E sai quase correndo.

- Ei, ow, ééé, menina, pode ficar aqui - disse aquela amiga do Shawn. - Não precisa sair correndo, eu não mordo.  - Ela fez uma cara de santa e sentou-se de frente para o Shawn.

Retornei e sentei onde estava a poucos segundos atrás. Ela se apresentou, e eu estava certa, ela é a Chelsea Morgan, amiga brasileira do Shawn.

- Você é brasileira? Pois meu pai também é. - Disse sorrindo.

- Você me entende? - Ela disse em português, e acenei a a cabeça positivamente. 

Quando fui falar alguma coisa, o sinal bateu, ou seja, estava na hora da apresentação. Um arrepio desceu pela minha espinha quando cheguei na sala de instrumentos, pois a aula seria lá hoje.

Quando sentei na frente do piano com o Shawn do meu lado, o meu medo se foi. Era só eu, a partitura e Shawn. Ao fim da apresentação, todos aplaudiram menos a menina loira. 

Qual era o problema dela?