Voltei para casa pela estrada onde alguns caminhões passavam com tijolos e blocos de concreto e quando estava me aproximando da Aldeia dos Vitoriosos, vi-me sozinho caminhando. Um vento frio bateu em meu rosto, como se a natureza estivesse me alertando para algo hostil. Apertei os passos, podendo já sentir que algo de ruim estava para acontecer e quando estava a cerca de 300 metros de minha casa uma mão quente puxou-me pelo ombro esquerdo.
_E então, meu paciente preferido?
A voz grossa e rouca dele era inconfundível. Aquilo não era possível. Não agora.
Não!
~
Escolha um ponto fixo, Peeta. Um ponto fixo. Droga!
_Você não parece tão feliz em me ver, rapaz. Não acha isso um pouco desrespeitoso, depois do tempo que passamos juntos?
Ele não consegue mais te manipular. Você só está com medo. Ele não tem nenhuma daquelas máquinas. Não há como ele mexer na sua cabeça. Mantenha-se forte, seu idiota!
_Sabe, todas as vezes em que estive dentro dessa sua cabecinha oca, meu jovem, fiquei bastante intrigado…
Ele não te conhece. Você sabe que ele não sabe nada de verdade sobre você!
_… Suas lembranças se conectam com seus neurônios de uma maneira tão completa, tão magicamente emaranhadas, que só uma tecnologia de ponta fora capaz de desintegrar essas ligações.
Não se esqueça de que Katniss não é uma deles! Ela te ama, Peeta. Vocês estão juntos… ela ama você. Você a ama. Ela não te usou… ela não… te usou?
_… E foi só mesmo quando pude perceber que era exatamente ela, a garota em chamas, a responsável por tanta coesão, durante tanto tempo dessa sua vida medíocre, que soube que seria tão difícil fazer com que você a odiasse.
Claro, como odiar Katniss? Peeta, você a ama… Peeta, não se esqueça… um ponto fixo, Peeta. Um ponto fixo, merda!
Senti um cheiro inebriante preencher-me por completo e um toque suave, mas que me parecia uma agressão, em meu ombro. Era a mão dela. Katniss ocupava todas as imagens que percorriam minha cabeça. As boas e as ruins. Todas elas entranhadas como pequenos laços de um arame farpado. Igualmente perigosas, logo. E meus olhos doíam só de encarar o rosto dela, que nem cruzava meu campo de visão. Pois, como num ato-reflexo, a dor que me corroía os músculos irromperam em um empurrão bruto, inconsequente e não controlável contra o corpo dela, que há dois metros de mim, se chocou contra o chão, provocando um som que me ensurdeceu ainda mais.
_… Mas você a odeia, Peeta! Ela não ama você como diz. Ela usou seu charme para ganhar patrocinadores. Seu amor para sobreviver. Usou seu corpo, vendeu-o como se fosse uma nobre vilã da capital. Como fizeram com seu amiguinho. Finnick. Oh, aquele rapaz perdeu mesmo a cabeça…
Ao ouvir o nome de Finnick meus dentes se enrijeceram uns contra os outros e cerrei o punho, socando o rosto de Thomas, à minha frente. Finnick havia salvado minha vida uma vez e agora parecia estar me ajudando, mesmo de tão longe, a voltar à lucidez. Olhei de relance para Katniss ao meu lado, ainda caída, imóvel, chocada, e meus olhos se encheram de lágrimas ao ver que eu havia feito aquilo de novo. Virei-me, pois, como um animal selvagem se arrastando para fugir de seu predador e corri em direção à minha casa.
Minha cabeça latejava demais para que eu pudesse notar se alguém me seguia. Continuei correndo e a voz do meu alterego parecia ressoar em minhas têmporas.
Você é um covarde! Não sabe olhar para ela e dizer quem ela é? Que tipo de vida você vai ter com uma mulher que não sabe quem é? Você a odeia, Peeta? Você a ama, seu fraco?
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Refugiados
RomanceApós sofrer com o horror da guerra contra a Capital, a morte de Prim e o rótulo de assassina que havia colocado em si mesma, Katniss cede espaço a Peeta em sua vida, rendendo-se à tranquilidade e ao amor que ele podia lhe dar. Mas os pesadelos, fant...