Amigos, Benefícios e Shampoo de Eucalipto

Capítulo 10 [Sebá]

Já havia três meses que eu e Benji tínhamos terminado e eu estava tentando tocar a vida, cada dia menos esperançoso de que pudéssemos recuperar o que tínhamos. Minhas atividades me distraíam, ajudavam a me manter são, mas alguns dias eram piores que outros. Duro era voltar pra uma casa vazia, sem o som da voz dele para preencher o silêncio com suas histórias malucas e intermináveis, sem o cheiro dele pra me acalmar, sem o calor dele pra me colocar pra dormir. 

Eu passava cada vez mais horas na academia, lotava meus horários com alunos particulares, procurava esgotar as energias para chegar em casa exausto e apagar. Eu tirava apenas um intervalo de uma hora ou menos pro almoço, depois retomava os treinos até quase dez da noite. Naquele dia, depois da minha última aula da manhã, eu decidi almoçar em casa, em vez de comer na copa da academia, então arrumei minhas coisas e me despedi rapidamente do pessoal. 

Quando já estava me preparando para estacionar na rua de casa, recebi uma ligação de Lúcio e estranhei, porque ele nunca me ligava. Ele tinha voltado de viagem apenas alguns dias antes com Ariel, então pensei que poderia ter algo a ver com ele. Atendi imediatamente e tomei um susto com o desespero em sua voz.

- Sebá! O Benji sofreu um acidente! – Eu freei o carro bruscamente no meio da rua, ouvindo o carro de trás cantar pneu pra evitar bater no meu fundo. Ouvi a buzina alta tentando fazer eu me mover, mas eu estava em estado de choque, sem conseguir sequer perguntar mais detalhes a Lúcio. Uma sensação estranha me consumiu, como se um líquido gelado e denso estivesse subindo pelo meu esôfago, meu corpo estava paralisado. – Eu ainda não cheguei no hospital e eles disseram que não podem dar mais detalhes por telefone. Anota o endereço, quem chegar primeiro liga pro outro assim que souber de algo!

Eu levei quase cinco segundos inteiros para entender o que ele tinha acabado de dizer e imediatamente me recompus, precisava ficar lúcido. Ele já estava dizendo o endereço do hospital e eu enfiei o pé no acelerador, sem sequer saber direito a direção que deveria seguir. 

Eu demorei em torno de 20 minutos para chegar até o local indicado por Lúcio, não tinha nem certeza de onde tinha estacionado, provavelmente no meio da rua, entrei correndo no hospital e pedi informação sobre onde ficava o pronto-socorro. Meu celular começou a tocar, mas antes que eu pudesse pegá-lo no bolso, encontrei Lúcio na sala de espera, com o celular no ouvido. Ele olhou pra mim e desligou o telefone, caminhando rapidamente em minha direção e só então percebi que eu estava paralisado novamente, sem conseguir me mover até ele, com medo do que poderia me dizer.

- Ele está bem, só quebrou um braço e fraturou uma costela. – Lúcio falou quando ainda estava a alguns metros de mim. Imediatamente, como magia, eu senti meus pulmões se expandirem, cheios de ar, e concluí que estava literalmente segurando a respiração até aquele momento. Eu apoiei as mãos nos joelhos e respirei fundo, um alívio sem tamanho tomando conta de todo meu corpo, fazendo meus dedos tremerem. – Fica calmo, ele está bem, tá tudo certo, não tem nenhum risco de vida. – Lúcio já estava ao meu lado àquela altura, dando tapinhas nas minhas costas. 

  Eu nem respondi, procurei a cadeira mais próxima na sala de espera e me sentei, apoiando os cotovelos nos joelhos, esperando a ânsia de vômito passar.

- Oi, Ari, está tudo bem, não precisa vir. Ele só quebrou um braço e fraturou uma costela. – Era a voz de Lúcio, novamente ao meu lado. – Não é tão grave quanto parece, os médicos disseram que ele não vai precisar ficar internado e não precisou de cirurgia. Ainda não consegui vê-lo, estão terminando de engessar o braço, mas disseram que só mais uma meia hora. O Sebá está aqui, ele tá morrendo, acho que possivelmente tendo uma parada cardíaca. Calma, eu tô brincando! Ele não está muito em condições de conversar, melhor você ligar pra ele depois. Avisa o Noah e o Téo? Tá, beijo, até mais.