Prólogo

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[Lúcio]

Eu o tinha na palma da minha mão.

Literalmente.

- Uhn... Lu... – Ele murmurou em meu ouvido com sua melhor voz de cama: sedutora, rouca, despudorada. Um novato qualquer, se já não tivesse se apaixonado pelas coxas maravilhosas, pelo olhar felino, pela boca aveludada ou pelo sorriso torto, teria se perdido bem ali: entre suas pernas.

Minha mão deslizava pelo seu membro com rapidez e destreza, enquanto eu me empurrava com entusiasmo para dentro dele, sentindo seus calcanhares cravados em meus quadris, me puxando para mais perto, seus músculos se apertando ao meu redor como se quisessem me sugar para dentro, faminto.

– Mais forte, Lu, mais forte!

Mas duas coisas eram fato: uma, eu não era um novato qualquer. Duas, eu o tinha na palma da minha mão no sentido figurado também. Ariel viria correndo se eu estalasse os dedos, eu nem precisava chamar seu nome. Para ser sincero, das primeiras vezes que transamos, eu sequer conseguia lembrar. Ele era apenas aquele cara fantasticamente lindo que esquentava minha cama de vez em quando, mas a coisa foi tomando proporções diferentes do que eu imaginei a princípio, e ele foi ficando em minha vida. Agora, ele era um dos meus melhores amigos. Com benefícios.

-Ahhh... Lúcio!

E que benefícios.

- Lu... Ahhn... Lúcio, eu... Eu vou gozar! – Ele choramingou, me tirando do sério e me trazendo tão perto do meu próprio orgasmo que senti os dedos dos pés encolherem. Eu mordi a pele de seu pescoço e o penetrei com mais força, gemendo longamente em seu ouvido.

O único problema conosco era que ele queria mais. Desde que nos conhecemos, ele disse, desde o dia em que eu o abordei em um bar e me ofereci para levá-lo para casa. Naquele dia, a única coisa que eu tinha em mente era que eu precisava ter aquela bunda maravilhosa na minha cama o mais depressa possível, e ele, por outro lado, já estava pensando que eu poderia ser o amor da sua vida – palavras dele, não minhas.

Mais tarde, fui descobrindo que Ariel era um garoto romântico e sonhador, desses que supostamente só existem em filmes água com açúcar ou novelas ruins. Ele tinha planos sobre ter um relacionamento sério, morar junto, ter família e tudo isso. Ele queria dividir o banheiro e quem sabe a escova de dentes, acordar todos os dias ao lado do mesmo rosto já enfadonhamente conhecido e adotar um cachorro para chamar de filho. Algo como um final feliz Disney-Gay, eu diria – sem casamentos com longos e exagerados vestidos brancos e um casal de crianças, mas o mais perto disso possível.

Eu era seu simétrico oposto. Sempre que podia, saía para as festas e boates, procurando toda noite a melhor presa. Eu escolhia minha vítima meticulosamente, levava-a para casa, transava com ela, às vezes pegava o telefone – se fosse estritamente necessário, se a pessoa realmente achasse que eu ia ligar – e nunca telefonava. Se a encontrasse novamente, jamais conseguiria reconhecê-la.

Como Ariel foi se envolver e se apaixonar por mim, eu realmente não sabia, mas depois daquela noite, ele conseguiu se esgueirar para dentro da minha vida de um modo que eu não conseguia expulsá-lo – nem queria. E ele sempre atendia minhas ligações e vinha sem hesitar quando eu o chamava, fosse apenas como amigo, ou como amante.

Eu sabia que o que eu estava fazendo era errado, já que ele claramente tinha sentimentos por mim, mas eu não estava enganando ninguém. Ari sabia muito bem em que havia se metido, eu deixei bem claro para ele desde o princípio que eu não era um cara de relacionamentos, que eu não tinha uma pessoa só e que ele não podia esperar fidelidade de mim. Ele aceitou tudo aquilo tranquilamente, provavelmente pensando que poderia me mudar, mas em algum momento ao longo dos anos, devia ter percebido que isso não aconteceria mais.

- Ah! – Senti seu sêmen espirrando entre nós, em meu peito, no exato momento em que me derramei dentro dele também. Levemente tonto, descansei meu peso sobre ele, sentindo seus músculos se contraindo ao redor do meu membro sensível, enviando arrepios por toda minha espinha. Movi lentamente os quadris mais algumas vezes, aproveitando o calor do seu corpo e beijando toda a extensão de seu pescoço lenta e longamente.

- Boa noite. – Brinquei, finalmente depositando um beijo em seu rosto e olhando em seus olhos. Ele riu e jogou os braços sobre meus ombros, me dando um selinho rápido.

- Boa mesmo. – Ariel piscou, me fazendo rir levemente, antes de me retirar dele. O moreno gemeu baixinho com a perda do meu volume e eu me deitei ao seu lado, suspirando e apoiando as mãos atrás da cabeça. Ariel se aproximou, deitou a cabeça em meu peito e me abraçou, sem cerimônias. Normalmente, eu não gostava muito de carinhos depois do sexo, a essa hora eu já estaria vestido e saindo pela porta sem nem bem dizer adeus se fosse com qualquer outra pessoa, mas para ele eu abria uma exceção. – Você estava... Inspirado. – O pequeno comentou, divertido, e eu olhei para o rosto dele com falsa indignação.

- E quando foi que eu te comi com algo menos que inspiração!? - Ele soltou uma de suas gargalhadas gostosas e longas e eu fiz um cafuné em sua cabeça, bagunçando seus cabelos negros. Eles estavam um pouco mais longos do que ele costumava usar, com aquele cheiro que lhe era bem peculiar, vindo de um famigerado shampoo hippie de eucalipto.

- Justo. – Ariel sorriu, repousando a cabeça em meu peito. Eu fechei os olhos e relaxei, sentindo seus dedos longos e finos deslizando pelo meu abdômen num carinho lento. – Eu posso dormir aqui hoje? – Ele perguntou e eu pude ouvir a esperança em sua voz. Queria dizer que não, porque não queria que ele confundisse as coisas, cada dia que dormíamos juntos ele tinha mais convicção de que nós tínhamos um relacionamento mais sério do que realmente era. Mas eu estava tão cansado...

- Se você ficar bem quietinho, vou começar a roncar em dois tempos. – Ele riu baixinho e continuou sua carícia em minha barriga, me ninando num sono tranquilo. Eu gostava do Ariel, isso era fato, eu nunca negaria. Mas gostar e estar apaixonado eram coisas diferentes e estar num relacionamento, então... Eram outros quinhentos.

Ariel não tinha ideia de que ele merecia alguém muito melhor que eu, então aceitava qualquer migalha que eu estivesse disposto a lhe dar. No fim das contas, se poderíamos dizer que aquela era uma amizade com benefícios, eles eram todos meus.

Amigos, Benefícios e Shampoo de EucaliptoOnde histórias criam vida. Descubra agora