Memórias Perdidas Entre Estradas e Fogo.

07

A seguir, Azure iniciou suas palavras sobre o seu momento mais triste, o qual fora o falecimento de seu pai. Dizia que fora um momento complicado, pois teve de voltar para casa e ajudar sua madrasta a cuidar de suas três irmãs mais novas. Não deu tantos detalhes quanto o esperado, justamente o que se era previsto de seu jeito reservado, logo trocando de assunto para o que aguardava de um futuro. E enfim me perdi vagamente em suas palavras enquanto embebedava-me aos poucos. O cansaço tomava conta de meu corpo e considerei ir logo para a cama, porém Idris rejeitou minha atitude ao balançar a cabeça negativamente. Queria poder dizer algo à Azure em relação ao seu bloqueio criativo que procurava quebrar naquele momento - acerca da sua escrita e projetos pessoais -, vendo-a preenchida de determinação em entender o motivo detrás daquele obstáculo tão repentino, mas não tinha o que ser dito por mim. Invés disso, acendi um cigarro, talvez o terceiro da noite. Voltando a hábitos velhos de fumar demasiadamente, e não me importava nem um pouco. Sentia-me exausto em todos os sentidos, primordialmente em ouvir a conversa fluir no lugar. Sem me importar mais, levantei-me para ir para Kombi, com o pensamento de que o amanhã seria um dia longo, em meio disso acabei colocando uma meta para comprar revistas de caça-palavras, talvez pudesse ajudar-me a não acabar com outro maço de cigarro em unicamente um dia.

Observei a paisagem lá fora por alguns instantes. Apresentava a grande necessidade de sair para pegar mais bebidas, entretanto me contive. Sentimentos de culpa começavam a fazer rodeios em minha mente, por não lembrar de fatores importantes quando se tratava de meus amigos de anos, de Chloe e essencialmente da minha família, onde encontrava-se minha mãe - por mais que minhas memórias em relação a ela fossem distorcidas, não tão agradáveis quanto ansiava por ver. Sentia-me sem identidade daquela forma. Talvez era o momento para tentar relembrar do que se fazia necessário. Enfim, deitei-me encolhido na cama, porém, antes tratei de caçar meus fones de ouvido juntamente de meu celular. Tentaria afastar alguns pensamentos ansiosos e culposos antes de finalmente adormecer. Desejava possuir um quieto e agradável sonho com Chloe. Sentia imensamente a sua falta, todos os dias, em intensidades diferentes.

Enfim não custei em apagar, sem antes escovar os dentes. Um arrependimento que prorrogaria até a manhã seguinte.

Despertei durante a madrugada por lapsos de sonhos estranhos que me perseguiam, evitando ter pesadelos durante a noite, enfim aproveitei para diminuir um pouco a música dos fones. Dormi outra vez, e quando abri os olhos o sol já batia contra meu rosto, era manhã e ironicamente permanecia com um certo cansaço rodeando meus olhos de pálpebras pesadas. Quando finalmente obtive a coragem de abri-los vagarosamente, vi Nathan mexendo na cozinha, aparentemente fazendo café. Uma música bem baixinha tocava em seu celular ao lado, porém não havia despertado por conta disso, fora naturalmente, e o sol que batia em meu rosto contribuía. Bocejei e em então Nathan notou minha presença desperta, olhando-me vagarosamente pelo canto dos olhos e murmurando um bom dia sem tanta animação. Não respondi pois um sabor amargava fortemente em minha língua, apenas pus-me sentado na cama, uma dor de cabeça fortíssima martelando a cabeça instantaneamente. Permanecia cansado, mas não voltaria a dormir, assim observei o nada enquanto ouvia a música, gostando dela apesar de não ser o gênero que ouvia recorrente.

- Que música que é? - perguntei sem notar, espontaneamente.

- Fourth of July do Sufjan Stevens... - Ele disse, confirmando ao olhar para tela do celular. Agora que eu estava sentado na cama, podia ver que ele fazia um misto para comer, provavelmente de café da manhã.

- Nunca ouvi falar desse cantor... - Suspirei antes de me levantar e esticar os dedos da mão.

- Você quer um? - Nathan perguntou sem delongas e eu assenti, indo em direção à pia para lavar o rosto como usualmente fazia.