Helesponto

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Indefesa ante a ira da deusa Urânia

Prostra-se e beija a delicada anêmona

Oferta tudo à guardiã da Dardânia


O estrondo do trovão abafa seu pranto

Nenhum deus ouve a sua tétrica prece

Sua fé quase sucumbe ante o quebranto


A angélia invade a calmaria da noite

Como a maré conquista a areia na praia

Que o coração de Hero em vida se afoite


O pélago oferta à deidade Múrcia

Um amor sacrificado em seu altar

Caminha Hero até o corpo com fidúcia


Então a Antheia descalça retorna ao mar

De suas pegadas não mais brotam flores

O destino soube se consumar


Dos perolados olhos a luz cessa

O horríssono grito ecoa até no Olímpio

Hero o beija antes que no Hades a esqueça


Não mais o riso de Hero se ouvirá

Logo o calor de suas mãos se esfriará

Não mais o seu olhar auriluzirá


O amor se rebelou contra o destino

A fúria do fadário prevaleceu

Nova morte jaz no seio helespontino


Dirige-se a sacerdotisa ao abismo

Para o último sacrifício prestar

Honrando seu voto de cenobismo


Do promontório salta a soturna Hero

Descansa enfim nos braços de seu amado

Talvez viva ainda nos versos de Homero


Compungida do fado dos amantes

A deusa uniu em morte o que cindiu em vida

Nos eviternos cantos espumantes 

HelespontoOnde histórias criam vida. Descubra agora