Capítulo 7 - Nós somos a lei

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_Você vai falar com Gale - senti seu peito se encher como se ela desaprovasse aquilo - E quero que você me conte tudo o que aconteceu.

_Tudo? - ela se virou para olhar em meus olhos -.

_Desde quando eu desmaiei em minha casa até o dia de hoje.

Katniss fechou os olhos e respirou fundo.

_Eu vou precisar que você seja forte - disse-me ela -.

_Eu prometo que vou ser - fechei os olhos e tentei prometer a mim mesmo o que acabara de dizer -.

~

Katniss PDV

Os olhos de Peeta estavam totalmente negros. Suas pupilas estavam tão dilatadas que cobriam o azul, o lado doce daquela pequena esfera agora em explosão. Ele olhava para mim com um misto do dor, culpa e dúvidas. O que me deixava completamente perdida, também. Mas ainda mais aterrorizante era perceber que naquele misto de sensações havia um Peeta totalmente vulnerável, perdido e preso em sua própria cabeça e tentando com todas as forças dizer a si mesmo o que era realidade ou não.

Como o homem alto e branco à sua frente conseguira tirá-lo de sua sanidade era um mistério, mas àquele ponto, nada disso importava, de fato. Porque Peeta, de repente, estava socando o rosto do rapaz, virando-se para mim com os olhos inquietos e trêmulos e correndo feito um animal para longe de onde estávamos, em direção à sua casa. Por um instante pensei em seguí-lo, em gritar, mas meu corpo mal conseguia se mexer jogado no chão, paralizado com o choque.

_Thomas, só para sua informação.

O homem nem sequer virou seus olhos para mim e cuspiu seu nome, como se aquilo fosse relevante ou como se fizesse sentido. Por dez longos segundos ele ficou parado ali, como se nada estivesse acontecendo, com a lateral de sua face esquerda vermelha formando um hematoma e o punho cerrado ao lado do quadril. Olhei fixamente para ele me afastando como uma criança medrosa ainda no chão, ofegante e podendo sentir uma ardência chata em meu rosto. Ele, então, deu dois passos à frente, sem muita agilidade, e quando percebeu que eu estava me levantando e recuperando minha postura virou-se para mim com os olhos apertados e as narinas infladas.

_Você - Thomas levantou o dedo em minha direção - Não ache por um segundo que pode me seguir. Eu esmago a cabeça daquele rapaz em dois segundos, se você sequer tentar.

Meus lábios começaram a tremer e meu ímpeto de correr até ele e agarrá-lo, jogando-o no chão se tornou enorme. Dei dois passos para frente, estendi as mãos para cima indo em direção aos meus ombros e por um instante…

Katniss, você não está na guerra. Você não tem flechas. Lute com outras armas.

A voz do meu subconsciente era a única que sobrevivera, afinal. Pois meu rosto rasgado em lágrimas, minha musculatura toda trêmula e o medo que me bloqueava a cada vez em que uma coisa ruim parecia estar para acontecer, depois da Guerra, faziam de mim uma garota de dezessete anos tão inútil quanto qualquer uma delas nessa idade deveria ser. Mas eu tinha de ser mais do que isso, pois Peeta precisava de mim. Pela primeira vez eu podia sentir em meu peito um tipo de sucção que tirava um pouco da minha capacidade de respirar. Esse apertar, no entanto, era diferente de qualquer coisa que eu já havia sentido. Não provocava dor, mas incomodava. Era como se meu diafragma estivesse se encolhendo pelas laterais e pressionando o centro do meu tronco, na altura dos seios, deixando ali um incômodo pungente.

E era exatamente aquela dor que me fazia despertar. Aquela ciência de que meu corpo estava vivo e respondendo aos estímulos do perigo iminente fizeram com que meus músculos parassem de tremer, que minha cabeça ficasse limpa e me deram forças para buscar um fôlego antes de virar as costas para Thomas e correr o mais rápido que eu podia rumo ao centro da cidade. Eu buscaria ajuda na única pessoa que esteve lá por mim e por Peeta o tempo todo e que por diversas vezes fora o mais próximo de um pai que eu já tive, após a morte do meu.

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