Capítulo 3 - A estrada

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"Não aquilo não podia ser verdade, não é possível mentir para milhões de pessoas e todos acreditarem ou é?". Foi com esses pensamentos na cabeça que Felipe saiu da casa de seus avôs domingo a tarde e pedalava sentindo a Zona Urbana 1, chegou a um dos postos militares onde era obrigatório apresentar a identidade.

- Está tudo bem garoto? - O soldado falou com Felipe tirando-o de seus pensamentos, e pela primeira vez na vida Felipe sentiu medo de um militar, o garoto apenas assentiu que sim com a cabeça, o soldado pegou um celular e fotografou a identidade de Felipe, olhando a tela o militar disse: - Felipe, está voltando para casa foi visitar seus avós, teve alguma conversa interessante com os velhos?

Não era a primeira vez que um soldado perguntava se havia tido uma conversa interessante com os avôs, mas dessa vez Felipe tremeu, nunca havia achado aquilo estranho, na verdade nunca reparara na quantidade de informações que o governo tinha sobre ele, sabia quem ele era, onde ele morava e que ia visitar os avós.

- Está tudo certo pode passar. - Felipe pegou sua identidade numa rapidez ímpar, subiu na bicicleta e pedalou com toda sua velocidade, suava de nervosismo, tentava pensar em outra coisa, mas a cada posto militar o nervosismo vinha, "Eles sabem que eu sei" pensava, um grande mal estar vinha e ele se esforçava para ficar em pé.

- Você está bem? - Outro soldado perguntou no posto militar seguinte. - Você está suando muito garoto.

- Eu...eu estou com dor de barriga. - Felipe respondeu gaguejando, o soldado pareceu acreditar, não perguntou mais nada e até o liberou mais rápido que o normal.

Na estrada passou a reparar em coisas que nunca tinha reparado antes, ruínas, muitas ruínas, do seu lado direito um pouco distante da estrada, apareceu uma grande cidade que parecia abandonada, decidiu fazer um pequeno desvio, decidiu ir até lá, entrou numa estrada a direita. Não pedalou muito e viu um posto militar, já era tarde, tinham visto ele, seria muito suspeito voltar e continuou.

- Identidade. - Pediu um soldado, Felipe tirou do bolso e a entregou ao militar que escaneou o documento com um celular. - Felipe. - Disse o soldado. - Esse não é o caminho para sua casa, o que faz aqui?

- Eu. - Felipe suava muito, tinha que pensar rápido. - Estou com dor de barriga, pensei em ir até a cidade procurar um banheiro.

- Cague no mato. - Disse o soldado rispidamente. - Você não pode passar, vá para casa.

Sem ter outra opção, Felipe voltou para a estrada principal rumo a Zona Urbana 1, nunca antes havia saído da rota, e a primeira vez que saiu foi impedido pelos militares, tinha tanto o que pensar que não pensava direito.

Seguiu seu rumo, imerso em seus pensamentos, tanto que ignorou completamente o novo estádio em construção da Zona Urbana 1.

Chegou em casa exausto, não falou com os pais e já foi se deitar. Nenhum dos pais se importou de ir falar com ele. Já estava acostumado, às vezes parecia que morava com estranhos. Mal os via, chegavam bem tarde do trabalho durante a semana e nos finais de semana o mandavam ir a casa dos avós. Isso porém era o menor dos problemas, se o que seu avô falou era verdade, todo o resto era mentira.

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