| 13 | ÊXTASE DE MENTIRAS

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Luke Nirole

Três da manhã.

Três batidas na porta.

Lá estava o fantasma dela.

Eu me virei para o outro lado da cama e fechei os olhos.

Os pensamentos me levavam para tão longe. Momentos que eu jamais iria esquecer. Meu corpo estava cansado, mas minha ansiedade não me permitia descansar.

O diabo vermelho dentro do meu copo no criado mundo. A garrafa estava pela metade. O diabo vermelho dentro do meu corpo. A garrafa agora estava vazia.

Eu me sentei na borda da cama.

Cinco da manhã.

Cinco batidas na porta.

Eu não estava bêbado porque nada a minha volta girava. Eu realmente estava sóbrio e essa é a pior parte de estar vivo.

O sol nascia por entre as ruínas de Mikonos. Me perguntei quantas promessas haviam sido plantadas e consequentemente quebradas naquela terra maldita.

Acendi um cigarro quando deslizei pela banheira. Mergulhei por quase dois minutos antes de retornar a superfície. Cruel. Mergulhei novamente nas espumas e gritei embaixo d'água. A minha carne crua implorava por contato.

Outro cigarro. Nicotina e uísque resumia o meu café da manhã. Um ótimo sabor de cirrose e câncer para começar o dia bem.

Grécia era o inferno para mim. Falsa paz e falsa felicidade. Tudo perfeito como em um catálogo de calendário.

Encostei a cabeça na cerâmica fria da banheira e fechei os olhos por alguns segundos. A água era gelada, mas o meu corpo fervia.

Que horas eram?

Nenhuma batida na porta.

_Está deixando o seu corpo de molho?

A voz suave, mas intensa de Marian, provocou um forte espasmo muscular no meu corpo. Entretanto, não permiti que ela notasse a minha emoção e nem que ela visse além daquilo que eu demonstrava.

Abri os meus olhos devagar e a encarei seriamente. Lá estava ela sentada de frente para mim na borda da banheira. Tinha as pernas cruzadas e usava um vestido branco. Os longos cabelos negros entravam em contraste com a sua pele naturalmente bronzeada. Parecia uma gueixa com aqueles enormes olhos de feiticeira fixos nos meus. Contudo, apesar de ter me aproximado dela mais do que de qualquer outra pessoa na casa, eu ainda não entendia o que ela estava fazendo ali.

Ela molhou as pontas dos dedos na água ultrapassando a camada espessa de espuma. Eu franzi as sobrancelhas.

_Como entrou aqui? - minha voz saiu mais baixa e rouca que o normal, repulsiva.

_Eu tenho as chaves de todas as portas. - Marian Sokolsky sorriu para mim. - Estive interessada em saber mais de você depois da noite passada.

Com os dois braços apoiados em cada extremidade da banheira, eu me sentei e me curvei mais na direção dela. Não estávamos próximos o bastante, mas aquilo era mais que o suficiente para ver através da imensidão dos seus olhos pretos como os de um demônio.

Marian lambeu os lábios. Era uma serpente venenosa se arrastando lentamente em direção a sua presa.

Ela realmente acreditava no seu poder de sedução, mas isso infelizmente não funcionaria em mim.

_Me diga o que você realmente quer aqui.

_Me diga você, Luke.

_Eu já deixei claro o que eu quero.

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