| 12 | OS SEGREDOS DE LUKE

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Pálpebras pesadas.

Som de mar e violão.

Aquele era um momento de calmaria que eu jamais imaginei que seria possível naquela ilha.

Os olhos azul elétrico de Dimitri estavam focados na chama vermelha da fogueira. A lenha estalava e conforme a brisa batia o fogo se tornava mais intenso. Era como se dois amantes estivessem dançando apaixonadamete sobre as larvas ardentes do inferno.

Em meio a um trago e outro Dominic olhou para mim, em seguida ele disfarçou.

Eu me sentia invadida e estranhamente observada. Luke também não tirava os olhos de mim e aquilo por incrível que pareça era mais quente que o próprio fogo que nos iluminava.

Aquela era a noite seguinte ao jantar beneficente. Eu ainda não conseguia lidar com a minha ressaca moral, nem tampouco com o desprezo que eu sentia por tudo e todos daquela casa. A convivência fez com que algumas máscaras caíssem, mas isso não me surpreendeu. Agora, reunidos em um círculo em torno de uma fogueira, tentávamos reativar as nossas mentiras padrões.

_Esse é um jogo de confissões. Iremos por ordem alfabética, portanto Damien começa. - Judith explicou a todos nós. Os olhos grandes e curiosos vagavam pelos nossos rostos. Ela entregou o "baseado da verdade" para o meu cunhado, e ele sorriu em estranhamento.

_O que eu faço agora? - perguntou timidamente, penteando as madeixas negras para trás.

_Você dá um trago e diz algo que sempre teve vontade. Não iremos julgar, apenas escutar e dar continuidade ao jogo. No fim todos nós teremos um segredo revelado, assim ninguém poderá trair o outro. - Judith sorriu para Damien e se encostou no ombro de Marian. Aquele luau estava estranhamente quente e não havia nenhuma estrela no céu sombrio. A claridade era provocada unicamente pelo o fogo, nada mais. - Mas cuidado, Damien, esse baseado não é comum. Quando você der o primeiro trago todo e qualquer segredo que você esconde não será poupado.

Engoli seco.

Eu não acreditava de fato naquelas coisas, mas não queria pagar para ver. Eu era uma caixa de Pandora. Toda a maldade do mundo estava armazenada em mim. Como eles reagiriam se ouvissem o que eu não podia falar?

_Não tenha medo, porra! - Dominic socou o ombro do seu irmão ao lado. Ele estava sentado entre Damien e Dimitri. Era o mais relaxado de todos nós ali porque era o único que não escondia mistérios mortais.

_Foda-se! - Damien, em um sopro de coragem, antes de levar o baseado até os lábios e tragar profundamente até que os tendões do seu pescoço ficassem demarcados. Ele fechou os olhos e todos nós o observamos silenciosamente. Estávamos curiosos para saber se aquele jogo era real. O pequeno sorriso convencido de Judith era assustador.

_E então? - Dimitri, que acreditava naquela merda tão pouco quando eu, quis saber.

Damien franziu as sobrancelhas ainda com os olhos fechados. A tensão no ar era palpável, mas o sorriso divertido nos lábios de Dominic era tudo o que se mantinha leve.

_Eu... - Damien hesitou brevemente. - Eu me sinto responsável pela morte do papai.

Após dizer aquilo todos sofreram um leve espasmo. Foi inevitável, na verdade. Os irmãos Sokolsky pouco falavam do falecido pai. Era como um tabu imposto pela própria Eudora ou algo assim. Eu tinha certeza que muita podridão estava escondida embaixo do tapete.

Suicídio na visão daquela família era sinônimo de fraqueza. Portanto era algo a se esconder, pois os envergonhava.

_Por que diz isso? - Dominic foi o primeiro a se manisfestar. - Ele se suicidou por puro egoísmo. Você não tem culpa de absolutamente nada.

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