Ilustração feita por YohanaSofia7
Felipe olhava para o relógio impaciente, a aula de história era de longe a sua menos favorita, toda vez era a mesma ladainha: "36 anos atrás Libertatem foi criada com várias pessoas adultas e que essas pessoas construíram tudo o que hoje existe", porém essa história lhe parecia estranha toda vez que reparava na estação ferroviária pelo qual passava a caminho da escola, assim como seus pais e seus avós diziam terem os mesmos 36 anos, mas seus avós pareciam serem bem mais velhos, assim era a estação e todo o resto ao seu redor, ela parecia ser bem mais velha que a base militar ao seu lado. Apenas uma coisa parecia ser mais velha que a estação, um estranho prédio no ponto mais alto da vila, com um telhado em forma de V invertido e duas torres laterais é possível vê-lo de toda a vila, apesar de lá funcionar o conselho da Vila seus pais sempre se referem ao prédio como "Igreja", seja lá o que isso significa.
Felipe era um garoto comum de 14 anos da Libertatem, sua rotina consistia ir a escola de manhã e voltava pra casa no final da tarde, ele morava na Vila 238 da Zona Urbana 1, mesmo assim não se sentia comum, tinha muitos questionamentos impróprios na cabeça.
Ele não sabia porque a Igreja e a estação Ferroviária pareciam serem tão velhas, aliás tudo parecia velho naquela vila decadente, mas esses dois prédios eram particularmente bem diferentes, e estava com esse pensamento na cabeça quando Larissa levantou a mão e fez uma pergunta a professora:
- Professora, se tudo tem 36 anos e foi construído ao mesmo tempo, porque a estação ferroviária e o prédio do conselho são bem diferentes dos outros? - Felipe não podia acreditar na coragem daquela menina já fora mandada várias vezes para a diretoria por fazer "Perguntas impróprias", mas mesmo assim continuava a fazê-las, Felipe queria ter aquela coragem.
A professora não respondeu imediatamente, ela olhou para o militar no fundo da sala antes de responder com a voz trêmula:
- Como assim diferente? - Larissa percebendo o nervosismo da professora, hesitou em responder por meio minuto:
- Parece serem velhos, mais velhos que os outros. - Houve um silêncio constrangedor na sala antes da professora dizer:
- Essa é uma pergunta imprópria senhorita Larissa, vá para a diretoria.
Ao ver Larissa saindo da sala rumo a diretoria pela terceira vez naquela semana, Felipe ficou admirado com a menina, ele só havia ido uma única vez até a diretoria quando questionou na aula de bons modos e costumes o porquê dele ter avôs se estes foram criados ao mesmo tempo que seus pais, "Pergunta imprópria", apenas responderam isso e ele teve que ir na diretoria, seu castigo foi escrever numa lousa várias vezes a frase: "Não devo fazer perguntas impróprias". Desde então nunca mais fez qualquer pergunta em sala de aula, mas Larissa era diferente, ela não tinha medo de perguntar.
Nos finais de semana gostava de ir a casa dos avós, e assim o fez naquele sábado, seus avós moravam na Zona Rural 171, muito longe para ir a pé, então ele pegou sua bicicleta quando chegou a estação ferroviária, a cancela abaixou e ele teve que esperar o trem passar, apesar de ser sábado, o trem estava tão lotado quanto qualquer dia, na lateral havia propagandas bem gastas de do como o transporte público era bom e o governo trabalhava para o povo, mas conforme o trem passava notou que havia algo atrás da propaganda descascada, eram letras, conseguiu identificar apenas um M, antes do trem partir.
Aquela letra M ficou em sua mente: "O que Será que está escrito", pensava enquanto Montava em sua bicicleta, seguiu seu caminho, atravessou a linha férrea e continuou pedalando rumo a casa dos seus avós, ele se sentia seguro em sua pedalada, afinal tinha vários postos militares pelo caminho, apenas pediam sua identidade e logo o liberavam, em alguns postos nem a identidade pediam já que o conheciam, ele levava duas horas até chegar a casa dos avós, no caminho passava pelo novo estádio em construção da Zona Urbana 1 que parecia estar em obras desde sempre, futebol era o esporte mais popular em Libertarem, mas havia uma melancolia entre os mais velhos que falavam em times que não existiam mais, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, já havia ouvido esses e outros nomes várias vezes, mas o único time da Zona Urbana 1 era o Libertateano, e todo mundo devia torcer para ele.
Enquanto refletia sobre futebol, a cidade decadente dava lugar a áreas verdes, as ruas de asfalto esburacado davam lugar a ruas de terra enlameadas, ele não sabia porque, mas se sentia melhor quando saia da área urbana, quando estava quase chegando na casa dos avós, algo brilhando no chão, chamou sua atenção.
Ele desceu da sua bicicleta e foi pegar o objeto brilhante no chão, parecia uma moeda, mas era diferente das moedas que Felipe conhecia, essa era prateada com uma borda dourada não tinha o rosto de algum presidente da Libertatem, era um rosto diferente e no outro lado as coisas eram mais estranhas ainda, estava escrito "1 Real".
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Mentiralândia
Ficção CientíficaBem vindos a Libertatem, único país do mundo, há 36 anos não havia mundo, de repente o mundo foi criado e Libertatem surgiu, desde então os governantes tem mantido uma sociedade harmoniosa onde todos são livres e felizes. Perfeito né? Só que é menti...