i'm not a heather

Contagem regressiva( uma semana)

- Falta uma semana para seu grande dia!- Heather, a noiva de meu amado, sorri. Não faltava só uma semana para o casamento como também faltava uma breve semana para eu perder minhas esperanças, porque... a esperança pode ser a ultima que morre, mas ela morre, né?

- Eu sinceramente estou bem nervosa com tudo isso, eu e o Tae somos tão novinhos e já encontramos um ao outro, acho que sou sortuda- A maldita, desgraçada, incongruente vontade infernal de chorar me atinge, mas não farei isso aqui. Estamos dando uma olhado no vestido, ela fica perfeita nele. Cheguei ao pensamento vergonhoso de me imaginar no lugar dela, não usaria um vestido, usaria um terno branco. Imaginar-me casando com Taehyung vem se tornado frequente nesses últimos dias.

Heather já havia tirado o belo vestido branco. Em culturas cristãs o vestido branco simboliza a pureza da mulher, ou seja, a virgindade. Pensar sobre a simbologia do vestido só me fez refletir que as tradições de "preservação para o casamento" não são mais respeitadas. Mas eu não sou um conservador, se estivesse no lugar de Heather teria me entregado no primeiro encontro para Taehyung, eu sei que ela não fez isso porque ele me contava o desenvolvimento do seu relacionamento, mas eu me entregaria facilmente ao seu sorriso ladino.

-Eu queria que você me ajudasse com meus votos- a loira me pede docemente

-Mas esse tipo de coisa é muito pessoal e vocês são um casal, acho que não saberia te ajudar -na verdade eu conseguiria até mesmo falar por ela, declarar-me em seu lugar, não para ajuda-la. Eu ensaio esse discurso há muito tempo, algo como: " eu quero que você tome uma atitude? ou preferia uma vida de desejos não realizados desde que seguíssemos com esses joguinhos de pingue-pongue: não saber, saber, não saber, saber?" me chame pelo seu nome, de André Aciman faz- me pensar que o mundo é recheado de palavras poéticas até mesmo na falta de reciprocidade.

–jeon, você é o melhor amigo dele- "melhor amigo" passei a odiar essa expressão- claro que você saberia me ajudar, por favor eu sou péssima com as palavras- insistência me fez ceder, de qualquer forma eu quero que meu hyung receba belas palavras, mesmo que não sejam ditas por mim.

Já estava perto do almoço, então fomos ao shopping mais próximo para comer um fast-food, sei que não é muito saudável porém estamos com pressa. Depois saímos em direção ao seu apartamento, ela queria fazer os votos logo para se desocupar e eu não tinha nada para fazer no momento.

Já dentro do local pense em como me preparar psicologicamente para o casamento, parece que a ficha ainda não caiu e eu estou apenas tendo um terrível pesadelo, a vontade de chorar me invade outra vez. Heather Underwood, a querida noiva, aparece com um belo suéter lilás grande demais para ela, mesmo ele sendo relativamente alta. Reconheço aquele suéter, como não reconhecer? a qualidade nível poliéster, um pequeno rasgo no ombro esquerdo datava sua velhice, era o "meu suéter". Taehyung havia me emprestado em uma tarde chuvosa, na época ele não tinha rasgos e a cor era mais viva, eu lembro de suas gentis palavras " fica melhor em você" eu me iludi por anos com essas palavras.

- gostei do suéter-disse dando um riso no final, talvez para descontrair o fato de eu ter ficado um bom tempo olhando para a peça de roupa.

--ah, essa coisa velha? Tae deixou aqui, é confortável- disse ela descontraidamente. Eu queria puxar seu rabo de cavalo mal feito, como ela ousa chamar aquele suéter de "coisa velha"? sei que talvez ele só importe para mim, ou que quando estamos apaixonados acabamos nos apegando a qualquer ato de bondade dessa pessoa para conosco, eu sei que é essa a minha relação com esse suéter. Eu estou terrivelmente machucado por conta de uma peça de roupa?

- então... Você fala suas ideias e eu vou escrevendo- ela se senta no chão e apoia um caderno na mesinha da sala, sento à sua frente.

-me diz algo sobre vocês que você queira colocar nos votos-eu não faço a mínima ideia do que falar, os votos são inteiramente dela, se eu fosse escrever faria com meus sentimentos.

- bem... eu gosto do fato da gente ter se conhecido na mesma faculdade, eu acho ele muito bonito e gosto de sua personalidade- ela disse como se não fosse obvio, acho que só estou implicando tanto com ela porque queria ser ela, estar em seu lugar.

–ah sei lá... Nossa historia de amor começou no ensino méd- digo, na faculdade. Eu valorizo o tempo que estamos juntos, parece que somos amantes de vidas passadas, compartilhamos nossas frágeis verdades em noites doces... gosto da sua aparência, apesar de que sua personalidade foi o que me conquistou, o seu sorriso... se eu precisasse te comparar à algo, seria um papagaio azul, mesmo sendo eu que voei até você. Eu quero poder acordar e receber o seu bom dia preguiçoso, fazer um suco de laranja porque você detesta café...– eu travei quando percebi que estava viajando em meus pensamentos, malditos pensamentos–eu acho votos algo tão brega

- eu também acho, mas você parece saber o que falar, você esta.. apaixonado?- assustei-me com sua fala, aqueles sustos de franzir a testa e arregalar os olhos –quem é ela? eu conheço? se quiser eu posso te ajudar- falou extremamente animada.

- eu não gosto de ninguém, talvez essas coisas não sejam para mim- falei soltando um risinho.

ficamos até umas quatro da tarde tentando produzir seus votos, eu nunca entendi o sentido disso. Com base no que acho que escrevemos eu vou ter que ir para o casamento alcoolizado ou chapado, será interessante ver ele se casando, de terno e falando coisas bonitas a outra pessoa. As pessoas em que confiei para contar sobre meu amor por Taehyung sempre me falaram que iria superar, superar alguém que simplesmente me salvou da minha timidez e que foi minha "única pessoa" por muito tempo, superar a vez em que bebemos demais e ele me beijou, superar alguém que eu falo todos os dias, superar as noites de pesadelo e os abraços...Sem ao menos perceber me vejo chorando dentro do carro, eu nunca me questionei se ele poderia gostar de mim um dia, me sinto um adolescente que tem sua primeira paixão.

Isso tudo me faz recordar da vez em que notei estar apaixonado. Não foi em uma troca de olhares ou um abraço, nenhum momento de estremo clichê afetivo. Eu percebi estar 'perdidamente apaixonado quando o vi do outro lado de uma avenida admirando uma vitrine de um brechó, foi automático a sensação de paz e frio na barriga, teve muitos momentos após esse. A verdade é que pensar nele me trás paz e estrema euforia ao mesmo tempo.

acho que vou encontra-lo agora, preciso da minha paz e euforia, preciso de seus sorrisos quadrados. Mudei a direção do carro em sua direção.