Relato 6º

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Na minha infância, minha irmã 8 anos mais velha que eu, tomava conta de mim no horário em que meus pais trabalhavam. Os dois estavam montando seu próprio negócio. Ela não precisava me ensinar dever, nem nada. Minha mãe fazia isso, ela só tinha que me colocar em frente a uma televisão e fazer o que quisesse. Mas, com isso, ela não podia sair. Então, sempre me batia. Principalmente na caixa dos peitos, o que me levou a alguns traumas respiratórios.

Sabe aqueles sapatos de antigamente? Sem a palmilha acabavam com os pés! Ainda bem que hoje o pisante é confortável. Porque ela tirava a palmilha dos meus sapatos se minha mãe pedisse para ela calçar meu pé. Ir andando pra escola com aquele treco que arranhava os pés, ainda mais eu, que nasci com os pés tortos, era quase uma tortura.

Morria de medo de barata! Uma vez ela matou uma, e colocou em cima da minha cama, ficou encostando ela em mim, e eu estava morrendo de medo, chorando e implorando para que ela parasse. Aí quando meus pais chegaram, ela correu pra jogar no lixo e fingir que estava vendo televisão, enquanto eu já tinha sido colocada para dormir.

Depois de um tempo, a agressão física sumiu. Era só verbal, gritos, menosprezo, dizer que eu atrapalhava a vida de todo mundo. Mesmo assim, fui uma criança muito carinhosa, bem masoquista, porque eu abraçava e beijava ela, dizia que a amava e fazia absolutamente T U D O que ela queria, até mentir para os meus pais quando ela saía e me deixava sozinha em casa.

Aos 12, perdi minha mãe para um câncer e... veio a depressão, as mudanças, eu estava na fase de amadurecimento, desnorteada... Sempre que saía da escola nessa época, ficava do lado de fora batendo o maior papo. Um dia, eu simplesmente não queria voltar para a casa. Havia algo implorando "Fica na Rua" "Conversa até mais tarde" nesse dia, todos os meus amigos tinham algo a fazer, então precisariam voltar cedo para casa. Precisei fazer o mesmo.

Eu havia fechado a porta e, ela me prendeu na cama, me deu tantos murros no braço e na perna que eu fiquei roxa. Ainda bem que a camisa do colégio era de manga, né? Mas aí um colega foi me cutucar, de leve... Eu exclamei de dor! Ela ameaçou me espancar, com cabo de vassoura e tudo.

Não há nada pior que ter medo de voltar para casa.

Que se arrepiar sempre que ouve a chave encostar na fechadura.

Puta que pariu.

— Anônimo.

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