𝑙𝑒𝑡𝑡𝑒𝑟: 𝑑𝑜𝑑𝑎𝑚 ;

세. 3

— Yedam.

Novamente, o garoto absorto em seus pensamentos.

— Sim?

— Repita o passo que acabei de lhe ensinar.

A professora cruza os braços.

Era óbvio que ele não havia prestado atenção.

— M-me desculpe senhora Cho... Pode mostrá-lo de novo?

Ela bufa em irritação e repete o movimento de certa forma complexo, tendo um Yedam a copiando perfeitamente em seguida.

— Fez bem. - Suspira.- Precisa ter mais atenção, garoto. O que há com você hoje?

Ele abre e fecha a boca algumas vezes. Que desculpa daria?

— Ah, estou meio cansado, ontem foi um dia cheio e... e... Dormi mal...

Sra.Cho estreita os olhos, mas não questiona, apenas continua a aula.

Bem, não deixava de ser verdade, porém o que assombrava seus pensamentos eram as histórias da maldita carta. Doyoung conseguiu penetrá-las em sua mente, que tipo de bruxaria era aquela?

Graças aos céus era sexta-feira e poderia acabar tudo mais cedo, então o fez: foi pro quarto e pegou novamente o maço de papéis que tanto esperou para reencontrar.

— E lá vamos nós.

Sorriu.

"Ok, primeira história concluída, vamos continuar?

O próximo objeto é a raposinha. Fofa ela, não? Espero que goste. Ela não é nova, nem chega perto de ser, mas é bem cuidada, isso eu garanto."

Pausa a leitura para pegar a pelúcia e deixá-la em seu colo.Ele tinha razão, era uma fofura mesmo.

"Vamos saber o motivo de ser sua agora? Pois bem. Primeiro de tudo, quer saber o nome dela? Mesmo que não queira eu vou falar. O nome dela é Yedam. Porque você parece um filhote de raposa."

Se sentiu ridículo ao dar um gritinho enquanto tampava os olhos, com vergonha.Que tipo de reação era aquela? Por que não conseguia parar de rir? Talvez por estar nervoso, mesmo que jamais admitiria isso.

"Ahhh, estou com tanta vergonha! Sempre quis te falar isso pessoalmente para ver sua reação, aposto que foi adorável. Continuando..."

Queria se bater por se sentir tão fraco com os elogios de Doyoung, mas o que era aquilo?

"Esse foi o presente que ganhei da minha vó no meu aniversário de 4 anos, ela faleceu há três anos mas me trouxe lembranças maravilhosas. Para mim, esse bichinho representa companhia, carinho e proteção, e é exatamente o que suas músicas e sua pessoa representam para mim, o que sinto em relação a você. Pode parecer uma baboseira o que ando falando por aqui, mas é um sentimento puro vindo diretamente de meu coração, então espero que receba isso bem.

Ok, chega disso, vamos continuar.

Mas antes... você sabia que quando o manjericão floresce significa que ele está prestes a morrer? Pois é, os produtores dele normalmente podam as flores antes que seja tarde, para estender o tempo de vida da colheita. Mas as flores são tão lindas! Como eles têm coragem de arrancá-las? Jamais faria isso, interpreto que é como se as déssemos um elixir da juventude, digo, para serem imortais... Está acompanhando? Se as flores forem podadas toda vez que nascem essas plantas nunca morrerão... Isso não é triste? Porque eu acho muito."

Paira os olhos sob a poeira que flutua por entre os poucos raios do pôr do sol.

Doyoung era simplesmente fantástico.

Seus pensamentos iam muito além do que Yedam já pensara. Tão profundo...Nunca havia pensado no quão ruim seria viver para sempre, vendo o tempo passar e pensando que aquilo nunca acabaria... Além do mais quando se é obrigado a isso, como com os pobres manjericões.

"Parabéns, Kim, conseguiu me transformar em um cara que sente empatia por manjericões."

"Mas enfim... aproveitando esse assunto de flores... Qual a sua flor favorita? Sempre quis saber, sendo sincero. Na minha opinião, sua aura combina com aromas suaves como o de lírio, de lavanda, de alguma orquídea... Mas também posso estar errado. Quem sabe? Não sei se te conheço o suficiente para dizer isso, talvez eu esteja me iludindo com algo que nunca poderei confirmar."

Flor favorita? Por quê nunca parara para pensar naquilo?

Bom, gostava das indicações de Doyoung, realmente combinavam com si.

Surpreendente.

"Você deve estar se perguntando o motivo de eu ter entrado nesse assunto de plantas... É porque o próximo objeto é o vaso com a plantinha. Duvido adivinhar qual a planta contida nele. Tem 5 segundos para adivinhar: 5, 4, 3, 2, 1... Manjericão meus parabéns, como adivinhou?"

Solta uma gargalhada e sorri grande."Doyoung é um bobão".

"Não tenho um motivo exato para te dar ele, só senti que gostaria e espero estar certo. Ele ainda é pequeno para consumo, mas deixa eu te contar um segredo: se você o regar no fim da tarde ele exala um perfume maravilhoso.

E como se cuida disso, deve estar se perguntando... Essa planta gosta de Sol, então pode ficar nele à vontade; Quanto às regas, de dois em dois dias. Espero que goste desse presentinho..."

Yedam dá um pulo atrás da muda, a coitada estava sem sol há muitos dias e devia estar totalmente desidratada.

Abriu a caixa e a tirou de lá rapidamente, a colocando na janela e regando-a com sua garrafa d'água, coitada. Analisou com cuidado e ficou completamente aliviado vendo as folhinhas verdes vivas, jamais se perdoaria se a pobre planta morresse em suas mãos...

O telefone toca.

Obviamente o garoto detestou aquela interrupção, mas se acalmou vendo no visor de quem se tratava.

— oi, mãe.

— filho? Tentei te ligar o dia todo, onde estava?

Ela parecia irritada.

— desculpe... Eu estava...- olha para a pilha de papéis.- trabalhando. Em algumas composições... você sabe.

— sei.

— ...

— ...

— tudo bem com a senhora?

— na medida do possível. E com você, Yedam?

— sim, só estou cansado.- Solta uma risada nasalada.

— claro, claro. Vá descansar... E... Venha nos ver amanhã...

— Não sei se vou conseguir, tenho muito trabalho para fazer, me desculpe.

— ...

— mãe?

— se cuida, te amo.

Desligou.

Realmente, o garoto queria dar atenção a seus pais, mas não tinha tempo nem para dormir, quem dirá para sociais familiares.

Olhou para as cartas e sentiu raiva.

Raiva por não poder ter paz.

Raiva por ser adorado e não poder adorar alguém da mesma forma.

Raiva por ser ele mesmo.

Naquela noite, Yedam desligou as luzes e tentou dormir a todo custo, falhando miseravelmente.