Capítulo 9 [Noah]

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Quando conheci o Téo, eu tinha 8 anos. Eu era o aluno novo do colégio e tudo sobre mim era diferente dos outros: eu era descendente de japoneses, nerd, baixinho e gordinho, com óculos fundo de garrafa. No recreio, ninguém queria falar comigo, eles só riam de mim e me provocavam com apelidos sem graça. Eu não ligava muito, gostava de ficar sozinho, estava acostumado. Acontece que Téo não ficou satisfeito com isso.

Ao contrário de mim, ele era hiperativo e muito magrelo, brincalhão e cheio de amigos. Quando chegamos à adolescência, ele foi o primeiro a "esticar", se tornando o garoto mais alto – e mais magro – da sala. Quando éramos crianças, porém, ele era quase tão baixinho quanto eu e sempre me perseguia no pátio, tentando conseguir minha amizade. Era como se ele não se conformasse com a existência de alguém no mundo que não quisesse ser seu amigo. 

- Brinca comigo, por favor! – Ele exigia todos os dias no recreio, sem falhar. – Ninguém vai mexer com você. – Téo parecia ler todos os meus pensamentos, desde aquela época, e quando ele me chamava para brincar e eu mal levantava os olhos para ele, de alguma forma, ele sabia que eu tinha medo. – Eu cuido de você. 

Com o tempo, eu fui baixando a guarda, percebendo que ele era diferente dos outros garotos e que não queria me fazer mal, então permiti que se aproximasse. Nos tornamos grandes amigos, embora fôssemos tão diferentes. Os garotos do colégio não entendiam nossa amizade, mas, para ficar em bons termos com Téo, eles precisavam ser legais comigo, o que fez meus anos de ensino fundamental e médio passarem na mais completa paz. 

Ele era muito popular entre os meninos da nossa série e até entre os mais velhos, além de ser idolatrado pelos mais novos. Ele era engraçado, divertido, era bom em todos os esportes e tinha todos os videogames do mundo em casa e todo final semana recebia um monte de amigos e organizava campeonatos. Eu só me conformava em passar da maneira mais invisível possível pelo colégio, de modo a sair ileso de lá. Fiz pouquíssimas amizades além dele, mas já foi um progresso enorme de um garoto completamente solitário na infância para um adolescente com uns três ou quatro amigos.

Durante anos, nossa amizade não era nada mais que isso: uma boa amizade. Na verdade, ele era meu melhor amigo, e quando as coisas na minha casa ficavam sufocantes demais eu corria para ele. Seus pais me acolhiam como a um filho, tinham personalidades parecidas com a dele. Todos na sua casa eram hiperativos, simpáticos, extrovertidos, enfim. No começo, tive dificuldade de interagir com eles, pois sempre fui muito reservado, mas aos poucos eles foram me entendendo e a convivência ficou mais fácil. 

Na minha casa, o clima era outro. Eu era filho único de uma família oriental muito rígida e conservadora, meus pais exigiam boas notas, bom comportamento, queriam que eu fosse bem nos esportes, em línguas, me matriculavam em aulas para aprender instrumentos de música clássica, mas eu não tinha talento para muita coisa além de uma arte que eles não valorizavam muito: cozinhar.

Além de todas aquelas exigências, fui criado a vida toda sob o aviso de que eu deveria casar com uma boa garota de uma boa família japonesa, não existia a possibilidade de me casar com uma brasileira, por isso eles sempre me apresentavam e me empurravam em festas para as filhas de seus amigos, não importava quantos anos mais velhas ou mais novas elas fossem. 

Eu não ligava muito, até então não tinha conhecido nenhuma garota que me interessasse. Naquela época, com uns quatorze anos, Téo já tinha beijado mais da metade das meninas da nossa sala e a outra metade era louca por ele. Veja bem, ele nunca foi o padrão de galã. Ele era alto, porém muito magro na adolescência – depois de adulto, ganhou massa muscular, mas naquela época, se soprasse um vento mais forte, ele desequilibrava – e ele tinha muitas espinhas no rosto. Porém, ele tinha o sorriso mais encantador e contagiante do mundo, cabelos cacheados que lhe davam um ar angelical e olhos castanhos claros que, a depender da luz, pareciam verdes. Além disso, ele sempre foi charmoso, educado e carismático, o que o deixava cem vezes mais bonito que os outros garotos.

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