3-Repreensão

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"Nem você nem eu temos sorte. Você é a maior ameaça ao mundo...e eu sou a sua maior ameaça."
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Depois de tudo que aconteceu ontem e aquele turbilhão de emoções que acabaram me invadindo,eu fiquei bem pensativa.
Ele foi a primeira pessoa em meses que conseguiu me deixar calma depois de uma das crises constantes que eu havia tendo.O que pra mim foi uma ironia.
Como o principal motivo de todas as sequelas que eu tive conseguiu fazer cessar?
O fato dele ter feito aquilo só me deixava com mais raiva ainda.
Ele havia me tocado.Eu jurei pra mim mesma que nunca mais deixaria que ele me tocasse novamente,e ontem ele conseguiu me deixar completamente frágil e vulnerável.
Pra mim,é ótimo acordar com sangue nos olhos e sede de vingança.Pra ele,nem tanto.Tenho planos maravilhosos pra hoje.
Depois de todo o vexame de ontem eu dormi no sofá e deixei que ele descansasse na minha cama.Foi até um ato de fé da minha parte.
A primeira coisa que eu fiz foi pegar a banheira do quarto da tortura e encher de água gelada.
Pensei em água fervente,mas eu não queria ouvi-lo gritar.Eu queria vê-lo sufocar.
Antes que ele acordasse eu proferi um feitiço de cura ou ele não aguentaria ser sufocado com todos aqueles ferimentos.
Levitei ele até o quarto da tortura e sem pensar duas vezes mergulhei a cabeça dele na água gelada,ainda dormindo.
Ver ele batendo desesperadamente na banheira procurando lugar pra se apoiar e levantar pra respirar foi um tanto prazeroso.Levantei a cabeça dele fazendo-o olhar pra mim.
- Não ache que porque permiti que você me abraçasse ontem que sejamos amiguinhos.-olhei com desprezo,mágoa e indiferença pra ele e logo o afoguei de novo.

🦋

Eu havia desmaiado,com certeza,pois quando acordei já não estava mais naquele quarto velho e escuro.Eu estava agora em uma cama macia e espaçosa,provavelmente o quarto de Bonnie.Assim que pensei nela eu ouvi o ranger da porta que eu supus ser do banheiro se abrir.Era ela,e estava de toalha.Eu queria muito deslizar os olhos por toda a extensão do corpo dela,mas era errado,e eu não faria isso.Só de pensar em olhá-la nua sem que ela soubesse eu me enojei.Não dela,mas sim de mim.
Fechei os olhos e esperei alguns minutos até que ela estivesse coberta.Ela estava com uma camisola linda que realçava ainda mais suas curvas.
A

cho que ela notou que eu a estava observando e se virou pra me olhar.
- Nós podemos conversar?-disse tão baixo que foi quase inaudível,mas logo ela assentiu e se sentou ao meu lado na cama,mas não muito perto.

- Bonnie,eu sei que já disse isso milhares de vezes e sei que você não acredita em mim,mas eu mudei,Bonnie.-dei um tempo pra respirar,me preparando pra terminar de falar.- Eu me arrependo amargamente de ter causado todo esse tormento na sua vida.Por ter te machucado de todas as formas possíveis,por ter te deixado sozinha em uma prisão feita pra mim e por ter ganhado sua confiança pra depois te apunhalar pelas costas.-falei tudo de uma vez suspirando em seguida.Eu esperava de todo coração que ela acreditasse nas minhas desculpas para que possamos recomeçar.Quando olhei a expressão que ela carregava eu fiquei um pouco preocupado.Parecia que ela estava em choque e a um triz de explodir.E foi o que ela fez.

- VOCÊ MENTIU OLHANDO NOS MEUS OLHOS E SORRINDO.-ela se levantou rapidamente aos prantos vindo até mim em confronto.
-ACHOU MESMO QUE UM DIA EU VOLTARIA A ACREDITAR EM ALGO QUE ENVOLVESSE VOCÊ?-eu me senti um monstro ao ver o quão frágil e magoada ela estava,então arrisquei me levantar com muito cuidado e ir até ela que estava com as mãos no rosto ainda chorando.
Envolvi todo seu corpo macio e pequeno em um abraço.E sem relutar,ela retribuiu.Molhando todo o meu peito com suas lágrimas.
Sentir aquele corpo pequeno e macio foi uma das melhores sensações da minha vida.
Acho que eu nunca havia abraçado alguém com tanto cuidado e carinho da forma que eu a abraçava.
Depois do abraço ela falou que ia dormir na sala e que eu poderia ficar no quarto dela,e foi o que eu fiz,já que eu estava tão arrebentado que não conseguiria sair dali.
Acordei com algo gelado molhando meu rosto e lutando desesperadamente por ar.Bonnie estava me afogando.Me deixando sem ar como eu deixei ela quando a sufoquei no carro quando estávamos no mundo prisão.Eu estava totalmente em pânico.Não sabia o que fazer,só pensava em quão aconchegante seria sentir o ar em meus pulmões novamente.
Ela estava me dando todas as sensações das atrocidades que eu havia feito com ela,estava me proporcionando parcelas de todo medo que ela sentiu,e eu não podia dizer que não merecia,mas Bonnie não era assim.Ela não machucava as pessoas, independente do mau que fizeram para com ela.Eu tinha que fugir dali o mais rápido que eu conseguisse.
Eu tinha que achar maneiras de fazê-la acreditar que eu sou um novo alguém.
Eu já estava sentindo o gosto da morte,quando de repente ela me levantou.Respirei o mais fundo que consegui,preenchendo os meus pulmões de ar o mais rápido possível,antes que ela me afogasse novamente.
- Não ache que porque permiti que me abraçasse ontem que sejamos amiguinhos.-ela me olhava com um sentimento bem mais forte que ódio.Desprezo,e logo ela me afogou de novo.
Dessa vez não tinha como escapar.Ela me afogou exatamente no momento que eu inspirei,fazendo toda a água tomar meus pulmões.
De repente a vontade de respirar já não era mais necessária.Eu estava em um corredor branco que tinha meu nome na porta ao final do corredor.Eu fiquei com medo de abrir a porta,mas algo dizia que eu deveria.
Eu abri a porta e eu estava em casa.Na casa que eu matei meus quatro irmãos,mas eles não estavam mortos.Luke,meu pai,minha mãe,Jô e todos os meus irmãos estavam sentado a mesa almoçando e eles me chamavam.
- Venha,Kai.Jô vai comer todo o purê de batatas.-disse Luke segurando uma panela de macarrão.Ele sorria pra mim e eu sorria de volta.Do nada tudo ficou preto e eu fui arremessado pra longe deles e a porta se fechou.
O corredor começou a ficar cada vez menor.Ele diminuiria até que nem eu existisse mais.

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