PRÓLOGO

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Era para ser só mais um dia comum, mas o simples se transformou em extraordinário e até o ar pareceu se modificar, repousando sobre minha pele como um beijo suave, quando a porta da sala foi aberta e ela entrou, acompanhada da professora.

— Bom dia, turma! Vou apresentar a vocês a nossa nova colega. Essa é a Alice, e ela vai estudar conosco a partir de agora. - A professora fala enquanto gentilmente, com uma de suas mãos nas costas da nova estudante, a força a dar um passo à frente, para a menina se apresentar.

A nova aluna estava cabisbaixa e visivelmente desconfortável. Parada na frente de toda a classe, com suas pernas juntas e seus braços colados na lateral do corpo. Seus únicos movimentos eram feitos pelos dedos das mãos, num claro sinal de nervosismo.

— Olá. Me chamo Alice e sou nova na escola. — Quando ela finalmente ergue sua cabeça e passa a encarar sua nova turma, noto seus olhos castanhos e grandes esquadrinhando todos na sala. Então quando, finalmente, nossos olhares se cruzam eu senti aquela eletricidade percorrendo meu corpo pela primeira vez.

No auge dos meus 12 anos, é claro que eu nunca tinha experimento esse sentimento antes. Por isso, afirmo com toda a certeza, que aquela garota foi a primeira menina por quem me apaixonei.

A professora continuou com o seu discurso de boas-vindas à Alice, mas naquele ponto a minha cabeça já estava em outro lugar. Era impressionante como tudo convergia para tornar aquele momento único. O jeito que as luzes florescentes refletiam nos cabelos ondulados e castanhos da Alice. Ou ainda, como esses mesmos cabelos dançavam livremente, movidos pelo ventilador logo acima dela. Alice sorriu timidamente com algo que a professora falou e eu perdi o fôlego, acho que esqueci de respirar naquela hora. Estava extasiado.

— Tudo bem, Ed? - A voz da professora interrompeu meus pensamentos e me trouxe de volta à sala de aula.

— O ... O quê? - Respondi gaguejando. — É claro! Tudo certo, professora.

— Mas então? A Alice pode pegar a matéria de português com você? — Perguntou a professora, provavelmente pela terceira ou quarta vez, a julgar por sua cara de impaciente.

— Ah! Sim professora. - Respondi sentindo meu rosto ficar vermelho.

Alice ainda sorriu mais uma vez para mim antes de vir se sentar ao meu lado.

Não sei por quanto tempo mais eu fiquei com aquela cara de bobo apaixonado. Provavelmente pelo resto do dia. Ou melhor, pelo resto da minha vida. Ainda devo estar com o mesmo olhar apaixonado agora, nesse exato momento. Sempre que penso nela fico assim. Mesmo após seis anos de amizade, ainda sinto aquela mesma eletricidade toda vez que a vejo na escola.

E mesmo diante de tanto sentimento eu nunca consegui me declarar para ela. Não que eu não quisesse. Eu tinha a cena toda ensaiada na minha cabeça, mas na vida real nunca chegou a acontecer. Era melhor ser amigo dela do que tentar ser algo mais sem saber se eu seria correspondido.

É claro que eu precisava lidar com todas as coisas que eu sempre quis dizer pra ela, mas nunca tive coragem. Então eu comecei a escrever músicas. E isso ajudou por um tempo. Tocar e escrever eram minha libertação, minhas armas secretas contra a humilhação iminente de me declarar e ser rejeitado. Mas como nem tudo na vida são flores, uma hora o tiro saiu pela culatra.

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