A dor

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Na hora do intervalo, Malia disse que estava sem fome e que não ia descer pra comer, mas Jane e Allison desceram. Alguns minutos depois, Jane deu um leve toque no braço de Allison e indicou Malia passando na frente do refeitório em direção ao banheiro. Estava como de costume: as mãos no bolso, os olhos voltados para o chão e fones de ouvido.

- Preciso saber o que está acontecendo. Algo está errado. - Allison sussurrou para Jane que estava a seu lado - Ela nunca usa blusa de frio por mais frio que esteja, a menos que esteja abaixo de 8 graus - o que não está - ou se estiver doente. Vou falar com ela. Me espera aqui ok?

- Ok. Me avisa se descobrir algo ou se precisar de algo. Estarei esperando vocês.

Allison saiu do refeitório o mais rápido que pôde e foi ver Malia. Quando chegou ao banheiro, ela estava lavando o rosto com a manga direita da blusa levantada, mas abaixou rapidamente quando percebeu alguém entrando.

- Ah, é você. Desculpe.

- Me conta. O que está havendo? - Allison parecia preocupada.

- Não se preocupe, estou bem.

- Pensa que pode mentir pra mentiroso, mas Desculpa, não pode. Sei que algo está acontecendo ou aconteceu, você só precisa me dizer o que. Me deixe tentar te ajudar. Desconfio que tenha relação com a conversa com seus pais.

- Por que acha que tem algo acontecendo?

- Primeiro: você sempre fica super animada com a aula de literatura principalmente quando você tem que fazer um trabalho sobre algum livro, o que você não fez. Segundo: nenhuma piada em 3 aulas? Algo não está certo.

"Terceiro: blusa de frio quando está 24 graus? Com certeza você está escondendo algo ou está doente. Quarto: você estava distante durante todo o tempo. Quinto: você nem esperou pela gente na porta da escola hoje. E, sexto: depois de falar com seus pais ontem, você só disse que ia dormir e desapareceu, nem me disse mais nada. Você não costuma simplesmente desaparecer sem motivo. Vai me contar o que houve?"

- Você percebe muita coisa. Mas não, não tenho nada pra contar.

- Nem sobre seu braço?

- Meu braço? O que... O que tem ele?

- Estenda o braço e levante a manga. Me deixe ver o que está escondendo. Se não há nada para dizer, é porque não está escondendo nada. Se não há nada que esconder, me deixe ver.

Malia, sem opção, estendeu os braços para que Allison pudesse ver. Quando ela levantou a manga, viu marcas como se ela tivesse levado vários golpes. A expressão de Allison era de tremenda preocupação.

- Satisfeita? Ou também quer ver minhas costas e pernas? - Malia não parecia nada confortável.

- Me deixe ver as costas...

Malia virou de costas e levantou um pouco a camiseta para que Allison pudesse ver. Allison levou a mão à boca com um suspiro de preocupação tentando conter as lágrimas.

- Quem fez isso com você e por quê? Não faz sentido...

- É, pois é. É isso que eu recebo por ir atrás do que eu quero e mereço. Meu pai fez isso comigo depois de eu dizer que vou aos testes em 5 dias. Mas ele não vai me fazer parar. Nada vai. É quem eu sou. Se puder não contar pra ninguém, eu agradeço. Isso é algo meu e ninguém precisa saber sobre.

- Não se preocupe, não vou contar. Mas... Devia ter me dito antes. Sou sua namorada e devia me contar essas coisas. Está bem? Pode dormir fora hoje?

- Estou de folga amanhã então, sim, posso. Mas não tenho nada comigo e não tenho onde ficar.

- Não se preocupe, sei onde podemos ficar. Vou pra casa e levo Jane comigo. Vou dizer pra minha mãe que vou dormir na casa dela e você pode esperar a gente perto da minha casa. Eu pego algumas coisas e a gente te encontra. Você não vai voltar pra casa hoje. Está bem?

- Não sei... Não quero dar trabalho e tenho que falar com meus pais. Não quero falar com meu pai hoje. Se possível, não quero falar com ele por um bom tempo.

- Não se preocupe. Deixe uma mensagem e ele lê quando ver. Não precisa falar com ele e não atenda se ele ligar. Não vai ser trabalho algum. Você precisa da gente então não se preocupe.

Malia agradeceu e beijou Allison que tentou abraçá-la, mas sentiu que ela se contorceu por conta da dor e se afastou alguns centímetros.

No retorno pra sala de aula, as duas estavam de mãos dadas e encontraram Jane. Contaram o que houve e o que fariam depois da aula. Jane concordou em ajudar. Elas voltaram pra aula. Malia parecia um pouco melhor de ter contado à alguém, mas ainda sentia a dor do que havia acontecido na noite anterior.

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