Capítulo 7 [Sebá]

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- Cara, você vai rasgar o saco de areia! – Ouvi a voz de Juliano sobreposta ao barulho dos meus punhos se chocando contra o tecido e, na mesma hora, parei o que estava fazendo e virei para ele com cara de poucos amigos. – Nossa, só um conselho de brother, da próxima vez eu deixo você estragar o aparelho para eles descontarem do seu salário!

Juliano, como eu, trabalhava como personal trainer naquela academia, nós dois éramos, vamos dizer, amigos. Eu geralmente não fazia amizades no local de trabalho, mas o cara era muito gente boa e não sabia ser ignorado.

- Eu já acabei. – Resmunguei, me afastando do saco de areia para pegar minha garrafa de água. – O que você está fazendo aqui? Não é sua folga?

- Tô cobrindo para o Jonathan. Ei, depois daqui vou tomar uma cerveja com os caras, você não topa ir junto não? 

- Não, valeu, eu ainda tenho aula de Aikido mais tarde.

- Sempre uma desculpa.

Eu o ignorei, voltando para a área dos aparelhos da academia, tinha uma aluna marcada para as 17:30 e já estava quase no horário. Enquanto esperava, me sentei em um dos aparelhos e fiz algumas séries.

Desde que eu era criança, sempre fui obcecado por artes marciais, provavelmente influenciado por meu pai, que era fanático por Karatê e judô. Ele assistia às competições nacionais e internacionais, torcia vigorosamente, e eu me empolgava, adorava vê-lo tão animado. Como eu, ele era um homem grande e forte e, desde cedo, me ensinou a não levar desaforo para casa. Quando voltei para casa com meu primeiro olho roxo, aos sete anos, ele perguntou quantos roxos eu tinha deixado no outro menino.

Minha mãe, é claro, enlouquecia com isso, mas não havia muito que ela pudesse fazer, eu era muito parecido com meu pai. Ainda criança, ele me matriculou no judô e no karatê e, para alívio da minha mãe, esses esportes ensinavam disciplina e controle e não violência. Já um pouco mais velho, eu tinha muita força e muita, muita raiva, então todo aquele aprendizado sobre autocontrole veio a calhar.

Depois do Karatê e Judô, eu comecei a participar de outros esportes no colégio, como natação, futsal e basquete. Mais velho, também comecei a treinar Aikido e Muay Thai. Eu adorava fazer exercícios, eu conseguia me esquecer de absolutamente tudo quando estava treinando, além de ser a maneira mais prática de extravasar toda a raiva e o stress. Por esse motivo, eu cursei faculdade de educação física e hoje toda minha vida girava em torno disso.

Eu sempre achei que um homem de verdade tinha que saber se defender, que ele tinha que ser forte e se impor, meter medo nos outros. Irracionalmente, eu tinha raiva desses caras fracotes e afeminados que apanhavam na minha escola sem conseguir revidar, sem conseguir se defender. 

Desde cedo, eu já sabia que era gay. Desde cedo, também, eu sabia que por esse motivo eu poderia ser motivo de piada na escola, então sempre fui discreto e na minha. Por consequência, preferia me relacionar com caras como eu. Discretos, másculos, caras fortes e grandes, eu gostava de fazer com eles o que eu quisesse entre quatro paredes, porque eles aguentavam, e gostava também de ser tratado da mesma forma. O sexo, para mim, era quase como uma luta, uma briga por dominância.

Eu pensava assim e ignorava a existência de outros caras até meu último ano do colégio, quando conheci o Ariel. Ele foi o primeiro agente de mudança na minha vida. Quando eu o via sendo torturado pelos meus colegas, o sangue me subia à cabeça, eu sentia necessidade de protegê-lo. Ele era pequeno, ao meu ver, tinha menos de 1,70m com certeza. Seu rosto era delicado, diria até que andrógino, e naquela época ele era muito, muito magro, hoje ele pelo menos tinha um pouco de massa muscular. Eu não conseguia ter raiva dele, eu queria protegê-lo. E foi o que eu fiz.

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