- Ethan, cheguei! E trouxe as tortilhas apimentadas que você gosta. - Gritei enquanto colocava compras sobre o balcão da cozinha.
Guardei as roupas que trouxe da lavanderia no armário do hall e por ali mesmo ficaram meus sapatos de salto alto com a bolsa Hèrmes.
Um movimento sutil às minhas costas e um beijinho na curva do pescoço denunciou meu Gato.
- Como foi seu dia, amor? - Ethan iniciou uma massagem em meus ombros que, imediatamente, aliviou o nó de tensão que as notícias acumuladas deixaram.
- Terrível! Mas eu e você precisamos de um vinho branco e tortilhas para que o relato se torne palatável. - Virei meu rosto em sua direção e recebi um beijo apaixonado.
Ethan girou-me de frente - com as mãos em minha cintura - e deu mais um leve beijo em minha boca e outro na testa.
Pense você num homem de 1,90 - semelhante a um armário - te envolvendo num abraço carinhoso que engole sua estatura mignon. Assim somos nós dois. Uma lourinha com as curvas certas e um homão que é a personificação do Thor.
Thor, digo, Ethan me arrasta para sentarmos no balcão da cozinha e já vou preparando meu espírito para as notícias que o farão enlouquecer e desestabilizar.
Ele retira o vinho do refrigerador, duas taças com os pratos do armário, abre as embalagens de tortilhas e se acomoda na cadeira à minha frente.
Comemos calmamente - saboreando a tortilha apimentada e o bom vinho - enquanto falamos sobre amenidades do nosso dia corrido. Até não poder mais adiar o assunto espinhoso que trouxe para casa.
- Gato, as notícias do gabinete não são muito boas. A promotoria rejeitou as provas que você apresentou, do caso de agressão contra os meninos da Rua Washington, e as crianças serão devolvidas ao pai.
Ethan fixa o olhar em mim depois desfere um murro sobre a mesa fazendo a rolha de vinho girar até cair no chão.
- Não é possível. As provas e o testemunho da vizinhança eram mais que suficientes para pegarmos aquele monstro mau caráter. - Passa as mãos nos cabelos desesperadamente. - Seu chefe não pode simplesmente se omitir nessa situação.
Eu sei. Trabalhar para a promotoria de justiça tornou-se, ao longo dos anos, um exercício constante de controle da minha frustração e da ansiedade de Ethan.
Meu marido é hoje um dos melhores agentes de investigação na ativa e sua especialidade - combate à agressão infantil, tráfico de crianças e violência doméstica envolvendo menores - faz com que nossa cumplicidade vá além dos anos de casados. Em minha carreira, na promotoria, eu também me especializei em montar pareceres contra abusadores, pais violentos e pedófilos.
Isso tudo consequência da infância conturbada que tivemos naquele orfanato anos, séculos atrás. O lugar funesto trouxe um único ponto positivo. Proporcionou um encontro de almas que certamente iniciou em vidas passadas.
Estávamos predestinados e não existe nada neste mundo capaz de nos afastar. Todos os eventos desta vida nos empurraram um em direção ao outro porque nos completamos como a Bela e a Fera.
Somos Batman e Robin - literalmente - eu nos tribunais e ele caçando canalhas nas ruas.
E, o que vocês precisam saber desta dupla dinâmica é que também fazemos justiça com nossas próprias mãos, sem um único resquício de arrependimento. Porque esperar e acreditar que a morosidade do Estado proteja os seres indefesos dos seus algozes - muitas vezes hospedados debaixo do próprio teto - não faz parte do que somos.
Nós dois sofremos com a crueldade, fomos quebrados por quem deveria cuidar - dar proteção - e juramos que, de uma maneira ou de outra, isto não aconteceria mais a nossa volta.
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PECADOS - Contos Eróticos
Literatura FemininaTodas nós mulheres temos dilemas morais que nos impulsionam ou esmagam. Cabe a nossa consciência decidir o que será determinante no direcionamento de nosso destino. O conjunto de contos agrupados, despretensiosamente, nessa antologia mostrar que nos...