| 19 | VIDRO

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Luke coçou o nariz branco com a costa da mão e em seguida caminhou até Dominic. Eles se encararam por dois ou três segundos. Tinham praticamente a mesma altura. Os cabelos negros de Dominic eram enigmáticos juntamente com aqueles olhos de gato. Aquela era a característica mais marcante dos Sokolsky's, os olhos e as madeixas negras.

Luke se contrapunha a isto. Tinha os olhos de mel e cabelos de cobre. Era tão bonito quanto Dominic, e eu me arrisco a dizer que os dois eram iguais em termo de sensualidade.

_Você quer? - Luke ergueu o pacote transparente com o pó branco. Dominic não desviou o olhar do dele nem por um segundo.

_Você não precisa aceitar, Dominic. - eu disse com a voz embargada de tensão. - Luke não conhece o sentido de moderação.

_Eu também não. - Dominic deu de ombros, finalmente desviando o olhar de Luke. Ele então sorriu radiante. - Por que você não me acompanha, Lorninha?

_Não penso bem quando estou chapada.

_Eu sei que não. - Dominic pegou o pacote e enfiou o dedo indicador dentro do mesmo. O dedo umedecido previamente com saliva veio melado de neve. Neste instante, lentamente, com os olhos negros vidrados em mim, ele levou o dedo até a língua vermelha. - Mas eu gosto disso.

Um silêncio sepulcral se instalou após o comentário malicioso de Dominic. Ele tinha as palavras perfeitas e toda a porra do universo em suas mãos.

_Onde está Marian, Luke? - Eu questionei o meu irmão e ele torceu a cabeça na minha direção. Seu olhar era assustado.

_Não a vi, por quê?

_Damien estava atrás dela mais cedo. E como você saiu com ela, pensei que soubesse.

_Você e a minha irmã estão trepando, não é? - Dominic se sentou na poltrona do escritório atrás da grande mesa e roubou um charuto da gaveta.

_E você e a minha irmã também, não é? - sua resposta foi tão rápida que pareceu ter sido projetada antecipadamente.

_Não mais. - Dominic soprou a densa fumaça tóxica antes de se voltar a mim.

_Eu ainda estou aqui, canalhas! - minha voz saiu mais fina que o normal. Eu estava incendiando por dentro.

Luke e Dominic sorriram em sintonia. Eles eram praticamente iguais.

_Ela irá se casar, não há muito o que ser feito. Todos os segredos, todos os mistérios das nossas famílias podres em breve serão unificados. Só espero que todo o dinheiro arrecadado com esse casamento arranjado te faça feliz, Lornan. - Dominic relaxou na poltrona, esticando as pernas sobre a mesa.

_Por que se importa? - olhos estreitos e olhar duvidoso.

_Por que não me importaria?

_Isso seria o mais aceitável.

_Para mim ou para você?

_Afinal, Dominic, o que você está insinuando?

Ele sorriu com o charuto na boca.

_Você nunca irá perceber, não é?

_Não sei do que está falando.

Luke passou a mão no cabelo, em seguida se sentou ao meu lado no sofá envernizado. Ele segurou a minha bochecha com uma mão e com a outra pressionou o polegar contra os meus lábios vermelhos.

Eu olhei para ele e Luke pressionou ainda mais os meus lábios, até eu me sentir forçada a abrir a boca. Dominic observava tudo distante.

_Acho que você tem que relaxar. - Luke murmurou com a voz rouca. Os raios pálidos da luz artificial em contraste com a madeira envernizada deixava tudo meio vermelho e saturado. Foi quando Luke virou o pacote na minha boca, despejando consideravelmente uma quantidade de cocaína. E antes mesmo que eu pudesse engolir o pó amargo, Luke me deu uísque para beber. Não um copo, mas uma garrafa.

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