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“problems”

Solto um longo e arrastado suspiro, me remexendo embaixo dos cobertores ao despertar por completo com o irritante som do despertador ressoando pelo quarto.

De todas as coisas no mundo, acordar cedo ocupava o primeiro lugar das quais eu menos tinha afinidade. Minha mãe sempre considerou isso como um defeito meu. Algo relacionado a preguiça, mas eu não via isso desta maneira.

Mais uma semana monótona se iniciava, e eu já implorava pelo fim da mesma com ansiedade. Só de imaginar o fardo que seria aguentar aquele ambiente cheio de testosterona e egocentrismo me causava náuseas, cansaço e um imenso peso nas costas. Eu simplesmente não aguentava mais ir para a escola, mas faltava pouco tempo para que aquele inferno acabasse.

— Seu futuro não vai se construir sozinho, Aurora... — Penso em voz alta, tomando coragem para levantar. Peguei o uniforme que sempre deixava separado em um cabide, e deixei sobre a cama, enquanto ia tomar banho.

Não que eu tivesse algum conflito com o meu físico, mas o desconforto que sentia quando me olhava no espelho era imenso. MinHa e JeongIn insistiam em ressaltar o quão bonita eu era sob seu olhar, e em certo ponto fui capaz de concordar de que era bonita o suficiente para eles e para mim. Mas não o suficiente para atrair alguém.

Analisando meu corpo no espelho, enquanto o chuveiro aquecia, aquele que ocupava meus pensamentos durante a noite, toma conta de minha mente. Saber o que havia lhe atraído em mim era uma incógnita. Não tinha muito a oferecer.
Não quero ser modesta, mas sabia que minha inteligência era um tanto quanto medíocre, tal como minha personalidade, físico e pontos fracos e fortes. Era o tipo de garota que passa despercebido aos olhos de garotos como Hwang Hyunjin.

— Eu preciso mudar... — Murmuro me dirigindo para o chuveiro. Minha mãe sempre fora muito rígida em relação a mudanças em meu corpo, mesmo que ele pertença à mim, e não ela. Sem piercings, tatuagens ou tintura no cabelo. Se dependesse dela, eu com certeza estaria em algum convento, ao invés de uma escola pública.

Eu quase não à via, o que por certo lado era bom. Tinha liberdade para fazer o que queria e quando queria – quando ela não estava, ao menos –. Já pelo outro, era um ponto que me chateava. Desde que meu pai havia ido embora, sua vida se resumia em trabalhar e cuidar do meu irmão mais novo, que eu também quase não via – pois o mesmo ficava em uma escolinha por tempo integral –. Se eu sumisse seria quase imperceptível para ela.

°°°

Seguia meu caminho em silêncio até a escola. O dia estava agradavelmente quente, com o céu intensamente azul. Por ser inverno, era incomum que tivessem dias que passassem dos quinze graus, mas aquele era uma exceção, já que o frio havia chegado mais cedo que o normal naquele ano. O que me deu a oportunidade de usar o uniforme considerado mais “apropriado” para meninas. Camisa social, uma gravata ridícula, blazer, uma saia que eu me obrigava a usar um short por baixo, e meias três quartos, que particularmente eu achava ridículas. Quem disse que usar saia era algo apropriado para, apenas e unicamente, mulheres? Admito que me sentia como em Alice no País das Maravilhas, imaginando como seria se os homens usassem saias e saltos, e nós mulheres calças sociais e sapatos de couro.

Solto um riso baixo com o meu pensamento consideravelmente engraçado, com a ideia de que em um mundo paralelo o patriarcado era algo que não existia, assim como o preconceito e tudo o que é de ruim que afeta a nossa sociedade nos dias de hoje. Infelizmente é algo distante que só está em nossas imaginações férteis.

PANDEMONIUM | Hwang Hyunjin (hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora