Eu não era masoquista, eu não tinha planejado me apaixonar por Lúcio, embora deva admitir que era algo totalmente evitável. Por outro lado, não podia garantir que ele não era sádico por alimentar o amor de outra pessoa, sem interesse nenhum em retribuí-lo. Eu sabia exatamente em que tipo de relacionamento eu havia me metido e, se eu havia aprendido algo naquele tempo, era isso: o amor não te pega de surpresa.
Existe um momento chave, em que você ainda não está apaixonado, em que ainda está perfeitamente lúcido e consegue enxergar exatamente o que está acontecendo e exatamente que tipo de relacionamento está prestes a desenrolar e, nesse exato momento, há duas opções: cair de cabeça ou cair fora. Essa escolha deve ser feita sabiamente, pois, uma vez que esse momento passa, o sofrimento é certo.
Eu tomei uma decisão burra. Quando esse momento chegou pra mim, eu estava ciente de tudo. Lúcio era um cara transparente, super gente boa, amigo de todo mundo, daqueles que chegava num lugar e virava o centro das atenções com suas histórias mirabolantes e seu riso solto. Não ajudava que, além disso, ele era lindo, alto e forte. Eu não tinha nenhuma chance contra ele, ele me ganhava no papo e, depois, entre quatro paredes, conseguia se superar.
Apesar disso, incrivelmente, eu conseguia, sim, enxergar o que estava acontecendo. Não era uma história de amor digna de filmes. Não havia jantares românticos, flores, troca de olhares, declarações. Não. Lúcio deixava suas intenções bem claras, ele não me levava para restaurantes ou pro cinema, me levava para festas e bares; não tínhamos longas conversas sobre nosso passado, mas sim conversas impessoais, histórias engraçadas de outras conquistas. Claramente, aquele não era um homem disposto ou interessado em se apaixonar ou namorar. E, mesmo assim, eu escolhi cair de cabeça.
E com o tempo, fui descobrindo mais coisas sobre ele. Ele era o melhor tipo de amigo para se ter: engraçado, divertido, topava tudo, e também era muito parceiro se você precisasse de algo. Em contrapartida, ele era o pior tipo de amor platônico que se poderia imaginar.
Em primeiro lugar, ele era um tremendo de um cafajeste, e nem tentava disfarçar. Ele não podia ver passar um garoto bonitinho que saía correndo atrás, sem nem deixar recado. Ele poderia dar em cima de todos os homens de uma festa com a maior cara lisa e voltar pro meu lado como se nada tivesse acontecido. Além disso, ele não conseguia dizer não a uma boa transa. Comigo ou com qualquer oferecido que se jogasse no colo dele – o que não era raro, Lúcio chamava muita atenção e não precisava se esforçar muito para conseguir parceiros.
Por outro lado, ele parecia o namorado dos sonhos, o que alimentava desnecessariamente meu amor platônico. Por trás de toda a canalhice, ele era super carinhoso, preocupado e superprotetor com seus amigos. Ou seja, eu, que estava na zona cinzenta entre amigo e amante, acabava, em diversos momentos, me enganando e me iludindo porque às vezes ele me tratava como um namorado perfeito. Eu caía na real quando percebia que em muitos momentos ele tratava Benji da mesma forma.
A questão era que, chegado aquele momento crucial, eu já sabia de tudo isso, Lúcio nunca mentiu para mim, nunca fingiu ser outra pessoa nem fingiu querer mais do que sexo comigo. Antes de me apaixonar, de ficar com os quatro pneus arriados por ele, eu sabia de todas as suas virtudes e de todos os seus defeitos. Eu poderia ter ido embora. Eu poderia ter virado as costas, esquecido que o conheci algum dia, seguido em frente e encontrado uma pessoa que tivesse intenções mais condizentes com as minhas.
Mas não. Eu optei por cair de cabeça e dei de cara com o chão, quebrei os dentes. Eu terminei perdidamente apaixonado por Lúcio, como nunca imaginei amar ninguém, porém, em troca, eu só recebia migalhas de seu afeto.
Com certeza há algo de masoquista em alimentar um amor não correspondido, mas eu já não tinha opção, eu não conseguia encontrar forças, coragem, de me afastar dele, de dizer não. Ele era o homem da minha vida, se ele me pedisse qualquer coisa eu daria.
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Amigos, Benefícios e Shampoo de Eucalipto
Romance[Finalizado] Lúcio e Ariel se conheceram num bar e tiveram uma noite intensa e inesquecível. Para Lúcio, um cafajeste assumido de 29 anos, não passava daquilo; mas para Ariel, um garoto romântico e sonhador de 25 anos, aquele era o início de uma gra...